Moedagem pestífera
Peste negra (ou morte negra) é o nome pela qual ficou conhecida uma das mais devastadoras pandemias na história humana, resultando na morte de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia. Somente no continente europeu, estima-se que tenha vitimado pelo menos 1/3 da população, durante o período considerado o auge da peste, entre os anos de 1346 e 1353. A doença é causada pela bactéria Yersinia Pestis, transmitida ao ser humano através das pulgas dos ratos pretos ou através de outros roedores.
Nessa época os brasileiros se resumiam às populações indígenas que habitavam a região. Acredita-se que a peste tenha surgido nas planícies áridas da Ásia Central, região que compreende as estepes, montanhas e desertos entre o leste do mar Cáspio e o centro-oeste da China, entre o norte do Irão e Afeganistão, e o sul da Sibéria, e foi se espalhando principalmente pela rota da seda, alcançando a Criméia em 1343. No total, a praga pode ter reduzido a população mundial de em torno de 450 milhões de pessoas para 350 milhões de almas, em meados de século XIV. A população humana não retornou aos números anteriores, até o século XVII. A peste negra continuou a aparecer de forma intermitente e em pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo do século XIX.
República de Veneza, Fiorino datado no período que compreende os anos de 1252 a 1303. Essa moeda circulou em grande parte da Europa, entre 1189 e 1532. Devido à epidemia de peste que se abateu na Europa, inicialmente entre 1346 e 1353, são raríssimos os exemplares cunhados nesse período. Os poucos existentes, são considerados moedas emergenciais.
A PESTE EM VENEZA
A peste negra gerou vários impactos e consequências religiosas, sociais e econômicas, afetando drasticamente o curso da história européia. No verão de 1575 propagou-se em Veneza uma terrível epidemia de peste que em apenas dois anos iria fazer 50 mil vítimas mortais, quase um habitante em cada três. Em setembro do ano seguinte, quando a doença parecia invencível, o Senado da Sereníssima invocou a Ajuda Divina, prometendo construir uma nova Igreja com o nome do Redentor, em troca da milagrosa cura da terrível doença.
A Basílica do Redentor, em Giudeca, Veneza
Assim, em maio de 1577, a primeira pedra do edifício foi colocada em um projeto do arquiteto Andrea Palladio. Em 20 de julho do ano seguinte, o fim da praga foi celebrado com uma solene procissão que chegou à igreja através de uma notável quantidade de embarcações, criando uma tradição de Fé e devoção que ainda perdura até os nossos dias. O projeto palladiano - o grande arquiteto de Vicenza, falecido em 1580 - foi concluído por Antônio da Ponte em 1592, sofrendo mínimas mudanças em seu projeto, nos séculos por vir.
Símbolo de gratidão pela intervenção divina que salvou Veneza da praga, a Basílica do Redentor em Giudecca (pequeno arquipélago, e também o nome da sua ilha principal, ao sul do centro de Veneza) também aparece na osela (moeda-medalha que era cunhada a cada ano, na Casa da Moeda e Veneza, doada pelo Doge às personalidades que se destacavam na República) de ouro com 5 lantejoulas e outra de prata, personificando o 85º Doge Alvise I Mocenigo, cunhadas em 1576.
ANVERSO: Em torno de uma vista em perspectiva colunas e estátuas, com o leão de São Marcos no frontão, lenda e data do passeio. Na retaa lenda em um círculo ALOY MOCENIGO P MVN ou MV ou ALOISI MOCENI PR MVN (ALOYSII MOCENIGO / PRINCIPIS MVNVS), exergada no ANO VII, em campo o Salvador entronizado com faixa, atrás do leão, que abençoa o dojo ajoelhado.
REVERSO: "REDEMPTORI VOTVM MDLXXVI", também alterado para "REDEMTOR VOTVM MDLXXVI", "REDEMTORTOR VOTVM MDLXXVI" ou "REDEMTORI VOTVM MDLXXVI" ou "REDEMTORTOR VOTVM MDLXXVI" ou "REDEMTORTOR VOTVM MDLXXVI" ou "REDEMTORTOR VOTVM MDLXXVI" ou "REDEMTORTOR VOTVM MDLXXVI").
Figura acima: Osela, moeda de prata ou medalha pública cunhada no ano de 1521, pelo Doge Antonio Grimani. O valor da primeira Osella era de trinta e dois anos e meio e trinta e seis; em 1571, subiu para quarenta e três; por volta de 1630 a cinquenta e dois; quinze anos depois para sessenta e sessenta e dois; finalmente, em 1734, passou a setenta e oito dinheiros, um valor que perdurou imutável até 1797.
