Obsidionais - Primeira parte


Em meio à guerras, batalhas sangrentas, 
escaramuças, conquistas e perdas ..... 
um rei preocupado com seus domínios ... 
um nobre cavalheiro holandês e seus ideais ... 
e uma empresa comercial, tão aguerrida quanto 
avançada para sua época.

É nesse contexto que surge a primeira moeda 
com o nome da terra ... Não apenas isso; 
esse nome é gravado em OURO.


Nota: O texto a seguir é a primeira parte de uma série de três. Tem como objetivo esclarecer a legitimidade das cunhagens holandesas no nordeste do Brasil, durante a sua ocupação. Ao final da leitura da última parte, o neófito terá condições de compreender perfeitamente os motivos pelos quais as obsidionais batidas pelos holandeses durante sua permanência no território do Brasil colonial, são moedas brasileiras, devendo fazer parte do acervo numismático do nosso país. Não são moedas particulares da GWC e, muito menos fichas, argumentação, sem qualquer lógica que a justifique, defendida por alguns numismatas.
Ao final, o leitor encontra os links para a segunda e terceira partes. Boa leitura a todos.


INTRODUÇÃO

Em 1600, Amsterdam não passava de um remoto porto de pescadores. Apenas trinta anos depois, enquanto Jan Veermer engatinhava pelos corredores do casarão de Delft, e Rembrandt se afirmava como artista, as docas abundavam de seda chinesa, cobre, ferro e os novos vícios do momento, o açucar e o tabaco. Em apenas uma geração, Amsterdam havia passado de província fracassada à senhora da economia mundial, criando, por assim dizer, o primeiro "supermercado" do século XVII.

Grandes fortunas surgiram, rápida e espetacularmente. Os novos ricos - homens como Nicolaes Ruts, conhecido e rico mercador de peles de Amsterdam, na figura ao lado, retratado pelo mestre Rembrandt H. Van Rijn - não tinham a menor vergonha em exibir sua opulência e fartura. À beira dos grandes canais construíam casas elegantes, onde entravam todas as coisas boas e desejáveis da época; tudo que o dinheiro, muito dinheiro, pudesse comprar: Papéis de parede, couro, vestidos bordados com fios de ouro, jóias, prataria, cerâmica (Delft ficou famosa por sua produção artística de fino acabamento), quadros de grandes mestres, belíssimos espelhos em molduras folheadas a ouro "zecchino" e mapas, muitos mapas do mundo que estavam conquistando.

Nessa época, no Brasil recém-descoberto, o comércio interno era muito reduzido. As mercadorias eram trocadas por outras, num processo conhecido como “escambo”. Apesar da moeda ser, teoricamente, portuguesa, também circulavam moedas hispano-americanas e de outras nações, aceitas principalmente pelo seu valor intrínseco.

A moeda sonante (dinheiro amoedado) vinha, em sua maior parte, de Portugal. Em grande quantidade, contudo, eram as espanholas, cunhadas em solo europeu ou em suas colônias (moedas hispano-americanas). A Espanha era uma nação muito rica, possuidora de grandes reservas metálicas de ouro e prata, extraídas do seu vasto império colonial. De 1580 a 1640, tempo em que Portugal esteve sob o seu domínio, no Brasil Colônia circulava a moeda hispano-americana (o real), principalmente as cunhadas em Potosi (Bolívia). Eram de 1/2, 1, 2, 4, 8 reales equivalentes, naquela época, a 20, 40, 80, 160 e 320 réis, respectivamente.

Quando a Holanda ocupou o nordeste brasileiro em 1624, sob o seu domínio foi batida a primeira moeda no território nacional, com o nome BRASIL. Sua forma era romboidal, pequena, confeccionada em ouro; as primeiras, em 3 valores, nas datas de 1645 e 1646 e a de prata em um único valor datada 1654. Eram usadas principalmente para pagar os soldados e mercenários, no território ocupado. 

Com a derrota dos holandeses, em 1654, e a restauração do reino de Portugal, a Colônia retornou à política monetária portuguesa. A partir do Governo de D. João IV, no ano de 1643 as moedas de prata espanholas passaram a ser nacionalizadas, inicialmente carimbadas com um sinete real, nos valores de 480 e 240 réis, com o Alvará de 26 de fevereiro de 1643.

Vista de Delft (Jan Vermeer), em torno a 1660, poucos anos 
depois da capitulação dos holandeses no Recife.


As relações entre Portugal e os Países Baixos vem de longa data. Com a grande expansão ultramarina portuguesa, iniciada no final do século XV, o reino conquistou terras, alcançando riquezas, e possibilitando acesso a produtos então vitais para a economia européia. 

Entretanto, a notável centralização política  - Portugal foi o primeiro reino europeu a superar o feudalismo, com a centralização monárquica criada por D. João I - que no início serviu para impulsionar o país rumo aos descobrimentos, num segundo momento demonstrou ser um entrave ao capitalismo, visto ser de competência do Estado português investir no descobrimento de terras, na sua exploração e guarda, reservando-se à Coroa a posse dos "lucros" resultantes desses investimentos. 

