Heliogábalo "damnatio memoriae"


Marcus Aurelius Antoninus Augustus, nas epígrafes : IMP • CAES • M • AVR • ANTONINVS • PIV • FELIX • AVG. Nascido como Sesto Vario Avito Bassiano (Sexto Varius Avitus Bassianus ) mais conhecido como Heliogabalo ou Elagabalus (Heliogabalo ou Elagabalus), foi um imperador romano, pertencente à dinastia Severa ou dos Severos, tendo reinado de 218 a 222 d.C., o ano de sua morte.
Ao contrário do que muitas literaturas afirmam, não nasceu no ano de 203, em Roma, mas sim no ano de 204 d.C., em Emesa, cidade a oeste da Síria, o que o coloca como sírio de nascimento.

Filho de Sesto Vario Marcello (de origem síria, da ordem dos equestres) e de Giulia Soemia Bassiana, também de origem síria, mulher de caráter forte, determinada e obstinada, neta do imperador Septímio Severo e prima de Caracala, foi proclamado imperador por direito sucessório. 

“Heliogábalo” deriva de El-Gabal, duas palavras siríacas, El (“D-us”) e Gabal (conceito associado a “montanha”), que significa “o d-us que se manifesta em uma montanha”, uma clara referência à divindade solar - da qual era um sumo-sacerdote, em Emesa, sua terra natal - representado por um betil (uma pedra sagrada). O nome “Heliogábalo” nunca foi usado por Avito Bassiano. Marcus Aurelius Antoninus Augustus, nome que adotou quando se tornou imperador é o oficial. O nome pelo qual hoje é conhecido, não era adotado nem mesmo por seus contemporâneos, citado apenas a partir de uma fonte do século IV, e a partir de então, conhecido por essa “alcunha”. 

Excepcional e raro aureo de Elagabalus. Anverso: Busto armado de Heliogábalo direito, laureado e coberto. Legenda: IMP CAES M AVR ANTONINVS AVG. Imp (-erator) Caes (-ar) M (-arcus) Aur (-elius) Antonino Aug (-ustus). Reverso: Elagabalo laureado, de pé,, avançando à direita, em trajes militares, segurando uma lança transversal com a mão direita; à direita, um soldado de pé, cabeça virada para a esquerda, olhando para o imperador, segurando um estandarte e um escudo; à esquerda, outro soldado avançando por trás do imperador, segurando um estandarte. Legenda: FIDES MILITVM. 218-219 d.C., 7,53 gramas, Casa da Moeda de Roma.

Com o apoio de sua mãe, Giulia Soemia, e de sua avó materna, Giulia Mesa, aos quatroze anos de idade, foi aclamado imperador pelas tropas orientais, em oposição ao imperador Macrino, derrotado e morto na batalha.

Em 217 d.C., o imperador Caracalla foi assassinado. Seu sucessor, Macrino, permitiu o retorno da família em Síria, com todos os seus bens, ato de clemência que demonstrou pecar por inobservância estratégica, haja vista que a família de Septímio Severo iria tentar recuperar o poder. 

Sua mãe, Giulia Soemia, com a ajuda da avó materna, Giulia Mesa, organizou uma trama com o propósito de colocar no trono imperial o filho, Vario Avito Bassiano, à época com apenas treze anos de idade. Para obter o apoio dos legalistas, espalhou-se a falsa notícia de que Bassiano era o filho natural de Caracalla, cuja memória ainda guardavam zelosamente os soldados do império romano, gerando um “racha” no poder que ficou dividido entre os que apoiavam Macrino e os que se colocavam ao lado de Avito Bassiano, de sua mãe e da avó materna. Macrino foi derrotado e morto em batalha (218 d.C.), pelo General Gannys de Emesa, amante de Giulia Soemia, a mando da tia do futuro imperador. Dessa forma, Avito Bassiano sobe ao poder, adotando o nome de Marcus Aurelius Antoninus Augustus. Em sua entrada triunfal em Roma, o novo imperador tinha ao seu lado, a mãe e a avó.

Marcus Opellius Macrinus (Macrino) nasceu em 165 d.C., em uma família equestre de classe média. Sua educação permitiu que ele ascendesse à classe política romana e, com o passar dos anos, tornou-se um advogado muito capaz, um importante burocrata sob o governo de Septímio Severo.
Após a morte de Severo e a ascensão de Caracalla, Macrino tornou-se prefeito da Guarda Pretoriana. Esta posição era segundo no comando ao imperador colocando-o naturalmente, na condição de guarda-costas dos imperadores.

Em 217 d.C., juntamente com membros da guarda pretoriana, Macrino acompanhou Caracalla às províncias orientais enquanto preparava seu ataque contra o império parta (império Arsácida, uma das principais potências político-culturais iranianas da Pérsia Antiga). Ao longo do caminho, Caracalla foi assassinado por um dos guardas e, menos de uma semana depois, Macrino se aproximou para se proclamar imperador. Nomeou seu filho Diadumenianus como César e afirmou que ele lhe sucederia após sua morte.