O Doge , devido à antiga tradição antiga, em dezembro de cada ano, dava a cada nobre do Grande Conselho, a permissão de caçar cinco gansos selvagens na região. Em 1521, o conselho, devido às guerras que impediam a caça, decretou que uma moeda fosse cunhada, e entregue aos nobres, em vez de pássaros, "oselle" (do veneziano oseło , "pássaro") . A cunhagem terminou em 1797, com a queda da República.
Entre 1629 e 1633, o norte da Itália foi afetado por uma das epidemias mais graves da história : é a famosa pestilência da memória de Manzoni, que devastou as grandes cidades do norte da península, chegando a tocar os territórios da Toscana.
Nessas áreas, a peste matou cerca de 1 milhão e cem mil pessoas, praticamente 25% da população daquele período. Algumas cidades, como Pádua e Verona, Milão e Turim, tiveram uma taxa de mortalidade muito mais alta: em Pádua, até 60% dos habitantes morreram, em Turim, mais de 30%. Na capital do Piemonte, a peste deu entrada na região, em janeiro de 1630.
O sapateiro Franceschino Lupo, de Turim, foi a primeira vítima da grande praga. À primeira vista, detalhes triviais, o trabalho deste Franceschino facilita entender por que ele foi o primeiro infectado na cidade: a primeira pessoa a contrair a terrível doença só poderia ser um homem constantemente em contato com as solas das botas e sapatos, que entravam em contato com o solo das ruas anti-higiênicas, em uma época em que saneamento não era a prioridade. Depois de Franceschino seguiu-se o masacre; 10...100...1000, milhares de pessoas infectadas com manchas pretas e purulentas.
Com o final do inverno, a situação obviamente piorou e o calor favoreceu a infecção. Os corpos em decomposição se amontoavam em montões que atingiam, nos piores momentos, o primeiro andar das casas, de cujas janelas os cadáveres costumavam cair. Tal qual acontece hoje, com a epidemia de coronavírus, os portões da cidade foram fechados e os estrangeiros foram proibidos de entrar, numa tentativa desesperada de limitar o número de mortes.
GIOVANNI FRANCESCO BELLEZIA e GIOVANNI FRANCESCO FIOCHETTO
O destino queria que as duas figuras mais importantes daqueles momentos tivessem o mesmo nome. Com a fuga dos reinantes Savóias para Cherasco, na esperança de evitar a infecção, a cidade de repente se viu sem um guia. Felizmente, esses dois homens provaram ser dignos da honra que a História lhes concedeu nos séculos seguintes.
Figura acima: Fiorino cunhado na Casa da Moeda de Veneza durante o reinado de Carlo Emanuelle I de Savóia. Essa moeda foi cunhada entre os anos de 1580 e 1630, sendo extremamente raros os de data 1630, ano em que foram suspensas as cunhagens devido à peste que se difundiu por toda a península.
O primeiro, Giovanni Francesco Bellezia , foi o prefeito da cidade. Ele tomou medidas diretas para gerenciar a máquina de assistência médica e compras, bem como para limitar os episódios de saques. Quando foi afetado pela doença (da qual, felizmente, sobreviveu), continuou a dar instruções de sua cama, no número 4 da rua que hoje leva seu nome.
Cibrario escreve: “Enquanto todo mundo estava fugindo, buscando ao ar livre do campo e entre os recantos das montanhas um asilo contra a morte, a cidade se dissolveu e governou, quando precisava de mais governo, estava em perigo de vários males. , Bellezia, ficou quase sozinho e assumiu toda a carga de assuntos públicos ” .
O MÉDICO DA PESTE
O segundo, Giovanni Francesco Fiochetto, era o médico do tribunal. Apesar do conhecimento limitado da época, ele nunca deixou a cidade e foi um dos primeiros a entender o papel fundamental da cuidadosa higiene pessoal para limitar o contágio, em detrimento de bobas superstições astrológicas. Vinagre para lavar as mãos, janelas abertas, queima de móveis e roupas infectados, esterilização de moedas; estas são apenas algumas das precauções impostas pelo médico à população de Turim. Ele forçou o município a preparar cabras para amamentar órfãos, investigou médicos que se recusavam a tratar os mais pobres. Ele também, como o prefeito Bellezia, sobreviveu à praga, embora tenha perdido a filha. Em 1631, Fiochetto publicou o "Tratado da peste e contágio pestífero de Turim" , que foi reimpresso pelo seu valor científico em 1720, durante a peste de Marselha. Dentro de seu trabalho, Fiochetto também descreve várias cenas angustiantes. Entre estes, a morte de dois irmãos de dois e quatro anos, encontrados abraçados nas escadas da Igreja da Santíssima Trindade, na via Dora Grossa, a corrente via Garibaldi, e sempre abraçados foram enterrados.