Isso impedia o desenvolvimento de uma burguesia nacional e o seu natural desejo em acumular capital. A iniciativa privada não era tolerada pelo Estado português, que absorvia praticamente quase todas as rendas obtidas no comércio colonial, sendo soberano em decidir onde e como investir tais lucros. Os representantes do capital comercial não ocupavam, na hierarquia estatal, notáveis posições de prestígio que pudessem fazer valer seus interesses. Estes eram entregues à uma nobreza tradicional e parasitária, o que gerava ineficiência, gastos excessivos com a corte e, eventualmente, o aumento da corrupção.

Na ausência de uma burguesia interna forte, impedida de surgir e desenvolver-se dentro desse contexto, Portugal era incapaz de promover, junto ao mercado europeu, a comercialização dos produtos e riquezas que vinham de suas várias colônias. Aliado a esse problema, a centralização estatal estagnava a produção interna do reino. Visto que a manufatura nacional e a produção não recebiam capitais destinados prioritariamente à defesa e à manutenção das colônias, a consequência era a dependência do país em relação aos produtos externos, principalmente os manufaturados.

Dessa forma, o reino de Portugal dependia de países como Inglaterra, França e da emergente Holanda, para comercializar e distribuir seus produtos dentro da Europa, bem como necessitava dos manufaturados que esses países fabricavam, e que não eram produzidos no reino para seu mercado interno. 


A dependência externa existia então em dois níveis: 

1) Da metrópole em relação aos produtores de manufaturados;  

2) Das colônias, que necessitavam da Metrópole para seu abastecimento, e que também eram abastecidas indiretamente por centros produtores externos.

O déficit da balança comercial portuguesa era,via de regra, enorme. O país importava mais do que exportava, e isso era compensado pelas riquezas que vinham das suas possessões. 

Certos fatos ilustram muito bem o grau da dependência de Portugal, nesse caso, particularmente em relação à próspera Holanda. A maior parte da instrumentação náutica e das armas usadas pelos portugueses vinham de Flandres e de Brabante (também chegavam de Florença/Itália). As “Urcas” holandesas supriam as deficiências da marinha mercantil lusitana no transporte do açucar brasileiro para Lisboa (quase 70% desse transporte era feito pelos flamengos). Houve períodos em que os holandeses chegaram a controlar cerca de 2/3 do comércio do açucar brasileiro, financiando a sua produção e refino. Eram num total de 25 as refinarias de açucar brasileiro instaladas em Amsterdam.

Os países baixos eram um dos grandes (provavelmente o maior, à época) beneficiados pelo comércio com Lisboa. Os lucros obtidos pelos flamengos com esse financiamento e produção eram altíssimos.



A UNIÃO IBÉRICA

Com a morte de D. Sebastião em Marrocos, na mal sucedida batalha de Alcácer Quibir, sobe ao poder seu tio D. Henrique, um cardeal idoso, que veio a falecer em 1580, sem deixar herdeiros. Com ele terminava a dinastia de Avis, numa sucessão de soberanos que durou quase 200 anos. 

D. Felipe II da Espanha, neto de D. Manuel o Venturoso, reclama o trono, e se sobrepõe a seus concorrentes. As forças espanholas invadem Portugal, e com o apoio da nobreza, dá-se início à União Ibérica, com o reino português governado pelo soberano espanhol. Em 1581 ocorre o juramento de Tomar, onde Felipe II compromete-se a respeitar a autonomia portuguesa e de suas colônias, bem como as leis e costumes do país.

Ao longo de sua história, Portugal havia desenvolvido uma política de neutralidade em relação aos demais conflitos europeus. Não entrou em guerra nem mesmo com a França, que havia mais de uma vez invadido o território brasileiro tentando estabelecer colônias. As guerras que foram travadas pelo domínio na região, aconteceram tão somente nos limites coloniais.

Com a União Ibérica o quadro da neutralidade portuguesa mudou radicalmente. Ao unir-se à Espanha, o país acabou envolvido nos conflitos europeus. O reino espanhol, dominado pelos Habsburgos, tinha vários interesses no continente, tomando parte em diversas e dispendiosas guerras dinásticas e sucessórias.

Felipe II seguiu a política intervencionista de seu pai, Carlos V, procurando influir em diversos assuntos europeus. Seu governo era absolutista, e na Espanha de então grassava uma enorme intolerância religiosa, encabeçada principalmente pela Santa Inquisição. 

A política de Felipe II era também opressiva. O rei apoiava a intolerância católica, sendo ele mesmo um fanático religioso. Desrespeitou as tradições dos Países Baixos, reprimindo o Calvinismo, tributando pesadamente as Províncias Holandesas, enriquecidas com o intenso comércio praticado pela forte burguesia comercial local. Como o imperador espanhol não podia tolerar heresias em seus domínios, nomeou juízes e sacerdotes espanhóis de sua confiança para controlar os Países Baixos. A fogueira da inquisição católica passou a arder em terras holandesas, e com ela chegou também o confisco dos bens dos heréticos em favor da coroa espanhola.

