A Moeda no Mundo Antigo


Moeda é um instrumento de intermediação de troca que estabelece o valor dos objetos trocados, representando a sua equivalência. É um meio intermediário de escmbo (escâmbio, troca, permuta), dessa forma facilitando a troca comercial. Sua função é, única e exclusivamente, aquela de representar o valor de um bem, deixando a quem a recebe em pagamento, a decisão de receber moeda ou mercadoria equivalente. Tratar a moeda como mercadoria tem sido um dos erros dos governantes a partir do final do século XIX,  com a mudança do entendimento do conceito de riqueza. Perdendo sua função principal, e sendo extremamente desejada, a moeda passou a ser vítima de constante especulação, fazendo com que por vezes lhe seja atribuído valor maior ou menor do que realmente representa, gerando inflação, recessão e outros problemas derivados do seu mau emprego.


Das moedas de contagem às moedas metálicas

Presume-se que há pelo menos 35 mil anos, instrumentos de caça e pesca, e mesmo as rudimentares armas de guerra, deviam se prestar a objetos de troca, possuindo um “preço” estabelecido através de uma prática comercial que, apesar de primitiva aos nossos olhos, era eficaz para a sobrevivência dos grupos humanos que vagavam pelo planeta. O desenvolvimento da pecuária e da agricultura acabou por relegar as atividades de caça e pesca a uma função secundária; dessa forma outros bens passaram a regular as atividades de troca.

Entre os povos pastores, o objeto principal de referência de troca não podia ser outro que a ovelha, enquanto aqueles que se dedicavam a agricultura e à pecuária usavam o boi como moeda. Era importante que estes animais possuíssem uma função de medida comparativa de valor, de forma a servir como instrumento de troca numa economia que era fundamentada essencialmente na atividade agrícola.

Com o lento progresso do comércio e do tráfico e também devido ao desenvolvimento social dos vários povos existentes sobre a Terra, desenvolveu-se paulatinamente um sistema de medidas que acabou por criar uma unidade de peso que passou a agir como “moeda”, intermediando trocas e passando a associar, aos bens materiais, um determinado valor.  Através de sucessivas transformações, diversos sistemas metrológicos foram criados sendo aquele duodecimal, por derivação sexagesimal, o mais usado e de clara origem religiosa, em uso na Babilônia.
Alguns gêneros de produtos, pela sua utilidade, passaram a ser mais procurados e aceitos do que outros, passando a assumir a função de moeda, circulando como elemento intermediário na troca por outros produtos e servindo para avaliar-lhes o valor; eram as chamadas moedas-mercadoria. O gado e o sal eram bem aceitos como instrumento de troca e acabaram por deixar registros em nosso vocabulário. Até hoje empregamos palavras como pecúnia (dinheiro) e pecúlio (dinheiro acumulado), derivadas da palavra latina pecus (gado).

A palavra capital (patrimônio) vem do latim caput (cabeça). A palavra salário (remuneração, normalmente em dinheiro, devida pelo empregador pelo serviço do empregado) tem como origem a utilização do sal, que na antiga Roma servia como pagamento de serviços prestados aos soldados.
Com o passar do tempo, tais mercadorias tornaram-se um inconveniente às transações comerciais, não só em virtude da oscilação de seu valor, mas principalmente por não serem fracionáveis, além de facilmente perecíveis, não permitindo o acúmulo de riquezas.
Com o tempo se fez extremamente necessária a introdução de um elemento capaz de representar todas as mercadorias, de tal forma que pudesse agilizar as trocas. Se uma determinada mercadoria fosse do interesse de alguém, bastaria pagar por ela, sem a necessidade de troca. Basta imaginar dois comerciantes, com duas mercadorias distintas A e B. O proprietário da mercadoria A deseja a mercadoria B, mas o proprietário desta não tem interesse na mercadoria A, e sim numa terceira mercadoria C, vendida em outra cidade.

É fácil entender como a moeda facilita o processo. Basta que o dono da mercadoria A pague, com moeda, pela mercadoria B; este por sua vez, com a moeda recebida, satisfaz seu desejo em adquirir a mercadoria C, pagando por ela com a mesma moeda recebida. 
Assim, a dificuldade criada pela falta de interesse em um determinado gênero, deixava de ser um problema. Antes da introdução da moeda, no momento em que seu proprietário necessitava efetuar a troca por víveres, por exemplo, se ninguém se interessasse por sua mercadoria, um problema sério se apresentava.