DURANTE A EPIDEMIA DA EUROPA, SURGEM AS PRIMEIRAS MOEDAS BRASILEIRAS
Nessa época, era Rei de Portugal, D Sebastião I, filho do príncipe D. João Manuel e de D. Joana, nascido a 20 de janeiro de 1554, algumas semanas depois da morte de seu pai. Neto, por via materna, do imperador Carlos V, com apenas 3 anos de idade herdou a coroa após a morte do seu avô paterno, D. João III, em 11 de junho de 1557. Durante sua menoridade, foi regente a rainha D. Catarina. Um período de desavenças entre a regente e o cardeal D. Henrique, investido do cargo de inquisidor geral, antecederam a posse definitiva do reino por D. Sebastião que o assumiu plenamente em 20 de janeiro de 1568, entregando-se à realização de um de seus sonhos; a conquista do norte da África. Alheio aos conselhos de quem tentou dissuadi-lo, o jovem rei terminou pagando, com a própria vida, os seus erros, vindo a sucumbir na Batalha de Alcácer-Kibir, em 4 de agosto de 1578.
Informado a respeito do notável volume de falsificação do cobre de procedência estrangeira, que se encontrava em circulação no Reino e nas terras conquistadas (Brasil, inclusive), D. Sebastião I baixou a Provisão de 3 de Março de 1568, reduzindo o valor das moedas de cobre em curso. O patacão de 10 reais passou a valer 3 reais; a moeda de 5 reais passou a ter o valor de 1,5 reais e a moeda de 3 reais deveria ser aceita somente pelo valor de um real. Por fim, a moeda de real passou a valer apenas 1/2 real. A medida visava, principalmente, evitar a fuga de numerário para a Colônia; controlar as falsificações que se alastravam, e estimular o uso de moedas de baixo valor, usadas principalmente como troco (o valor circulatório da moeda de Real foi reduzido em 50%, enquanto a de X Reais, em 70% do seu valor nominal).
O documento partiu de Lisboa no dia 29/03/1568 com destino ao Brasil; chegou à Bahia em 17/09 do mesmo ano e no mesmo dia foi enviada para as capitanias do Rio de Janeiro, Porto Seguro, Espírito Santo e São vicente. Na cidade de Salvador, Baía de Todos os Santos, depois de retificada pelo próprio Ouvidor Geral e já trasladada nos livros da Câmara pela certidão recebida de Lisboa (passada a 29 de março de 1568) foi registrada na Bahia em 17 de Setembro de 1568. Uma vez publicada nas Capitanias de Porto Seguro, São Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro, entrou em vigor.
Trata-se do primeiro documento que determina — e oficializa de forma explícita — a circulação de moeda metálica no Brasil. Nela, como já esclarecido anteriormente, para desestimular a crescente produção de numerário falso, D. Sebastião reduziu o valor da moeda que estava circulando no reino e na conquista portuguesa na América. Foi esse sistema monetário primevo (10; 5; 3 reais e 1 real) a circular oficialmente no Brasil.
Determinou-se a baixa da moeda de cobre lavrada para circulação, ordenando ainda que fosse recebida com os valores reduzidos ”...em todos os meus Reynos e senhorios, e que pessoa algua as não engeite sob as penas contheudas em minhas ordenações...”
Figura: O Real de D. Sebastião, da Provisão de 3 de março de 1568, emitida 7 anos antes da epidemia de peste que se alastrou por Veneza e por toda a Europa, oriunda da China.
A PESTE NO BRASIL
O final do século XIX fora um momento profícuo para o estudo da peste bubônica. Em um momento de acelerada expansão comercial marítima, controlada pela Europa, uma grave epidemia da doença surgiu na China, em 1894, rapidamente se espalhando para Índia e Indochina, áreas de interesse estratégico de França e Inglaterra. Nesses locais, com o apoio das autoridades metropolitanas, cientistas de diversas nacionalidades realizaram estudos,buscando identificar o agente etiológico da peste. Os poucos casos registrados no Brasil, se deram em Santos e São Paulo, entre os anos de 1899 e 1900, desaparecendo misteriosamente, não chegando a se propagar, provavelmente, devido às medidas sanitárias impostas na época, graças aos esforços de Emílio Ribas de Oswaldo Cruz.