Os ricos Países Baixos então se rebelaram, diante de tamanho descontentamento. Iniciam-se assim, as revoltas internas e lutas contra as tropas espanholas estabelecidas na região. Mesmo com o poderio militar ibérico e com a repressão promovida pelo Duque de Alba, os revoltosos não recuaram. 
As 17 províncias que formavam os Países Baixos se unem contra Felipe II, e a guerra começa a ficar custosa demais até mesmo para o rico erário espanhol, abarrotado de prata vinda de suas possessões latinas. 

As províncias do Sul, temerosas do poderio da Espanha, se submetem em 1579. Contudo, as províncias do Norte prosseguiram em sua luta; as províncias setentrionais, em número de 7, formaram a "União de Utretch", liderada por Guilherme de Orange que não reconhecia a soberania espanhola. Com o assassinato de Guilherme pelos espanhóis, o conflito e intensa luta armada prosseguem, fazendo surgir a República da Holanda, ou "Províncias Unidas dos Países Baixos".

Com Portugal sob o domínio espanhol, e a Espanha em luta com a então recém criada República da Holanda, o vantajoso comércio travado entre Lisboa e os Países Baixos - comércio que proporcionou lucros incríveis a esses últimos - encontrava-se impossibilitado. Felipe II proibiu tal comércio, ficando os navios flamengos proibidos de aportar em terras sob domínio espanhol. Isso incluia, naturalmente, Portugal, Brasil e as demais colônias lusas, que estavam agora impossibilitadas de comercializar com os holandeses.



AS COMPANHIAS DAS INDIAS

O lucrativo comércio travado entre Portugal e colônias com as Províncias Holandesas sofreu grandes prejuízos graças à União Ibérica e as guerras de Felipe II, que acabaram envolvendo Portugal, direta ou indiretamente.

A agora independente Holanda teve que rever o seu comércio, reorganizando-o conforme as novas regras agora impostas. Surgiu assim, em 1602, a sua primeira companhia de comércio, a V.O.C (Vereenigde Geoctoyeerde Oostindische Compagnie) ou Companhia das Índias Orientais.

A V.O.C. cunhou grande quantidade de moedas nas colônias dooriente, até o seu desaparecimento no início do século XIX. Era uma Sociedade Anônima que mobilizava investimentos, inicialmente em âmbito nacional e, seguidamente, também naquele internacional. Era companhia privilegiada (como o próprio nome sugere), sendo isenta de impostos, chegando mesmo a suprir o papel colonial do próprio Estado, algo muito avançado para a época. Os lucros obtidos pela companhia na Ásia eram imensos, e deixavam cada vez mais ricos os seus acionistas, com as ações da Companhia cada vez mais valorizadas e procuradas. Com tanto poder financeiro, não demorou para que o monopólio ibérico fosse quebrado nas Índias e Oriente, e os Holandeses começassem a conquistar colônias e monopólios comerciais que antes eram da Coroa Portuguesa (Málaca, Ceilão e outras).


A Companhia das Índias Orientais foi tão bem sucedida econômica e militarmente, que os flamengos resolveram repetir a idéia; só que agora voltada para a exploração de colônias no Ocidente. Surge assim, em 1621, a Companhia das Indias Ocidentais (Geoctoyeerde West-Indische Compagnie), que também possuía o mesmo formato de Sociedade Anônima. Com uma sólida estrutura financeira, não demoram os holandeses em voltar seus olhos ao rico e lucrativo Brasil açucareiro, comércio do qual tinham sido oficialmente privados pelo odiado D. Felipe da Espanha.

Entretanto, ao contrário da Companhia das Índias Orientais que lidava com povos até bem desenvolvidos - oriundos de civilizações bem antigas e ricas e com bom conhecimento da prática comercial - a Companhia Ocidental iria lidar com povos indígenas semi-bárbaros, com inimigos mais numerosos e bem armados que no Oriente (o comércio português na região já era decadente), e com terras estranhas e muitas vezes inóspitas para os flamengos. Para obter o açúcar, o pau brasil e outros tão desejados produtos, seria necessário lutar muito. Bem mais que nas bandas orientais, eram necessários muito mais homens, armas e navios, e muito mais dinheiro.

A GWC possuía um caráter bélico bem mais acentuado que sua irmã oriental. Na época, era uma companhia voltada muito mais para a conquista militar, ocupação e pirataria em grande escala. Os alvos prediletos eram os galeões portugueses abarrotados de açucar, e os espanhóis carregados da prata do novo mundo. A bem da verdade, tratava-se de um exército paralelo ao estatal, mantido com capitais privados. Contando com a participação de mercenários contratados, era uma das forças mais poderosas no mundo daquela época.



AS INVASÕES HOLANDESAS NO BRASIL COLONIAL

Em 1624, surgiram no mar da Bahia 26 galeões de guerra holandeses transportando mais de 3.000 homens em armas sob o comando do almirante Jacob Willekens (na figura ao lado, o segundo, a partir da direita, retratadom pelo pintor Govert Flink, seguidor de Rembrandt). A Bahia foi escolhida por ser um grande centro açucareiro, bem como por ser a capital da América Portuguesa. 