A  criação de um elemento de interesse comum (a moeda), criou a possibilidade real de uma troca, bastando para tal estar de posse desse elemento intermediário. O comerciante poderia, por exemplo, negociar seu produto em outra região, trocando-o pelo novo elemento introduzido, o que lhe daria a possibilidade de obter víveres quando e onde pretendesse.  
A primitiva forma de vida social se baseava num sistema simples de permutas, onde a mercadoria trocada deveria ser pesada a cada vez que se verificasse a intenção de uma negociação comercial. Porém, bastava que aumentassem as espécies de mercadorias trocadas para surgirem as dificuldades de gerir este processo.

A moeda, como hoje a conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. No início das tratativas comerciais não existia, praticando-se o escâmbio ou escambo, a simples troca de mercadoria por mercadoria. A moeda representa o rompimento do vínculo com o processo de trocas que a antecedeu.
Quando o homem descobriu o metal, logo passou a utilizá-lo para fabricar seus utensílios e armas, anteriormente feitos de pedra.

Por apresentar inúmeras vantagens como a possibilidade de entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal impôs-se como o principal padrão de valor, sendo trocado sob as mais diversas formas; a princípio, em seu estado natural, em seguida sob a forma de barras e, ainda, na forma de objetos como anéis, braceletes, etc. Os utensílios de metal passaram a ser mercadorias muito apreciadas. Sua produção exigia, além do domínio das técnicas de fundição, o conhecimento dos locais onde poderia ser encontrado. Essa produção, naturalmente, não estava ao alcance de todos.

Os sumérios (habitantes da Mesopotâmia que em tempos remotos haviam inventado a escrita), através de seus sacerdotes, se encarregaram de escolher os metais mais convenientes a servir de intermediário nos processos de troca. Foram escolhidos o ouro (sagrado disco solar) e a prata (consagrada à lua). A relação entre os dois metais foi estabelecida na razão de 1 para 13 ⅓, correspondendo, ao que parece, à relação astronômica entre o ano solar e os meses lunares. Sendo os pioneiros no desenvolvimento da série infinita dos números, os sumérios usaram como base de sua avaliação o sistema duodecimal, possibilitando a subdivisão em 3 e 4, aparentemente menos cômodo que 10 (sistema decimal), que corresponde aos dedos das mãos. 

Os metais preciosos, a exemplo do que hoje fazem os bancos, ficavam sob custódia dos templos, onde os sacerdotes determinavam as importantes e delicadas operações que regulavam as trocas de mercadorias e aluguéis, recuperando inclusive a parte reservada às autoridades. Porém, tal conceito de dinheiro tinha um caráter abstrato e aos talentos, às minas e aos ciclos não correspondiam as relativas moedas e portanto era lógica a sensação de “falta de recursos próprios” que experimentavam os negociantes e a população em geral por não possuírem, materialmente, o valor do seu produto.

Os Fenícios efetuavam trocas com os índios da África ocidental, recorrendo a um sistema mais tangível e imediato: Colocavam na areia da praia aquilo que pretendiam oferecer e retiravam-se para os seus navios. Os indígenas observavam o que lhes era oferecido e colocavam junto à cada tipo de mercadoria, a quantidade de ouro em pó que acreditavam ser adequado à troca e se retiravam. Se os Fenícios estivessem de acordo, pegavam o ouro e a troca era concluída, caso contrário a operação era repetida até quando fosse atingido um resultado de comum acordo.

A primeira solução a essa natural aspiração do homem em realizar trocas, encontrou sua aplicação na Babilônia onde se faz referimento a pesos fixos de prata, substituídos depois por pesos de cobre e em seguida de bronze. Mas é na Grécia que encontramos a primeira moeda, mesmo que esta ainda se concretizasse na estranha forma de “espetos de ferro” (denominados obelos), longos mais de um metro e que eram dados inicialmente aos juízes, como forma de compensação por serviços prestados. O mesmo compenso dizia respeito aos simples cidadãos quando estes “espetos” lhes eram concedidos por ocasiões de festas e cerimônias.

