Os preços das moedas de coleção

São frequentes as vezes que nos perguntam: Qual critério devo adotar ao adquirir uma nova moeda para minha coleção ?

É fato que em primeiro lugar está o amor pelo nosso hobby, mas devemos, e temos obrigação de ser honestos, em dizer que o argumento "investimento" é bastante relevante ao adquirirmos um novo exemplar. Ninguém gosta de “jogar dinheiro fora” ou ter a sensação de que, anos mais tarde, aquilo que possuímos possa valer menos do que pagamos no passado. Adquirir moedas para um acervo é assunto sério e, de forma alguma, deve ser feito improvisamente e sem critério.

Muitas vezes nos perguntam qual a melhor forma de escolher uma moeda que deverá assumir posição de destaque em uma coleção.
Os critérios são muitos, começando por adquirir moedas que façam parte de um tema, período ou metal que nos agrade. Mas sobre isto devemos planejar antes de iniciarmos uma coleção, de forma a que possamos estabelecer uma lógica dentro daquilo a que nos propomos. Podemos colecionar moedas por metal (ouro, prata, cobre, etc), por tamanho (moeda tamanho dólar, piastra, etc), pela cronologia (período em que reinou um determinado soberano, em um determinado país), etc.
Ninguém seria humanamente capaz de colecionar todas as moedas imperiais romanas ou moedas gregas, por exemplo, caso fosse um destes o critério adotado inicialmente (moedas romanas ou gregas). Por isso, quem se dedica a esta forma de colecionismo, o faz, escolhendo um determinado período da antiga Roma. Podem ser áureos e denários dos primeiros imperadores (os chamados 12 Césares) ou, no caso das gregas, as moedas cunhadas com a efígie de Hércules com manto de leão, obedecendo às diversas casas monetárias durante o período em que viveu Alexandre Magno ou mesmo adotando as efígies de animais de cada cidade estado na Grécia (Siracusa – golfinho; Atenas – coruja, etc).

Mas não é este o tema que pretendemos abordar ! A proposta é aquela de orientar o colecionador na hora da escolha, na compra de um novo exemplar para o seu acervo.

São várias as perguntas a serem respondidas e isto deve ser feito com sinceridade e honestidade.

1. Devo escolher uma moeda pelo preço estabelecido em um catálogo ou pela pessoa que a está vendendo?
2. Se encontro uma moeda que falta em minha coleção, mesmo estando em estado de conservação que não me agrada, devo comprá-la?
3. Existe grande diferença entre uma moeda soberba e uma flor de cunho?
4. Quando devo adquirir uma moeda em estado de conservação baixo?
5. Quais são os critérios para avaliar o grau de conservação de uma moeda?

Sempre que nos fazem estas perguntas, somos determinados em responder:

-Antes de tudo, devemos sempre adquirir moedas que se encontrem no melhor estado de conservação possível. Assim, se existe a possibilidade de adquirir uma moeda em estado de conservação “flor de cunho”, esta deve ser a nossa escolha. Isto porque as moedas em excelente estado de conservação são sempre as mais negociadas, procuradas e, consequentemente, valorizadas. Basta dizer que em leilões internacionais de que temos participado, a preferência por moedas em excelente estado de conservação é notável, enquanto as de que se encontram em precário estado, se oferecidas individualmente, não despertam o mínimo interesse; quando muio, são oferecidas em lotes contendo diversas delas, a preços muito abaixo do mercado da singular peça de prestígio. Este é um dos motivos pelo qual fazemos constar no nosso catálogo, na escala de conservação, o estado FDCe (flor de cunho excepcional), pois algumas moedas são consideradas acima daquilo que denominamos "flor de cunho". Sob essa ótica, a dúvida do neófito é quase sempre a mesma, pois acredita que esta classificação indique a moeda que jamais circulou, sem "bag marks" (marcas de contato). Quem é conhecedor do assunto, sabe, por exemplo, que existem diferentes graduações do estado FDC, fato desconhecido - ou mesmo ignorado - por alguns numismatas e comerciantes brasileiros. Um bom exemplo disso é a escala de Sheldon, usada na classificação da numária americana e que vem se espalhando por todo o mundo, graças ao trabalho de certificadoras como a NGC e PCGS que atestam, mediante pagamento, o estado em que se encontra uma determinada moeda.