A invasão tinha sido planejada já em 1623, e apesar de saber antecipadamente da grande probabilidade desse ataque, o governador Diogo de Mendonça Furtado, talvez por não acreditar que uma expedição dessa magnitude aportaria justamente na sua cidade, não organizou suas defesas. Além disso, já havia cedido às pressões do arcebispo Dom Marcos Teixeira, dispondo de grande numerário destinado a defender a cidade,agoar empregado em obras para a Igreja Católica. 

Com a investida desse exército, a despreparada Salvador sucumbe após alguns combates. A população foge para o interior e para os engenhos afastados, dando início à organização da resistência. Um  dos líderes é justamente o bispo Marcos Teixeira, talvez atormentado pelo arrependimento. Ao final desse ataque bem sucedido, o governador Diogo de Mendonça Furtado foi capturado e deportado com seu filho para a Holanda.

Em 1625, chega à Bahia uma poderosa esquadra luso-espanhola, liderada por D. Fradique de Toledo Osório. Cercados por terra e sem poder receber reforços pelo mar, os holandeses acabam por depor as armas. Aos problemas da GWC somaram-se outros mal sucedidos ataques às colônias portuguesas na África e nas Antilhas espanholas, dando um grande prejuízo à Companhia. Suas ações experimentaram uma vertiginosa queda, colocando a empresa à beira da bancarrota. 

Entretanto, em 1628, os holandeses conseguem uma grande reviravolta nos acontecimentos. Peter Heyn, ancorado na Ilha de Cuba, toma de assalto uma esquadra espanhola abarrotada com um carregamento de prata vindo do México. A pilhagem foi tão boa que conseguiram cobrir os prejuízos da empresa com os fracassos anteriores. 

Recuperada e livre do fantasma da bancarrota, a GWC pode preparar sua nova investida em um bem sucedido ataque às cobiçadas terras do açucar.

Frederick Hendrik, príncipe de Orange, irmão de Maurício de Nassau. Medalha comemorativa de seus feitos e glórias. Entre as citações, aquela relativa a Pernambuco, bem como à conquista da esquadra espanhola, em Matanzas (Cuba), que transportava enorme carregamento de prata. A pilhagem compensou o prejuízo da primeira invasão fracassada ao Brasil, salvando a GWC da ruína.


MAURÍCIO DE NASSAU

Para consolidar sua conquista, A GWC enviou ao Recife o conde João Maurício de Nassau-Siegen. 

Nassau era alemão, um príncipe do pequeno Estado de Nassau-Siegen. Desembarcou no Brasil em 1637, junto com uma armada de 12 navios e 2.700 homens. Em pouco tempo revelou-se um estadista e excelente diplomata, estabelecendo boas relações com os senhores de engenho e a gente da terra, emprestando dinheiro para que os engenhos voltassem a funcionar ou expandissem suas capacidades, dessa forma aumentando a produção com o incremento de novas técnicas. 

Permitiu a liberdade de culto, inclusive aos judeus que fundaram no Recife a primeira sinagoga das Américas. Procurou transformar a cidade numa capital moderna, a cidade Maurícia, ou Mauritsstad. Providenciou vários aterros, construiu diques, canais, pontes, e até palácios para a administração (o principal esteve de pé até o século XVIII, quando um governador português mandou derrubá-lo).

Sua expedição contava com a participação de pintores, artistas e pesquisadores. Criou a coleta de lixo, um corpo de bombeiros e até um observatório astronômico, iniciativas hoje consideradas inovadoras e visionárias para aquela época.

Com uma boa administração, aliada às conquistas militares, Nassau consolidou o poder holandês na região. Derrotou o Conde de Bagnoli em Alagoas, oficial italiano a serviço de Portugal que bateu em retirada para Sergipe. Em 1637 enviou à África, sob o comando do coronel Hans Koin, uma expedição naval que contava com mercenários e indígenas Tapuias brasileiros, conquistando o Forte de São Jorge da Mina, a mais antiga possessão colonial portuguesa na costa africana. A possessão portuguesa da Mina foi colocada sob o controle de Recife.

Nota: A fortaleza de São Jorge da Mina foi construída com o objetivo de escoar e defender o ouro que, das ricas regiões auríferas do interior, era enviado para o litoral. Posteriormente, tornou-se o primeiro entreposto de escravos da era moderna. Também designado por Castelo da Mina, Feitoria da Mina, e posteriormente por Fortaleza de São Jorge da Mina, Fortaleza da Mina, ou simplesmente “Mina”, localiza-se na atual cidade de Elmina, em Gana, no litoral da África Ocidental. Após a sua ocupação pelos Holandeses em 1637, o seu nome passou a figurar na cartografia apenas como Elmina. Erguida em 1482, foi a primeira grande construção européia na África tropical. Para várias tribos e numerosos reinos, Elmina simboliza o holocausto provocado pelo tráfico negreiro. Para as nações européias que exploraram a costa africana, como Portugal, Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e Alemanha, o lugar foi fonte de riquezas durante 400 anos. De lá saiu o ouro que financiou as navegações portuguesas no século XVI, e os escravos que fizeram prosperar as usinas de açúcar do Brasil.