Foi com a finalidade de exercer a função de meio de troca comercial que, no século VII  a.C. nasce, na Lídia, a moeda como a conhecemos hoje, em sua forma metálica. Entre 629 e 600 a.C. aparecem os primeiros discos metálicos de várias dimensões, sobre os quais o Rei havia ordenado que se colocasse o próprio sigilo. Esses discos eram de electron (uma liga natural de ouro e prata) que em pouco tempo foram substituídos por discos de ouro puro, o metal nobre por excelência que desde a antiga Babilônia era considerado como um bem, dando-lhe valor pleno. Aconteceu no VI século a.C. sob o reinado de Creso (561 – 546 a.C.), famoso por sua imensa riqueza. Esse fenômeno foi, certamente, o resultado de um processo que durou séculos e, seguramente, não se tratou de uma invenção casual. Além disso, a escopo de materializar o conceito abstrato de número, foi adotada como base a libra de prata que em seguida foi chamada com o nome latinizado de mina. O seu múltiplo era o talento, equivalente a 60 libras de prata. A mina foi dividida em 60 ciclos onde cada um correspondia a 180 gramas de trigo.

A valorização cada vez maior dos utensílios levou à sua utilização como moeda e ao aparecimento de réplicas de objetos metálicos, em pequenas dimensões, a circularem como dinheiro, como as moedas faca e chave, encontradas no Oriente, e do talento, moeda de cobre ou bronze, com o formato das vestes feitas de pele de animal, encontradas na Grécia e em Chipre.

Figura: Reis da Macedônia. Filipe II (359-336 aC). Magnífico Stater de ouro (8,56 g), com belíssima pátina e excepcional estado de conservação. Casa da Moeda de Kolophon (Sicilia e Magna Grecia). Batida sob o reinado de Filipe III, por volta de 323-319 a.C. Anv: Busto laureado de Apollo, voltado à direita com as características de Alexandre, o Grande. Rev: Biga com condutor, em posição de combate, com lança na mão direita. Tripé, embaixo, à direita. Thompson, “Posthumous Philip II Staters of Asia Minor”.

Figura: Lucânia - Sybaris - Cunhagem incusa (550 - 510 a.C.)


Com o advento da moeda como instrumento intermediador da troca, foram criadas as primeiras bases da moderna sociedade industrial, permitindo ao homem liberar-se do milenar comércio da simples troca e construir a economia como hoje a conhecemos. Porém, o ouro e a prata sempre foram entendidos como a riqueza real, aquela tangível, e que hoje serve (ou pelo menos, deveria servir) de lastro ao dinheiro de papel em circulação.
Figura: Áureo, Otaviano Augusto, Casa da Moeda incerta. Anv: CAESAR, busto laureado voltado à esquerda. Rev: AUGUSTUS, boi (pecus) caminhando, voltado â esquerda. 3 exemplares conhecidos. 

Sistemas de Numeração

O sistema sexagesimal é um sistema de numeração de base 60, criado pela antiga civilização Suméria. Uma possível razão para o aparecimento deste sistema de numeração talvez resida no elevado número de divisores de 60 (1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30 e 60). Outra hipótese poderá vir de uma união de um sistema de contagem de base 5 com base na contagem dos dedos da mão, aliado ao sistema de contagem de base 12 que usava o método das três falanges. O sistema consistia em contar as falanges dos dedos da mão direita, utilizando o polegar, totalizando doze falanges (três falanges em quatro dedos); com os cinco dedos da mão esquerda, contam-se as dúzias, totalizando cinco dúzias ou seja 60.

