Especulação II - A manipulação patrocinada dos preços dos ítens de coleção, em numismática


''Nas prisões, estão os criminosos menos inteligentes ou mal equilibrados. Os outros, muito mais numerosos, vivem em liberdade, e andam intimamente misturados com a multidão, que disso não se admira. Estes indivíduos não possuem senso moral. Para eles, a posse da riqueza é tudo e para obtê-la, tudo se justifica. São os criminosos protegidos pelos políticos e respeitados pela polícia. Usam sua inteligência para procurar nas leis, as falhas do sistema para que possam usá-las em seu benefício.
Alexis Carrel

Extremismos à parte, bem é verdade que, no nosso país, a cultura da malandragem e do jeitinho se espalharam como praga na lavoura. Hoje, no Brasil, quem é enganado deixa de ser vítima e passa a ser chamado de tolo, otário. Quem enganou, por sua vez, ao invés de estelionatário, criminoso ou velhaco, é admirado e chamado de "esperto", eufemismo usado para quem é desonesto, malandro e sujo, na terra onde a máxima, o argumento predileto dos enganadores como justificativa para sua conduta torta, se resume à Lei de Gérson (coitado! ... creio que ao saber que o seu nome foi associado à velhacaria, por causa daquela propaganda de cigarros, não deve ter ficado muito contente). 

Nota: Na cultura midiática brasileira, a Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa ou empresa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.


COMO GANHAR MUITO DINHEIRO COM CATÁLOGOS DE MOEDAS E DE CÉDULAS

As formas de se ganhar dinheiro, editando catálogos de produtos, são várias. A mais simples e lógica, que não fere a ética comercial, é valorar os artigos em base aos preços praticados, e seguindo as tendências do mercado, naturalmente. Por esse motivo, algumas empresas deixam bem claro que, seguindo príncípios de ética e transparência, não comercializam os produtos que relacionam, com preços, em seus catálogos, num determinado país. E isso tem uma lógica simples: Se você comercializa, por exemplo, diversos ítens de coleção como moedas e cédulas, ao editar catálogos desses ítens, você pode, ao seu bel prazer, manipular os preços a seu favor, seja "dando valor baixo ao que quer comprar", seja "dando valor alto ao que deseja vender por possuir estoque muito grande".

1. A especulação servindo à venda direta - Nesse caso, o editor do catálogo se beneficia diretamente das valorações dos ítens, em seu periódico. Em outras palavras, o editor é também comerciante; vende diretamente ao conumidor ou compra o que deseja, baseado, exclusivamente, nos preços listados em suas publicação.

Exemplo: Imagine que o editor/comerciante tenha um grande estoque de moedas de 960 Réis, ou de cédulas de 50.000 Cruzeiros Reais (a baiana), acumulado durante anos. Com base na filosofia "ambição é poço sem fundo", o editor/comerciante coloca a ética de lado e passa a aumentar, a cada edição, os valores desses ítens. Que maravilha, não (?), se todas as moedas e cédulas só aumentassem de preço, como sugerem algum(s) "catalogo(s)", creio que todos os brokers deveriam abandonar as bolsas de valores e passarem a se dedicar, em tempo integral, somente à numismatica. 
Wow!!! Imaginem só um ativo que só aumenta de preço!🙄... Nem o ouro, a prata, os diamantes, as ações da Coca-Cola ou as obras de arte conseguem essa façanha.

Um dos ítens que mais tem sido alvo da especulação em "listas de preços" de moedas, e em sites de editores que também comercializam ítens da numismática, é o $500 Réis da série conhecida como Vicentinas (figura a seguir). No catálogo das moedas brasileiras de Kurt Prober, esse ítem leva o número L-2013, sendo cotada a CR$ 500,00 Cruzeiros
Para se ter uma idéia de preços, basta dizer que, no mesmo catálogo de Kurt Prober, o ítem P-1650, moeda de 1.000 Réis, do terceiro sistema (segundo Império), cunhada por D. Pedro II, em prata 916,7‰, de 4º Tipo (busto), do Decreto de 1870 (nº 1.817, de 3/9/1870) que fez retorno ao peso e título anteriores, data 1877, é valorada por CR$ 1.250,00 Cruzeiros, ou seja: mais do que o drobro da moeda conhecida entre os neófitos com o nome de "coletinho".