Durante o seu reinado, era conhecido por sua relutância em se engajar em conflitos militares e, preferindo conciliar as diferenças de maneira pacífica. Fez retornar reféns anteriormente mantidos por Caracalla, mas quando derrotado em batalha pelos partos, foi forçado a pagar uma quantia extraordinária de dinheiro em troca de um acordo de paz.

Sua incapacidade de derrotar um exército, considerado inferior pela maioria, juntamente com a diminuição de benefícios e salários entre os soldados, levou a tropa a procurar um novo líder. Os moradores de Roma também estavam insatisfeitos com seu reinado.

Depois que Heliogábalo foi proclamado imperador em 218 d.C., Macrino e seu filho fugiram, mas foram perseguidos, encontrados e executados. 

Marcus Opellius Antoninus Diadumenianus era o filho de Macrinus. Muito pouco é escrito sobre este governante, pois ele nunca conseguiu ir além do título que recebeu. Durante o reinado de seu pai, foi proclamado César e sucessor do trono. No entanto, quando Roma se voltou contra seu pai e as legiões da Síria declararam Elagábalo como o novo imperador, pai e filho foram executados e a cabeça de Diadumeniano, cortada e apresentada como um troféu ao imperador menino.

Denário de GIULIA MESA, avó materna de Elagabalo (218-222 d.C.) e de Alessandro Severo (222-235 d.C.), Casa da Moeda de Roma, c. 218-223 d.C. (19 mm - 3.15 gr.), Cohen 36.
Denário de GIULIA SOEMIA, mãe de Heliogábalo (218-222 d.C.)
Giulia Soemia tornou-se de fato a dama do império, já que o jovem adolescente estava interessado principalmente em assuntos religiosos. Sob a influência de sua mãe, o jovem imperador instituiu o chamado Senaculum Mulierum (senado de mulheres), sob o comando da genitora. O senaculum reunia-se, principalmente, para tratar sobre enfeites, roupas e etiqueta. Anteriormente, segundo a Historia Augusta, existia um congresso de matronas (conventus matronarum), ativo apenas durante certos feriados religiosos, ou por ocasião do casamento de uma matrona com um homem importante, de “rango superiore”, em geral um posto consular, concedido uma vez pelos imperadores aos seus familiares, de modo que quando a matrona se tornasse viúva, não perderia a sua posição de nobreza, mesmo em caso de casamento com homens não nobres. A Historia Augusta pinta negativamente a condução de Soemia no senaculum :
“Mas agora, sob a influência de Symiamira (Soaemias) decretos absurdos foram emitidos sobre os regulamentos que as matronas tiveram que respeitar, isto é, que tipo de roupa que cada um deveria usar em público, quem deveria dar lugar e para quem, quem poderia beijar uma pessoa em público, quem poderia conduzir um carro ou andar a cavalo, uma besta de carga ou um burro, quem poderia dirigir um carro puxado por mulas ou puxado por bois, quem poderia ser transportado em uma maca, e se essa poderia ser feita de couro ou de osso ou coberta com marfim ou prata, e, finalmente, quem poderia usar ouro ou jóias em seus sapatos “.
O reino de Eliogabalo foi fortemente marcado por sua tentativa de importar o culto solar de Emesa em Roma e a oposição a essa política religiosa. O jovem imperador sírio, de fato, subverteu as tradições religiosas romanas, substituindo Júpiter , senhor do panteão romano, pela nova divindade solar "Invictus", que tinha os mesmos atributos do deus solar de Emesa; ele também contratou, como sumo sacerdote, um casamento com uma virgem vestal, que em suas intenções deveria ter sido o casamento entre seu próprio deus e Vesta .

A política religiosa e seus excessos sexuais (cinco esposas e dois maridos) causaram uma crescente oposição do povo e do senado romano, que culminou com o seu assassinato pelas mãos da guarda pretoriana e decisão de seu primo, Alexandre Severo. Eliogabalo também foi atingido pela “damnatio memoriae”. Seu governo ganhou uma reputação entre seus contemporâneos de excentricidade, decadência, depravação, degradação moral e fanatismo.

A historiografia moderna nos dá um quadro mais complexo, que nos induz ao contraste entre o conservadorismo Romano e o dinamismo do governante sírio jovem, sua incapacidade de se comprometer com as instituições e sua falta de compreensão da gravidade dos seus atos e a falta de responsabilidade e de solenidade no papel de Imperador. Seu reinado, no entanto, permitiu que a dinastia Severa consolidasse seu controle do império, permitindo-lhe preparar o terreno para o governo de Alexandre Severo.