Pode ter sido criado em função da medida do tempo; o ano de 360 dias correspondia ao giro de 360 graus. Dois pontos distintos de uma circunferência e que delimitam um arco correspondente à sexta parte da circunferência, determinam uma corda igual ao raio, e a sexta parte do ano correspondia a 60 dias. Desta forma, os números 6 e 60 podem ter origem na medida do tempo e/ou no estudo da geometria, onde 60 é a medida de cada um dos três angulos do triângulo equilátero, construído com os raios da circunferência e a corda que subentende um arco de medida sexagesimal igual a 60. Além disso, uma hora é dividida em 60 minutos e um minuto, em 60 segundos.
Com um círculo dividido em 24 partes, cada uma correspondendo a uma hora, temos um total de 1440 minutos que correspondem a 360 graus. Desta forma, um grau corresponde a 4 minutos. 
Enquanto o sistema decimal trabalha com múltiplos e submúltiplos de 10, aquele sexagesimal trabalha com múltiplos e submúltiplos de 60. O sistema sexagesimal ou babilônico (figura abaixo), ao que tudo indica remonta a 3000 a.C.. É considerado finito, ou seja, completo e derivado de base científica como o nosso sistema métrico decimal. Os outros sistemas metrológicos que surgiram posteriormente e que se impuseram sobre os outros como o dos egípcios e aquele dos romanos, faziam uso de grandezas que não derivavam umas das outras, mas sim dos aspectos da vida econômica. Porém se serviam também do sistema decimal que por diversos motivos não teve ampla e duradoura utilização. Todavia, frequentemente vimos os dois sistemas sendo empregados contemporaneamente, deixando claro que também a conveniência e os aspectos da vida econômica influenciavam, como ainda o fazem, a determinação dos padrões de troca.



Em um determinado estágio, certamente muito remoto, do sistema metrológico, a determinação dos pesos se baseou em uma unidade menor, fornecida pela própria natureza, como o grão de trigo na Europa ou a semente de liquirizia na India.

Nem sempre, e não necessariamente, a troca entre vários bens devia acontecer usando materialmente aquele determinado bem que fazia as vezes de moeda e ao mesmo tempo de peso. Um determinado peso (quantidade) de grãos de trigo ou de qualquer outro cereal podia servir de intermediário na troca entre bens diferentes, servindo de mediador a fim de complementar um ou outro.
Em respeito a precedentes etapas da evolução da humanidade, foi relativamente fácil associar a moeda de conto com uma unidade de referência monetária, através das sucessivas trocas de bens que se podiam pesar.

Neste estágio do desenvolvimento da moeda algumas unidades de medida começaram a se impor, a exemplo do talento que, entre vários povos do Médio Oriente e depois na Grécia e suas colônias, foi adotado como medida de peso para, posteriormente, se prestar como moeda de conto. Servia, ao mesmo tempo, como peso e moeda de referência, constituindo-se como um meio prático, possibilitando que se fizesse uma comparação na hora da troca dos vários bens criando, por assim dizer, um valor para cada um deles. Um talento de grãos de trigo por 2 talentos de grãos de cevada, ou alguns talentos de cevada por uma ovelha. Assim, com o passar do tempo, chegamos aos talentos de bronze por um boi, até que num dado momento o metal passou a fazer parte das trocas entre os diversos bens, entrando definitivamente na vida dos homens. Em seguida o talento passou a fazer referência também aos metais preciosos, ao ouro, à prata e ao electro.

Sicília, Leontini. 450 ; 440 a.C. ca., tetradracma de prata. Cabeça de Apolo a direita, com ramo de louros. Cabeça de leão circundada por quatro grãos.
A esta mudança nos processos de troca correspondeu também  uma profunda transformação na vida social das civilizações. Após uma fase inicial praticamente agrícola sucedeu-se uma vida comercial sempre mais intensa, fazendo com que as pessoas se transferissem dos campos para os aglomerados populacionais que se constituiam nas bases das futuras cidades. Se a civilização dos tempos de Homero evidenciava a importância do homem de acordo com sua propriedade agrícola e através do número de bois que possuía, num futuro próximo o rebanho iria ceder seu posto de supremacia ao meio que viria a permitir a obtenção de tudo aquilo que se desejasse, ou seja, a moeda que permitiu aos comerciantes a troca de bens entre regiões distantes entre si onde, de uma forma cômoda, podiam transportar o instrumento que passou a substituir os anteriores que eram utilizados nos processos de simples troca.