Tentou novamente a invasão da capital da Bahia, Salvador, mas encontrou lá forte resistência, não obtendo sucesso. Entretanto, expandiu a conquista com a anexação do litoral das Capitanias do Ceará, Sergipe e Maranhão.

Em 1640 Nassau voltou-se contra Luanda. O objetivo era quebrar o fornecimento de escravos para a Bahia, minando a resistência do Brasil português, que ficaria sem mão de obra na lavoura de cana de açucar. Todavia, a motivação principal era cortar o suprimento de escravos destinados às minas de prata da América Espanhola. Seria um duro golpe para a coroa portuguesa, dependente da Espanha. Assim, partiu de Recife uma poderosa esquadra em direção à Luanda. Diante da poderosa armada, a cidade caiu sem resistência, indo a tropa e a população portuguesas se refugiar em Massangano. Tomou também São Tomé e feitorias na Guiné. No mesmo ano, ainda conquistou aos portugueses a ilha de São Luis do Maranhão.

Apesar dos esforços e conquistas de Nassau, o Brasil holandês não ía bem. O preço do açúcar iniciava sua fase de declínio, e os senhores de engenho começavam a se rebelar contra a GWC. Com um débito de mais de 5 milhões de florins com a Companhia (empréstimos concedidos por Nassau para incrementar a produção), a volta do domínio português acenava como uma boa chance de não quitarem essas dívidas. Os poderosos senhor de engenho iniciam então, sua campanha difamatória contra os holandeses. O objetivo era unicamente o de dar um calote nos holandeses, já que com sua expulsão do território, as vultosas dívidas iriam desaparecer como num passe de mágica.

Juntou-se a isso uma praga de bexigas que assolou a população negra, matando vários escravos, fazendo a produção despencar ainda mais.(Mary C. Karasch, Will e Ariel Durant)

Nassau havia investido muito em prol da cidade do Recife. Segundo seus sonhos, seria a grande capital do domínio holandês no Brasil. Contudo, a GWC estava insatisfeita com todos os investimentos destinados ao engrandecimento da cidade. Começaram as falências de empresas açucareiras em Amsterdam, fazendo com que as ações da GWC experimentassem, mais uma vez, uma significativa baixa. Com tudo isso Nassau foi chamado, em 1644, de volta à Holanda, para nunca mais voltar ao Brasil. Em seu lugar assume a junta denominada de Conselho dos XIX, com sede em Amsterdam.

"O Conselho", como era conhecido, dava ordens ao Alto e Secreto Conselho do Brasil, responsável pela administração direta, cujo objetivo principal era obter o máximo lucro possível da terra, a fim de compensar os investimentos e prejuízos experimentados. 

Retornando à Holanda, Nassau ainda chegou a Governador de Kleve. Pegou em armas contra a França e a Espanha, e foi nomeado governador de Utrecht. Por haver transformado Recife, com tantas obras e investimentos, em uma cidade que lhe valeu o título de grande centro urbano da época, Nassau ainda permanece vivo na memória da gente pernambucana. Foi tolerante, diplomata, e desenvolveu a urbanização e o embelezamento da cidade. Em sua homenagem existem ruas, praças, uma ponte e uma faculdade que leva o seu nome. 



A RECONQUISTA

Com a saída de Nassau e a crise do preço do açúcar, a GWC, por meio do Alto e Secreto Conselho sediado em Recife, começou a cobrar dos senhores de engenho de Pernambuco os empréstimos concedidos. Tais cobranças se somaram aos problemas com pragas na lavoura da cana. Os senhores de engenho não masi honravam seus débitos que acumulavam a essa altura, a espetacular soma de mais de 130 tonéis de ouro, correspondentes a 13 milhões de florins.  Os holandeses passaram, então, a desapropriar os engenhos. 

Sem Nassau, a cidade não recebia mais os investimentos de outrora, dando início a um período  de decadência social; a insatisfação era geral. Os senhores de engenho aproveitaram o momento de tensão socil e passaram a queimar as propriedades, os estoques de açucar, fugindo para o mato em seguida, dando início à Insurreição Pernambucana. Portugueses,  luso-brasileiros (mazombos), negros e indígenas aliados, estavam prestes a enfrentar um dos melhores e mais equipados exércitos da época.

Nota: Mazombo - Brasileiro, filho de europeus.

Os senhores de engenho João Fernandes Vieira (português) e André Vidal de Negreiros (brasileiro branco - mazombo) deram impulso à revolta. Apoiando os senhores de engenho, estavam o líder indígena poti Felipe Camarão, aliado da coroa portuguesa, e o ex-escravo Henrique Dias; esse último irá comandar o contingente de negros e ex-escravos aliados dos luso-brasileiros. De acordo com a história oficial, é nessa época que começa a surgir o conceito da nacionalidade brasileira. 

Tem início as guerrilhas contra as tropas regulares holandesas, que começam a ser derrotadas pouco a pouco, batalha após batalha, num processo de desgaste doloroso para ambas as partes.



GUARARAPES - A ÚLTIMA BATALHA

Os exércitos luso-brasileiros contavam com um efetivo aproximado de 2.200 homens. Eram divididos em quatro Terços17, comandados pelos quatro mestres-de-campo mencionados anteriormente: João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros; o governador dos indígenas, capitão-mor Filipe Camarão, e o governador dos negros, Henrique Dias. Os Terços não dispunham de nenhuma artilharia de apoio.