Moeda de ouro do Brasil, cunhada durante o príodo em que foram registrados os primeiros casos de peste no país, em Santos e São Paulo.
A GRIPE ESPANHOLA
A GRIPE de 1918-1919 foi a maior epidemia de influenza (os italianos adotaram o termo influenza por volta do ano 1500 para doenças atribuídas à ‘influência’ das estrelas) que já atingiu a Terra na história registrada. Esta horrível pestilência se espalhou por quase todas às partes do planeta. Em poucas semanas, relativamente, matou mais pessoas do que as que pereceram na Primeira Guerra Mundial. A maioria das mortes ocorreu em poucos meses de um único ano. Afirmou certa autoridade: "Se a epidemia continuasse em seu ritmo matemático de aceleração, a civilização poderia facilmente desaparecer da Terra em questão de algumas semanas mais."
A gripe surgiu, primeiramente, na primavera da Europa setentrional, em 1918. Era relativamente branda, um caso durando três dias. Todavia, no outono daquele mesmo ano, apresentou-se a mutação genética da variedade mortífera. Foi observado que aqueles que anteriormente ficaram com a “gripe dos três dias” em geral pareciam imunes aos “germes mortíferos”.
Alguns disseram que a epidemia de gripe começou na Espanha, daí o nome de “gripe espanhola”. Madri foi duramente assolada pela gripe em maio de 1918. No entanto, já se tinha visto a gripe na China, e nos Estados Unidos em março de 1918. Realmente, ninguém parece saber precisamente onde começou ou como., mas a hipóteses masi aceita hoje, é a de que a sua origem seja a Ásia.
Um dollar de 1918, ano em que a Gripe Espanhola chegou aos EUA
Boston, EUA, é ainda considerada como o ponto inicial da mortífera gripe nos EUA. Em poucos dias, espalhou-se rapidamente para a costa leste do país. Quase que simultaneamente, a gripe assolou os acampamentos do exército em todo o território. Camp Grant, em Rockford, Illinois, foi duramente atingido; dez mil pessoas ficaram acamadas. Em questão de vinte e quatro horas, 115 soldados haviam morrido. O número se aproximava das médias diárias mais altas de estadunidenses mortos em batalha.
O estado mais atingido foi o de Pensilvânia, com amis de 300 mil casos e 10.000 mortes em menos de duas semanas. Na Filadélfia, duzentos corpos foram colocados num necrotério construído para trinta e seis pessoas. Os mortos eram empilhados, três ou quatro em cima dos outros, nos corredores e nos quartos. A maioria não foi embalsamada, de modo que o mau cheiro era terrível nas caâmars sem refrigeração. Quando houve súbita escassez de caixões na cidade, uma oficina de consertos de bondes foi transformada em fábrica de caixões.
A "espanhola" se espalhou por toda a Terra. Em certa região remota da África Central, um oficial colonial inglês relatou ter encontrado povoados de 300 a 500 famílias eliminados pela gripe. O matagal estava crescendo de novo. Relatórios provindos do norte da Pérsia diziam que num povoado após outro não havia sobreviventes. Muitos povoados esquimós no Alasca foram devastados até o último homem e a última criança. A gripe foi para as ilhas do Pacífico; no Taiti, onde 4.500 pessoas morreram em questão de quinze dias, os corpos foram empilhados em piras que ardiam sem cessar.
Acredita-se que apenas dois lugares no mundo escaparam da epidemia mundial: Sta. Helena, uma ilha de menos de 125 quilômetros quadrados no Atlântico Sul, e Maurício, ilhota no Oceano Índico.
O QUE SABEMOS HOJE SOBRE AS EPIDEMIAS DE GRIPE
Em 1997, um cientista e mais quatro ajudantes esquimós desenterraram o corpo de uma jovem da camada de terra congelada no povoado de Brevig, na península Seward, Alasca. Ela estava lá desde 1918, quando caiu vítima da gripe.
Por que examiná-la depois de morta? O cientista esperava que o agente causador da gripe ainda estivesse em seus pulmões e que, por meio de técnicas genéticas avançadas, pudesse ser isolado e identificado. Por que esse conhecimento pode ser útil? Para responder, precisamos entender um pouco mais sobre como os vírus funcionam e o que os torna tão perigosos.