Contudo, inexplicavelmente, numa conhecida e popular lista de preços, vendida no Brasil, a coisa se dá de modo inverso. A moeda de prata do terceiro sistema, no valor 1.000 Réis, com a data 1877, é cotada em R$ 300,00 Reais, no estado de conservação FDC. Já a moeda conhecida como "coletinho", em bronze-alumínio, muito mais comum do que a moeda de prata citada, recebe a valoração extremamente generosa de R$ 850,00 Reais, praticamente o tripo do 1.000 Réis de prata 1877.

Resumindo: Para Kurt Prober, a moeda de 1.000 Réis de prata, datada 1877, vale mais do que o dobro do tal "coletinho". Já numa atual lista de preços se dá justamente o contrário: a moeda conhecida dos neófitos com o nome de "coletinho", vale quase o triplo do 1.000 Réis supracitado, muito mais difícil de se encontrar, principalmente em estado de conservação FDC.

Figura: Um dos principais ítens, alvo da especulação sistemática, praticada em sites, no Mercado Livre e no Facebook. Trata-se do $500 Réis, do conjunto conhecido como "Vicentinas, moedas comemorativas do 4º Centenário da Colonização do Brasil que teve início após a pré-colônia, em 1532, com a fundação de São Vicente, daí o noem "Vicentinas". Foram confeccionadas em 1932 e assinadas por Leopoldo Alves Campos, Arlindo Bastos, Hermínio José Pereira, Basílio Nunes, Walter Rodrigues Toledo e Calmon Barreto. A série completa foi apresentada nos valores de 100, 200 e 400 réis em cuproníquel, 500 e 1.000 réis em bronze-alumínio e 2.000 réis em prata, e são as primeiras moedas cunhadas na era Vargas.
Figura: 1.000 Réis, data 1883, do terceiro sistema (segundo Império), cunhada por D. Pedro II, em prata 916,7‰, de 4º Tipo (busto), do Decreto de 1870 (nº 1.817, de 3/9/1870) que fez retorno ao peso e título anteriores. Na data 1877,  essa moeda é valorada no catálogo de Kurt Prober, por CR$ 1.250,00 Cruzeiros, mais do que o drobro da moeda conhecida entre os neófitos com o nome de "coletinho". Inexplicavelmente, numa conhecida lista de preços vendida no Brasil, a coisa se dá de modo inverso. A moeda de prata do terceiro sistema, no valor 1.000 Réis, com a data 1877, é cotada em R$ 300,00 Reais, no estado de conservação FDC. Já a moeda conhecida como "coletinho", em bronze-alumínio, muito mais comum do que a moeda de prata citada, recebe valoração extremamente generosa de R$ 850,00 Reais, praticamente o tripo do 1.000 Réis de prata 1877.

2. A especulação servindo à venda indireta - Nesse caso, o editor/comerciante sustenta o preço dos artigos, mas não os vende diretamente ao público consumidor. Tendo um estoque exageradamente alto de moedas e cédulas de um determinado tipo, o editor/comerciante os vende no atacado, dando suporte ao revendedor, valorando ao absurdo, o que vende a eles.

Exemplo: O revendedor compra do editor/comerciante uma determinada quantidade estabelecida como mínima (em geral, 10 unidades). À medida que compra cada vez mais, o preço para o revendedor, desce. Digamos que eu queira comprar 50 "coletinhos" para revendê-los com um ganho fantástico. Discuto com o editor/comerciante, que tem um bom estoque, um preço bom (no caso do tal coletinho, 50 peças trocam de mãos, facilmente, por R$ 120,00 Reais cada, num total de R$ 6.000,00 Reais). Esse revendedor, a fim de girar rápido o capital investido, vende a metade (25 peças), a quem não conhece a fonte que o abastece, por 300 reais e logo de cara recupera o que gastou e ainda lucra R$ 1.500,00 Reais.
Todos são sustentados pela lista de preços e pelos sites dos editores/comerciantes, que mantém o preço de R$ 850,00 Reais para essa moeda.

