O retrato de Adele Bloch-Bauer I
Óleo e ouro entremeados na imaginação criadora de um grande gênio da pintura. É uma das mais famosas obras-primas do genial artista simbolista, o austríaco Gustav Klimt, do período conhecido como "idade de ouro" (1905-1909). Retrata Adele Bloch-Bauer, mulher do industrial judeu, Ferdinand Bloch. A figura feminina encontra-se imersa em um drapeado de ouro e peças coloridas finamente esculpidas. Uma densa decoração em folha de ouro envolve e cobre todo o seu corpo. Em meio a todo simbolismo, ressalta aos olhos o rosto melancólico e precioso de Adele, que resume o contraste de ambiguidade entre o erotismo e a transitoriedade da vida, característica dos melhores retratos de Klimt que levou quase 3 anos para completar a obra.
O naturalismo é evidente no rosto e nas mãos de Adele, entremeados por ornamentos preciosos, espirais, triângulos e olhos estilizados, que se confundem com os contornos da figura, evidenciando, de forma muito sutil, a cadeira que contrasta com fundo. O efeito da abstração decorativa e refinada, presente no conjunto, é acentuado pelo uso abundante do ouro, em evidente referência às artes bizantina e egípcia, esta última no olho "Ugiat" (olho de Hórus*, personificado na deusa egípcia Uadjit, padroeira do Baixo Egito), fonte sagrada, símbolo de prosperidade, poder real e boa saúde, que compõem o vestido de Adele.
A arte Klimt rompeu com a tradição acadêmica do seu aprendizado, revelando um estilo muito pessoal,em que o artista misturava Art Nouveau e simbolismo. Paisagens e retratos são tratados pelo artista com um naturalismo original e estilo próprio, conseguidos através da utilização de elementos decorativos em duas dimensões de ouro que nos fazem recordar as pinturas de vasos de Micenas; gregos, egípcios, gravuras bizantinas e também japonesas, onde se redimensionam ritmos decorativos, harmonias de linhas orgânicas e formas geométricas.
A obra-prima (óleo e ouro sobre tela de 138 x 138 cm) foi comprada pelo magnata dos cosméticos Ronald Lauder que pagou US$ 135 milhões pelo retrato de Adele, em negociação privada com Maria Altmann (Maria Victoria Bloch), última herdeira da família Bloch-Bauer. O comprador declarou que que pretende "doar" a tela à Neue Galerie, um pequeno museu de arte alemã e austríaca, em Nova York.
O quadro, incluindo outras quatro telas de Klimt, estavam expostos no museu de Viena que se apropriou das obras de arte confiscadas pelos nazistas durante a segunda guerra mundial, No julgamento que viu como contrapartes, de um lado o Governo austríaco e do outro, os descendentes de Adele, o veredito dos juízes terminou favorecendo Maria Altmann, que decidiu deixar a tela em herança (após a devida compensação paga por Lauder) na Neue Galerie, em Nova York (as outras 4 obras de Klimt foram leiloadas em 2006 pela Casa de Leilões Christie's de Nova York, num montante de US$ 192,7 milhões de dólares, rapartidos entre os descendentes de Adele.
Alguns críticos e historiadores de arte acreditam que Adele Bloch-Bauer tenha sido a amante secreta do pintor por pelo menos 12 anos. O artista a retratou em 3 outras pinturas: as duas versões de " Judith I", ambos de 1901, onde o protagonista da passagem bíblica (Adele) segura a cabeça decapitada de Holofernes, tornando-se a heroína que liberta os judeus, e "o retrato de Adele Bloch-Bauer II" de 1912.
* Muitos confundem o "olho de Hórus", atribuindo ao simbologismo de Klimt o "olho de Rá" associado à punição e não à prosperidade.