Mas como saber, com certeza, em que estado se encontra uma determinada moeda?

Em primeiro lugar, o mais cômodo é que o exemplar esteja certificado por um expert, devidamente encapsulada em invólucro com seu código de barras. Na figura a seguir, um exemplo de moeda certificada.

Figura: Exemplo de moeda certificada (NGC). No anverso vê-se o sigilo de segurança com a logomarca da empresa certificadora. No reverso, o código de barras que permite ao usuário localizar no site da empresa a ficha catalográfica da moeda. Logo abaixo, o estado de conservação dado por perito avaliador que atestou a moeda como sendo MS62 que, na escala de Sheldon (vide figura a seguir ... clique na imagem para ampliá-la), corresponde ao flor de cunho um pouco acima da média. O exemplar acima, graças ao seu singular estado de conservação, foi vendido el leilão por US$ 10.281,24 dólares, o equivalente a pouco mais de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais), ao câmbio de hoje (21/01/2016).
As diversas graduações da escala Sheldon para o estado FDC (Mint State)
Clique na imagem, para ampliá-la.


O estado de conservação como variável de peso na cotação de um exemplar

As avaliações, sobretudo aquelas relativas às moedas em grau de conservação FDC, ou àquelas que não se vêem com frequência nas contratações comerciais, são suscetíveis de variações impostas pelo mercado. As cotações presentes no nosso catálogo, por exemplo, refletem a tendência do mercado até o final do segundo trimestre do ano precedente àquele a que faz referimento o manual. Sendo assim, os preços constantes do catálogo de 2015, dizem respeito aos preços praticados até o final do segundo trimestre de 2014, época em que são terminados os trabalhos de revisão e estampa.

As moedas perfeitas, com pátina de medalheiro e em estado de conservação excepcional são citadas em casos particulares, por nós avaliados como sendo necessários a título de referência de mercado, haja vista estas moedas atingirem preços particularmente elevados por seu estado de conservação e por sua beleza. 

Veja, por exemplo, a moeda a seguir. Não é a sua data ou a quantidade cunhada, a determinar a sua raridade, mas sim o seu conjunto, em particular a superposição de datas e o seu excepcional estado de conservação. Tudo somado, o exemplar da figura se constitui em moeda muito rara, alcançando cotação elevada e conferindo ao seu proprietário um significante retorno de capital investido. Enquanto algumas "moedas" permanecem com seus preços invariáveis no tempo, devido principalmente ao seu estado de conservação comum ou abaixo da média, exemplares com excepcional estado de conservação valorizam muito com o passar dos anos, configurando-se como um excelente investimento. Claro que irão aparecer outros exemplares no mercado, mas não como esse.

Figura: Interessante e raríssimo exemplar de 3.200 Réis da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, demonstrando que o cunho foi usado em três datas diferentes (data emendada). A primeira, 1754, onde se pode notar os traços do “4”. Em seguida, a data foi emendada para 1756, com os detalhes do “5” pouco visíveis. A última data, 1756, é a da moeda da foto acima. Essa moeda foi leiloada nos EUA, no mês de janeiro de 2011 (estado de conservação MS 65 - FDCE). A raridade do exemplar se deve não somente à própria moeda (são muito raras, no mercado, as moedas de 3.200 Réis), mas também ao seu excepcional estado de conservação e a particularidade das datas emendadas. A descrição do catálogo americano a define como “Gem Uncirculated”. Sem dúvida, um dos mais belos e raros exemplares de moeda brasileira que tem aparecido nos mercados nacional e internacional, nos últimos anos. Uma verdadeira jóia da nossa numismática. Foto e detalhes ampliados. Valor final de arremate: US$ 43,125.00. A seguir, a foto de anverso, ampliada.