Agora vem o melhor de tudo, como dizem os italianos "il più bello dell'imbroglio: Como as mais populares listas de preços, no Brasil, induziram as pessoas a imaginarem que os preços só aumentam, e sempre - o que é sustentado a cada edição do que publicam - comprar estas moedas significa investir no melhor título financeiro do planeta, já que nunca descem de preço e só fazem aumentar. Durante o boom das Olimpíadas, muitos fizeram a festa com o tanto que ganharam nesse esquema. Tanto que, do nada, um pequeno comerciante conseguiu, com o que ganhou, montar uma concessionária de automóveis. Contudo, como não conhecia patavinas desse ramo, acabou indo à falência.

Nota: A essa altura, as pessoas mais esclarecidas devem ter entendido porque estão tentando, de qualquer jeito, queimar as nossas pubçicações. Os motivos são simples:

1. Como não comercializamos moedas e nem cédulas no país em que publicamos os nossos Catálogos, fica evidente que não temos nenhum interesse em manipular preços. Certamente que, por uma questão de ética e honestidade, jamais o faríamos. Contudo, a decisão de não oferecer ao público em geral, moedas ou cédulas brasileiras, reforça o nosso compromisso de transparência e honestidade ao listar os preços das moedas e cédulas brasileiras. Você vai ouvir essas pessoas dizerem aos 4 ventos que "o que regula os preços é o mercado", principalmente quando o argumento usado peal contra-parte é o nosso catálogo. Estas mesmas pessoas, quando querem vender, postam imagens da lista de preços que os favorece. Então, o pavor deles é que cada vez mais pessoas comprem nossas publicações, e conheçam as cotações reais das moedas e das cédulas brasileiras. No início não compreendemos bem os motivos que levaram alguns comerciantes a não mais publicarem seus anúncios em nossas excelentes publicações e porque não querem mais vender nossos catálogos. Os motivos são bastante óbvios. Os mais exaltados, vendo seu "bico" ameaçado, chegam a nos enviar mensagens com ofensas e ameaças. Um nosso concorrente chegou ao absurdo de dizer: "quem anunciar ou comprar o catálogo desses "fdps" (sic), não anunciam mais no nosso e nem irão comprar mais moedas no atacado". Nosso país realmente precisa mudar. Lamentável!

2. Nossos catálogos são publicações didáticas, instrutivas, impressos em papel couche da melhor qualidade, hoje realizados em gráfica brasileira, detentora de diversos certificados ISO. Basta folhear uma das nossas publicações, para ver como tratamos o assunto, com paixão, muito amor, profissionalismo, dedicação e, principalmente, com um profundo respeito pelos leitores.

Para concluir, iremos mostrar uma outra forma de se ganhar muito com a edição de listas de preços. À parte os métodos supracitados, existe uma outra forma de se ganhar, e muito, editando listas de preços, principalmente quando se tornam populares, devido ao tempo em que vem sendo publicadas.
Essa "estratégia" consiste em comprar barato o que vale muito

Exemplo:  A moeda cúprica, de X Réis, cunhada na Casa da Moeda de Lisboa, na data 1805, com a coroa alta e sem carimbo de escudo, é única até o momento (da mais alta raridade). Contudo, a mais popular lista de preços de moedas brasileiras a tem cotado em míseros R$ 300,00 Reais para a coluna MBC, e em R$ 700,00 Reais para a coluna SOB, sendo que esta moeda em estado soberbo nem mesmo existe, já que o único exemplar conhecido até hoje se encontra no estado MBC.
Na figura acima, X Réis da Casa da Moeda de Lisboa, sem letra monetária, data 1803, com a coroa alta, sem carimbo de escudo. Anv:  JOANNES . D . G . P . ET . BRASILIÆ . P . REGENS. Valor X entre florões e data entre pontos, dentro de colar de pérolas, encimado por coroa real. Rev: PECUNIA . TOTUM . CIRCUMIT . ORBEM. Esfera armilar sem letra monetária. Até o momento, essa moeda é considerada única (da mais alta raridade). Contudo, a mais popular lista de preços de moedas brasileiras, a tem cotado em míseros R$ 300,00 Reais para a coluna MBC e em R$ 700,00 Reais na coluna SOB, sendo que esta última (moeda no estado SOB), nem existe, já que o único exemplar conhecido se encontra no estado MBC.