Figura: Reis selêucidas da Síria. Alexandre I Balas, 152 a 145 a.C.  Tetradracma. Casa da Moeda de Ake-Ptolemais. Comemorativa de casamento, cunhada em 150 a.C. Bustos conjugados de Cleópatra Thea, velado, diademado, vestindo Kalathos, com cornucópia sobre os ombros, e cabeça de Alexandre, diademada, a esquerda./Zeus Nikephoros sentado a esquerda; Nike de pé, segurando raio.
REIS DA MACEDÔNIA. Alexandre III “O Grande”. 336 a 323 a.C. Tetradracma, Casa da Moeda de Amphipolis. A/Cabeça imberbe de Hércules, voltada à direita. R/Zeus sentado ao trono, com águia na mão direita e cetro na esquerda. 
Ásia Menor - Lydia - Creso / 561 a 546 a.C.
SICÍLIA, Entella. Cunhagem sículo-púnica. 345-320 a.C. Tetradracma. Cabeça de Aretusa voltada à direita, usando brinco de triplo pendente e colar. Quatro golfinhos ao redor. Cavalo à direita, em frente à palma.
Na Grécia, o nome da moeda base não variou muito daquele que indicava o primitivo espeto. Obelos se transformou em óbulos5, sendo o “óbulo de prata” a unidade monetária grega que, agrupada em um número de 6, dá origem ao dracma. Os pesos do dracmas variam de acordo com a época, situando-se entre os valores 4,3 e 4,0 gramas no I século a.C.. O dracma corresponde a centésima parte da “mina” dos sumérios.

Tetradracma - Tarentum - Calábria 315 a.C.
Cunhagem grega, Ática, Atenas, tetradracma cerca 454-404 d.C.
Tetradracma - Período arcaico, V século a.C.
Cunhagem grega, período helenístico
Decadracma assinado Euainetos, medalhista grego. Cabeça de Aretusa - Sicília, Siracusa. Dionisio I. 405-367 a.C. 

PROCEDIMENTOS DE CUNHAGEM

Foi na Lídia, atual Turquia, durante o reinado de Creso, segundo a teoria mais aceita atualmente, que apareceram as primeiras moedas. Eram cunhadas com um malho (figura abaixo), onde o cunho de anverso era gravado manualmente em um “tarugo” (pilha ou cunho superior). Um pedaço de metal, ouro ou electro aquecido era colocado sobre outro tarugo (troquel ou cunho inferior), que estava firmemente apoiado em um cepo. O moedeiro então desferia um golpe, uma pancada na pilha transferindo o cunho para o metal. Estava pronta uma moeda. Um processo artesanal e demorado, mas que perdurou por vários séculos.

Outro processo muito usado para a produção de moedas foi a fundição. O metal derretido era escorrido para dentro de moldes de areia ou barro que, depois de esfriados, eram abertos ou quebrados dando origem às moedas. Esse era o processo usado na fabricação dos pesados Aes Rude romanos.

Técnicas para a realização da moeda

Essencialmente, para realizar uma moeda, desde a antiguidade até os nossos dias, a grosso modo podemos dizer que foram utilizados dois processos, a fusão e a batida por golpe ou pressão.

A fusão - A técnica da fusão consiste em aquecer até fundir o metal ou a liga que se quer cunhar, e posteriormente derramá-lo em formas ocas que contém o desenho inciso. Quando o metal esfria, abre-se a forma e se destacam as moedas; uma passagem a mais consiste na lima, que permite corrigir imperfeições.
Tanto o Aes Signatum quanto o Aes Grave eram obtidos derramando cobre fundido em formas pré-moldadas. Mesmo diante de alguns inconvenientes, a técnica da fusão apresentava diversas vantagens: era rápida, não requeria mão de obra altamente especializada e permitia saltar a fase preparatória dos cunhos, muito longa.

Por outro lado as moedas fundidas apresentavam desvantagens: tinham pesos variáveis, apresentavam relevos atenuados e poucos claros e, o problema mais sério, eram facilmente falsificáveis. Além disso, resultava impossível, uma vez que a moeda esfriava, corrigir eventuais desproporções no peso. 

A escolha desta singular técnica, sem dúvida um tanto quanto primitiva, derivava do fato que as moedas de grande dimensões (uma ou mais libras) não se podiam obter com a técnica da cunhagem. Além disso, acreditamos que o espírito pragmático dos romanos preferisse uma produção simples, sem muitas “firulas”, por assim dizer “viril” devido a uma cultura muito particular daquele período. 