No dia 17 de abril de 1648, o governador das Armas Holandesas, Sigmund von Schkoppe, conhecido pela crueldade com que tratava os seus adversários e pelo espírito de disciplina imposto aos seus subordinados, saiu do Recife no comando de um formidável exército de 4.500 homens, divididos em sete regimentos, acrescidos de aproximadamente 1000 indígenas Tapuias e negros carregadores. De acordo com as reformas implantadas por Maurício de Nassau, que visavam adaptar a estratégia de combate à realidade brasileira, os batalhões dos exércitos holandeses eram formados por 500 homens, assim divididos: 1) 300 piqueiros, combatentes que carregavam grandes lanças de 18 pés de comprimento, e 2) 200 mosqueteiros que se alternavam em fileiras por ocasião do desenvolvimento da batalhas.

As tropas luso-brasileiras chegaram a Guararapes no sábado, à tarde. À noite, por volta das 10 horas, posicionaram-se em troços numa planície ao pé do monte conhecido como Outeiro18, distante três léguas do Arraial Novo e a uma légua da Muribeca19. 
Restava ao inimigo uma passagem de pouco mais de cem passos de largo (aproximadamente 100 metros), entre o Outeiro e um terreno alagadiço que o contornava. Assim aguardavam os luso-brasileiros, escondidos entre a vegetação e o manguezal, em sítio acomodado, não só para reprimir o ímpeto do inimigo, mas também para destruí-lo. 

Mantendo escondidas as tropas, Barreto de Menezes avançou através do Boqueirão sobre os holandeses. Agiu com um efetivo aproximado de 300 homens, mas apenas para atraí-los para uma grande emboscada, fazendo crer ao inimigo que dispunham apenas de uma pequena força defendendo aquela importante passagem para o sul. 
Von Schkoppe não pensou duas vezes. Ordenou que uma força composta de seu regimento e dos regimentos dos coronéis Van Elst e Keervaen dessem carga à pequena força luso-brasileira a fim de conquistar o Boqueirão. 
Os holandeses progrediam com grande dificuldade através dos alagados (manguezais, lama mole) para flanquear pela esquerda a pequena força ao comando de Dias Cardoso. Enquanto isso, a ala direita holandesa iniciava a progressão sobre os luso-brasileiros, atacando seu flanco direito. Os holandeses entraram no boqueirão caindo na grande emboscada, acreditando que as forças que os esperavam eram reduzidas. Nesse momento, o Mestre de Campo Barreto de Menezes que mantinha o grosso de suas forças a coberto, ordenou um ataque total dos luso-brasileiros. Após breves trocas de tiros que poucas baixas causaram, desfecharam violento ataque à espada contra os holandeses, na estreita faixa do interior do Boqueirão, o local para onde foram atraídos os batavos. 

Nota:
Terço: Parte de um exército, correspondente ao regimento atual.
Outeiro ou Lomba: Elevação do terreno menor que o morro, geralmente local de preces e orações.
Muribeca: Município brasileiro do estado de Sergipe. Localidade pertencente na época a Propriá, localizada a 72 quilômetros de Aracaju, no Agreste Sergipano. Seu antigo nome era Sítio do Meio. As terras de Muribeca faziam parte da área que Cristóvão de Barros, conquistador de Sergipe, deu em 1590 a seu filho, Antônio Cardoso de Barros, através de sesmaria. 

Logo se instalou a confusão e a desordem no dispositivo holandês, provocando a debandada de muitos de seus soldados. Ao baterem em retirada, dando as costas aos luso-brasileiros, muitos holandeses foram, impiedosamente, abatidos à espada. Os numerosos holandeses que correram para os alagados (mangues) encontraram a morte ali mesmo, abatidos a tiros, lanças e espada; provavelmente pelas forças de Felipe Camarão (chefe indígena), habituados a progredir nos alagados. 

Terminada a escaramuça, os luso-brasileiros iniciam a se recompor e se organizam para o combate do dia seguinte. Os holandeses, aproveitando-se da noite, bateram silenciosamente em retirada para a Leiteria (Boa Viagem), sob a forte chuva que caiu durante a madrugada. O aguaceiro apanhou os luso-brasileiros em posição em campo aberto, castigando-os, impedindo um sono reparador, agravando a situação dos feridos.

Animada com essa grande vitória, a coroa portuguesa resolve então mandar reforços. Vendo que, ao contrário do que pensava D. João IV e seus ministros, Pernambuco não estava irremediavelmente perdida, resolvem colaborar com as tropas. Em agosto de 1648, chegaram a Pernambuco 300 infantes dos terços das Ilhas, armados com material moderno, arcabuzes compridos que alcançavam distância maior do que aqueles dos holandeses, colocando o combatente a reparo da ofensiva inimiga.


O SEGUNDO CONFRONTO

Em 1649, mais uma força holandesa, composta de 3.510 homens, comandados pelo coronel Van der Brincken, sai de Recife ao encontro dos luso-brasileiros nos Montes Guararapes, iniciando assim o segundo confronto. Na vanguarda, foram distribuídos em grupos muitos soldados com lanças e piques para reprimir a temida investida à espada dos luso-brasileiros. 