UM VÍRUS CAPAZ DE MATAR
Atualmente sabemos que a gripe, ou influenza, é causada por um vírus que pode espalhar-se por meio de secreções respiratórias expelidas por tosse, espirro ou ao conversar. O vírus está presente no mundo inteiro, até mesmo nos trópicos, onde pode manifestar-se em qualquer época do ano. No Hemisfério Norte, o período de maior ocorrência da gripe é de novembro a março; e no Hemisfério Sul, de abril a setembro.
O vírus influenza tipo A, o tipo mais perigoso, é pequeno em comparação com outros vírus. Geralmente é esférico, com algumas saliências na superfície. Quando o vírus infecta uma célula humana, se reproduz tão rápido que, em cerca de dez horas, entre 100 mil e 1 milhão de novas “cópias” do vírus rompem a célula e saem.
A característica assustadora desse organismo simples é sua alta velocidade de mutação. Como o vírus se reproduz muito rápido (muito mais rápido do que o HIV), suas “cópias” não são exatas. Algumas são diferentes a ponto de não serem detectadas pelo sistema imunológico. É por isso que enfrentamos diferentes vírus gripais todo ano, cada um com um novo conjunto de antígenos que desafiam nossa imunidade. Se os antígenos mudarem o suficiente, nosso sistema imunológico terá poucas defesas contra o vírus e há o risco duma pandemia.
Além disso, os vírus da gripe também infectam animais, e é aí que está o problema para os humanos. Acredita-se que o porco possa ser hospedeiro de vírus que infectam galinhas e patos, mas também, de vírus que infectam os humanos.
Assim, se um porco ficar infectado com os dois tipos de vírus ao mesmo tempo, um que infecta animais e outro que infecta humanos, os genes dos dois vírus podem se misturar, resultando numa cepa, ou variação, totalmente nova de influenza, à qual os humanos não têm imunidade. Alguns acham que comunidades rurais onde aves, suínos e pessoas vivem em proximidade — como é bem comum na Ásia, por exemplo — são prováveis fontes de novas cepas de vírus da gripe.
POR QUE SE TORNOU TÃO MORTAL
A dúvida é o que poderia ter tornado o vírus de 1918-19 um causador de pneumonia mortal em pessoas jovens. Apesar de não ter restado nenhum vírus daquela época vivo, já há muito tempo os cientistas achavam que, se encontrassem um espécime congelado do vírus, poderiam isolar seu RNA intacto e descobrir o que o tornou tão mortal. Eles realmente tiveram sucesso até certo ponto.
Graças ao espécime congelado obtido no Alasca, descrito no início deste artigo, uma equipe de cientistas conseguiu identificar e seqüenciar a maior parte dos genes do vírus de 1918-19. No entanto, os cientistas ainda não descobriram o que fez com que ele fosse tão mortal. Aparentemente, aquela cepa tinha parentesco com um vírus que infecta porcos e aves.
PODE ACONTECER DE NOVO
Segundo muitos especialistas, a questão não é se um vírus violento vai retornar mas sim, quando e como isso vai acontecer. De fato, alguns estimam que um surto relativamente grande de influenza aconteça a cada 11 anos, e um surto severo, a cada 30 anos aproximadamente. De acordo com essas estimativas, o prazo para o surgimento duma nova pandemia já se esgotou.
A revista médica Vaccine noticiou em 2003: “Já se passaram 35 anos desde a última pandemia de influenza, e o período mais longo já registrado com precisão entre duas pandemias é de 39 anos.” O artigo acrescenta: “O vírus causador da pandemia pode surgir na China ou num país vizinho e incluir antígenos e características de virulência provenientes de vírus que atacam animais.”
A revista previu acerca do vírus: “Ele vai se espalhar rapidamente pelo mundo todo. Acontecerão várias ondas de infecção. A morbidade será abrangente em todas as idades e haverá interrupção de atividades sociais e econômicas em todos os países. A enorme mortalidade será evidente na maioria das faixas etárias, para não dizer em todas. É improvável que os sistemas de saúde consigam lidar adequadamente com a demanda por assistência médica, mesmo nos países mais desenvolvidos em sentido econômico.”
Até que ponto esse quadro é alarmante? John Barry, autor do livro The Great Influenza (A Grande Influenza), fornece a seguinte descrição: “Um terrorista com uma arma nuclear em mãos é o pesadelo de todo líder político; uma nova pandemia de influenza também deveria ser.”