O mercado numismático, assim como o das artes em geral, é influenciado por diversas variáveis, sendo a mais notável a lei da oferta e da procura. Assim, nada mais honesto e justo que dar ao leitor a cotação da época, baseando nossa avaliação na tendência do mercado; esta é a nossa filosofia. Essa "necessidade" de se alterar os preços de todas as moedas não corresponde à realidade. Em alguns casos, o preço de um exemplar pode permanecer inalterado ou mesmo sofrer um decréscimo de um ano para outro, fato que constatamos apenas em pouquíssimos catálogos. É o caso das moedas em estado precário, moedas limpas, adulteradas, datas comuns em estado comum. São exemplares que podem servir aos neófitos, aos iniciantes que não irão amargar grandes prejuízos, desembolsando cifras relativamente baixas em moedas que apesar de atenderem o quesito "colecionismo" não chegam a se configurar como um seguro investimento e consequente retorno do capital investido.



Vamos usar, como exemplo, três moedas de 960 réis (mesmo tipo, mesma data, mesma letra monetária. Enquanto a da extrema direita é considerada moeda comum e vulgar, as outras são invulgares em seu conjunto. Aqui é o estado de conservação a determinar as diferenças de preços. Enquanto o exemplar da extrema direita pode ser encontrado com facilidade no mercado, a preços na linha dos US$ 50 dólares, o da extrema esquerda (MS61) é uma moeda incomum, bem mais difícil de se encontrar no mercado se comparada com a moeda da extrema direita. A moeda do centro (MS63) quase se coloca no âmbito das raridades (raro não significa precioso) devido ao seu incomum e quase singular estado de conservação.
Fica evidente aqui, que os preços não se devem a data (comum), ou à Casa Monetária, mas ao estado de conservação, muito diferente quando comparados entre si. Enquanto a moeda da esquerda, por ser muito comum e encontrada aos milhares no mercado, não irá sofrer variações de preços com o passar do tempo, os outros dois, principalmente o da figura do centro, irão valorizar sobremaneira. Enquanto os US$ 50 dólares pagos na moeda da direita não chegam a ser um investimento, podendo inclusive configurar-se em prejuízo caso o proprietário queira se desfazer do exemplar, as outras duas, principalmente a do meio, são certeza de  um investimento seguro, com ganho certo.









O grau de conservação determinando a raridade:

Como dissemos em outras oportunidades, o que determian o grau de raridade de uma moeda não é apenas a quantidade de exemplares cunhados, a sua variante ou a sua "antiguidade". Todos estes fatores, aliados à lei da oferta/ procura, interesse e, também, ao estado de conservação da moeda formam o conjunto que determina o quanto um exemplar é raro.

Um exemplo de como o estado de conservação influencia no preço, pode ser dado por um exemplar do 2.000 Réis de prata, da República, data 1913A (estrelas soltas), leiloado recentemente nos EUA. Aparentemente uma moeda comum, em data única (1913), todas cunhadas na Alemanha (letra monetária A). A cotação para exemplares FDC é relativamente baixa, justamente por não ser difícil encontrá-los nesse estado de conservação (FDC). Porém, a moeda leiloada nos EUA, vai além do estado FDC. É classificada como PCGS Proof 67. Em outras palavras, é única, já que não se tem notícia de outra semelhante no mercado numismático.

Figura: República - 2.000 Réis 1913 A, em excepcional e único estado de conservação (PCGS proof 67), leiloado nos EUA em 2011, valor final de arremate: US$ 9.200,00. A série completa, composta dos demais valores, 1.000 Réis e 500 Réis, foi negociada no mesmo leilão, alcançando a espetacular cifra (para uma moeda comum) de US$ 19.219,50 para as três peças, sendo US$ 5.462,00 para o 1000 Réis e US$ 4.557,50 para o 500 Réis.

A regra deve ser: Não são as moedas (as genuínas peças de coleção) que devem se ajustar às vicissitudes da vida, às dificuldades financeiras das pessoas ou às crises econômicas de um país. As moedas de coleção, em estado de conservação superior à média, mantém seu preço de mercado, valorizando mesmo em períodos de crise.

Fim do artigo