Os holandeses esperavam as tropas nativas avançando pelo norte, mas para sua surpresa, elas acabaram atacando pelo sul, onde não eram esperados. E assim ficaram os exércitos: Os holandeses numa posição mais alta, ocupando o monte, e os luso-brasileiros em baixo, ao pé do monte, entocados nos mangues, impedindo qualquer retirada. Os grupos de luso-brasileiros se espalhavam, escondendo-se nos matos e canaviais, acompanhando os movimentos holandeses e atacando em emboscadas.
Imobilizados no alto dos montes, longe das fontes de água bloqueadas pelas tropas nativas, os batavos começaram a sofrer de sede com o imenso calor local. Assim o coronel Van der Goch descreve a situação: 

“Tendo tomado em consideração que o inimigo não seria facilmente seduzido a dar combate, visto conservasse posição privilegiada nos matos e por detrás dos pântanos, e que as nossas tropas ficando sobre os montes, que são desertos, sem sombra e água, seriam extremamente fatigadas e enfraquecidas, procedeu-se à convocação dos chefes da expedição para deliberarem juntamente sobre o que fazer nessas circunstâncias, e todos por unanimidade opinaram que não se devia aconselhar conservar as tropas ainda por mais tempo no alto dos montes, com a esperança incerta de chamar para lá o inimigo, e que por consequência as tropas deviam retirar-se antes que os embornais ficassem inteiramente vazios e os soldados inteiramente esgotados pelo calor excessivo”

Às 3 horas da tarde, começam os regimentos holandeses a descer dos montes, em ordem. Ao tomar conhecimento da retirada, e aproveitando-se do erro estratégico dos inimigos, os lusos-brasileiros fazem valer suas posições privilegiadas, iniciando um ataque que viria a se transformar em um verdadeiro massacre. Expostos à força e intensidade dos ataques, os holandeses não viram outra alternativa que não fosse a de bater em retirada, conforme relata carta de um oficial:

“O tenente coronel Claes com o regimento do tenente general do qual naquele momento tinha o comando, e o coronel Hauthyn, tendo entrado ambos igualmente em ação contra o inimigo, e tratando de reconquistar a garganta do monte abandonado, tiveram que recuar igualmente, frente à excessiva força do inimigo, que então veio com tanta impetuosidade sobre nós que as nossas tropas começaram a fugir gerando a maior confusão. A tal ponto de que nem palavras nem a força puderam contê-las, apesar de todos os esforços dos oficiais em geral. Essa fuga e confusão foram consideravelmente aumentadas pelas tropas dos coronéis van der Brande e van Elst, que descendo o monte vieram correndo o mais que podiam atirar-se em confusão nos mencionados regimentos do tenente general e de Hauthyn, produzindo nele uma desordem completa”.

A situação, relatada pelo Antônio de Souza Junior após aproximadamente 3 horas de luta ferrenha:

“Vieira se foi unir e incorporar com André Vidal de Negreiros, Francisco Figueiroa e António Dias, e todos juntos foram apertando o cerco contra o inimigo. De tal sorte que o fizeram precipitar e despencar por aquelas barrocas e grotas dos montes Guararapes, donde lhe fizeram grande estrago e mortandade, com que já estava já toda aquela campanha dos altos e baixos dos montes, lastrada e juncada de corpos dos inimigos, que era uma cousa horrenda de se ver tanta mortandade, tantas e tão espantosas feridas, tantos corpos sem cabeças, braços, pernas, uns já mortos, outros agonizando e lutando com a morte, outros revolvendo-se em sangue e muitos urfando e gritando com ânsias e agonias mortais, não poucos dando e exalando o último suspiro.”

O relato do major português está bem de acordo com o outro do oficial holandês, que assim descreveu a retirada, em carta à GWC:

“Em referência ao combate, observei principalmente duas particularidades que, em minha opinião, merecem bem atenção: Em primeiro lugar, as tropas do inimigo saindo do mato e por detrás dos pântanos, e de outros lugares, tinham a vantagem da posição; atacavam sem ordem e em completa dispersão e aplicavam-se a romper diferentes quadrados. Em segundo lugar, as tropas inimigas são ligeiras e ágeis de natureza, para correrem para adiante ou se afastarem, e por causa de sua crueldade inata são também temíveis. Compõem-se de brasileiros, tapuias, negros, mulatos, mamelucos, nações de todo o país e também de portugueses e italianos, que tem muita analogia com os naturais do país quanto à sua constituição, de modo que atravessam e cruzam os matos e brejos, sobem os morros tão numerosos aqui e descem tudo isso com uma rapidez e agilidade verdadeiramente notáveis. Nós, pelo contrário, combatemos em batalhões formados como se usa na mãe pátria, e nossos homens indolentes e fracos, nada afeitos à essa terra, disso resulta que essas espécies de ataque com armas de fogo, como acima se trata, devem ter inevitavelmente bom resultado, e que rompendo nossos batalhões e pondo-os em fuga, nos infligem um maior número de baixas, entre os soldados em perseguição, do que teriam feito em combate mesmo. Além disso, as peças de artilharia de campanha, não podendo ser apontadas sobre bandos ou grupos dispersos, tornam-se inúteis, ou para melhor dizer, transformam-se em verdadeiras charruas para o nosso exército, sem contar uma multidão de outros inconvenientes, muito numerosos para serem aqui apontados.”