Assim, caso algum neófito ofereça essa raríssima peça ao editor/comerciante, no estado MBC, certamente ele irá abrir a sua lista de preços na página em que se encontra cotada essa peça e dizer: "Veja! Eu vendo por R$ 300,00 Reais", e dando uam de bom moço, concluir dizendo: "Como eu sou honesto com todo mundo e não sou ganancioso, te pago R$ 250,00 por ela". Foi assim que um comerciante comprou de um neófito, um raríssmo (único) ensaio em cobre por R$ 150,00 Reais e o vendeu, em leilão, por R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil dólares).


O CASO DA MOEDA DE 50 CENTAVOS, SEM O ZERO 


Não se deixem enganar! Um grupo de oportunistas está promovendo leilões em que um deles coloca a peça, e os outros dão lances altos para aumentar os preços e induzir as pessoas ao erro, ao engano. Essa é uma das fórmulas preferidas dos malandros para enganar os incautos.

Conhecem aquele jogo (armadilha) das 3 forminhas e uma bolinha de cortiçaa, que os malandros (em geral ex-presidiários) usam para tomar dinheiro de ingênuos? Pois é! O esquema é parecido. Se você  é  observador, irá notar que 2 ou 3 malandros dão apoio ao "imbroglio", ou fingindo apostar e ganhar sempre (isca), ou recebendo a grana e vigiando a chegada da polícia.

Percebam que bastou eu denunciar a especulação sobre aquela moeda dos "50 centavos sem o zero" e logo abriram leilões e rifas, com os "puxadores" dando lances de 700 e 750 reais. Só  mesmo um trouxa para cair nessa esparrela. A coisa é tão evidente que logo aparece um, dizendo "fui eu que dei o lance...estava faltando na minha coleção". Outro escreve "estou atrãs de uma beleza como essa"......rs.....chega a ser cômico.
Eles imaginam que todos são estúpidos e só  eles são "espertos", no Brasil, eufemismo de desonesto.

Não caiam nessa esparrela. Essas pessoas não são numismatas. Apenas encontraram um filão, como o da bolinha nas conchinhas, para tomar dinheiro dos desavisados. Recentemente um deles (R.C.) deu uma mancada e, num mesmo tópico, escreveu que "Não gosta da numismatica, e que nada entende do assunto", ao mesmo tempo em que se achou no direito de valorar a cédula da baiana em 800 reais, dizendo para as pessoas se apressarem em comprar, alegando que seria um erro não comprá-la a esse preco, pois segundo ele (que admite não entender nada do assunto) "o preço da baiana vai subir".😏

Para piorar, essas pessoas estão contando com o apoio de um comerciante antigo, que está  fornecendo estas peças a preço muito baixo para quem compra em quantidade superior a 10 unidades. Que maravilha, não!? Imagine que nós, editores de catálogos, tivéssemos 3.000 "coletinhos" FDC. Bastaria colocar o preço a 850 reais, por exemplo, e oferecer a esses revendedores a 150 ou 200 reais, defendendo da quantidade que comprassem, sustentando os preços de venda aos neófitos, usando o nosso catálogo.
Iríamos vender catálogos aos montes e moedas comuns também.

Nada contra quem comercializa moedas (nós tambem somos comerciantes). Só  que existe um limite, a ética que não está sendo respeitada por gente sem escrúpulo, que nem quer saber se essa conduta torta é um dos principais motivos a contribuir para a tremenda crise no setor.

Fim do artigo.