Após essa derrota, a capacidade de ataque dos holandeses se anula, e tudo que se pode fazer é tentar defender o Recife, ainda bem fortificado. Mais uma vez os luso-brasileiros tomam boas quantidades de pólvora, dinheiro, armas e peças de artilharia. Ao mesmo tempo, a moral das tropas holandesas cai a níveis alarmantes; o número de deserções aumenta.

Nesse meio tempo, Angola foi recuperada pelas tropas de Salvador Correia de Sá. Estamos no ano de 1648! A situação para os holandeses piora tanto que os Estados Gerais exigem uma declaração de guerra formal contra Portugal, bem como autorização de pirataria contra as embarcações portuguesas em qualquer lugar do globo. O embaixador em Haia, Souza Coutinho, recebe um comunicado de D. João IV, exigindo o imediato reconhecimento do Brasil holandês e do Ocidente africano (Angola e São Tomé). O embaixador ganha tempo, fazendo propostas de venda de Pernambuco e Angola a preços altíssimos. Os Estados Gerais decidem cercar o porto de Lisboa com uma esquadra de 25 navios de guerra, ameaçando Portugal, caso não restaurasse o que a GWC havia perdido na Africa e no Brasil. 
O conflito agora ameaçava chegar às portas do palácio de D. João IV. O rei português se mostrava inclinado a vender Pernambuco aos holandeses. Todavia, para sorte de Portugal, a Inglaterra e a Holanda entram em guerra pela supremacia dos mares em 1652. A esquadra holandesa que faria o bloqueio do porto de Lisboa, é mobilizada contra as poderosas forças britânicas.

Havia o temor das cortes de que os pernambucanos buscassem ajuda dos ingleses, de qualquer príncipe cristão, ou mesmo da odiada coroa de Castela, caso se sentissem abandonados pelos portugueses. Em 1652, com os esforços holandeses canalizados contra os britânicos, era hora de tomar de volta o Recife, último bastião de defesa holandesa. Diante das vitórias dos Guararapes e sabendo do empenho dos holandes em guerra contra a Inglaterra, D. João IV resolve agir e desafiar o imenso poderio militar e econòmico holandês. 

Em 1653, surge na costa do Recife a frota da Companhia de Comércio do Brasil, composta de 77 navios sob o comando de Pedro Jaques de Magalhães. A defesa do Recife estava nas mãos de homens cansados e desmoralizados, mal pagos e com salários atrasados. A esquadra toma posição de ataque, bloqueando a entrada do porto do Recife. Cercados por mar e por terra, cansados e desmotivados, os holandeses começam a entregar suas fortalezas, uma a uma, e a baixar as armas e bandeiras. Não haviam meios nem motivação para lutar. Em 26 de janeiro de 1654, assinam a rendição, pondo fim à sua aventura no Brasil e ao sonho do Pernambuco holandês.

A rendição representou o início do declínio do poderio comercial e militar flamengo, iniciado em 1619, com a fundação de Batávia na Indonésia. Foi também uma das maiores derrotas militares na história do exército da Holanda, que perdeu 1.044 soldados nos Guararapes, deixando ainda um saldo de 500 feridos. Em contra-partida, os luso-brasileiros perderam somente 47 homens, num saldo final onde se somavam ainda 200 feridos. Morreram do lado invasor os generais Van der Brinken, Giesseling e outros 101 oficiais graduados. Do outro lado, apenas a baixa de Henrique Dias, que chefiava os soldados negros. Os holandeses não contavam com um conceito militarmente estratégico e que, em época contemporânea, po rexemplo, foi o responsável pela derrota dos EUA na guerra do Vietnam; o profundo conhecimento da terra e do terreno das operações bélicas, algo que os indígenas e mestiços aliados aos portugueses, conheciam como ninguém. A vitória nos Guararapes não foi da Coroa e sim dessa gente que, induzida pela ganância e desonestidade dos senhores de engenho, deixaram com que conquistassem seus corações e mentes. 

É em meio a esses acontecimentos, guerras, batalhas sangrentas, escaramuças, conquistas e perdas que tem início a HISTÓRIA MONETÁRIA DO BRASIL, propriamente dita. Nas cunhagens obsidionais dos holandeses (Florins e Soldos), pela primeira vez surge o nome Brasil estampado em uma moeda.

Após a cunhagem holandesa, passaram-se quase 50 anos até que, em 1695, a Casa da Moeda da Bahia, a primeira delas, cunhou os primeiros exemplares genuinamente brasileiros.  

O nome BRASIL é novamente gravado em ouro; agora, porém, pelos auto-proclamados donos da terra.


Fim da primeira parte. Clique nos links a seguir, para ter acesso à segunda e à terceira parte:

Obsidionais - Segunda parte