O Aes Signatum era fundido em moldes singulares, podendo ter formas diversas. O modelo mais simples consistia em duas válvulas unidas, nas quais vinha derramado o metal fundido em formas sobrepostas verticalmente, uma sobre a outra, de modo que o metal fundido enchesse todos os moldes passando por apósitos canais entre as formas. 
O bloco era mantido em vertical, enquanto o cobre fundido, versado do alto, atravessava todas as formas enchendo-as a partir daquela mais baixa. Quando o metal esfriava, abria-se a forma e as moedas eram destacadas, umas das outras, com o auxílio de tesourões. A marca tangível dessa técnica é a presença de dois ligamentos de fusão a 180° na borda da moeda: um para o ingresso do metal fundido, o outro para a sua saída até encher. Frequentemente esses cortes eram rudes e deturpavam o bordo da moeda. Um outro método previa uma forma a cacho, com as moedas dispostas como uvas em um ramo. Em tal caso, observa-se somente um ligamento de fusão na moeda.

As formas, reutilizadas diversas vezes, eram feitas em pedra tenra (arenária) ou em terracota. A forma em terracota, muito mais fácil de modelar, podia queimar devido às sucessivas fusões, produzir erosão nas superfícies e portanto gerar moedas com peso alterado. Por outro lado, formas em terracota, mesmo quando vinham usadas na produção de singulares moedas como estampa, produziam exemplares abaixo do peso legal, devido ao fenômeno de redução de volume do metal na passagem do estado fluido ao sólido. Acontecia algumas vezes que as duas válvulas das formas não se encaixassem perfeitamente, gerando moedas com os dois lados defasados, não perfeitamente sobrepostos. 

Dada a técnica de produção, não raramente se vêem na superficie das moedas furos devidos às bolhas “armadilhadas” no cobre fundido. Os traços das moedas fundidas são grosseiros, e apesar de privadas de detalhes, execre grande fascínio nos numismatas. Os relevos, especialmente dos nominais de maior peso, eram muito altos. Completivamente eram moedas imponentes, feitas para impressionar, um lógico corolário à austera cultura da Roma republicana. 


A batida - Permitia a obtenção de moedas de pequenas dimensões, em grande número, e com um elevado detalhe dos relevos, em troca de um escasso espessor, dado que os detalhes devem ser retirados da própria espessura do disco virgem e a impressão do cunho não consente grandes variações de cota e aumento dos relevos.
A cunhagem da moeda necessita de uma série de operações, da realização do cunho à preparação dos discos; do corte destes à cunhagem e aos detalhes e ajustes finais, que requerem um ciclo industrial refinado e evoluído. 
Não se pode prescindir do conhecimento e maestria da produção e uso do aço, por exemplo, dado que somente com um cunho mais duro do que o material do disco a ser cunhado, se obtém a impressão da figura a relevo na moeda. 
Para cunhar moedas é portanto necessária a presença contemporânea de diversos trabalhadores e artesãos (mineradores, fusionistas e metalúrgicos, incisores e polidores); num elevado nível de civilidade e tecnologia.

A realização do cunho - Na ponta de um cilindro de ferro, do diâmetro da moeda que se quer realizar, vem confeccionada, com um buril nas mãos de um artesão altamente especializado, a figura que se quer cunhar na moeda. Tal figura vem incisa ao contrário, em negativo (é como se pegássemos uma moeda e olhássemos sua imagem refletida num espelho).
Além disso, desejando que o relevo seja invertido, é necessário  realizar o cunho em relevo. Por outro lado, quando se deseja que os detalhes da moeda estejam em alto relevo, se deve “cavar” no cunho. Obviamente, sendo uma moeda composta por duas faces, se devem realizar dois cunhos, que são usados contemporaneamente. Caso fossem usados em batidas separadas, a segunda apagaria ou arruinaria a primeira. Uma vez realizados os cunhos, vinham temperados para que fossem mais duros que o metal a ser cunhado. 

Preparação dos discos para as moedas - Os metais eram essencialmente a prata, algumas vezes o ouro, o cobre, ou mesmo algumas ligas metálicas, entre as quais o electro (cobre + prata), e outras ligas de baixo teor de prata ou ouro. O metal, ou o material obtido com a liga metálica que se queria utilizar, vinha antes pesado e depois derretido, à temperaturas que superavam os 1000° C. Para realizar tal operação, era necessária uma Casa de Fundição muito eficiente. 
Depois de fundido, o metal era versado em estampilhas, a fim de se obter chapas lisas de metal. A este ponto, com sucessivos reaquecimentos e potentes golpes de martelo, se reduziam as chapas à lâminas do espessor desejado. Essas lâminas eram posteriormente cortadas em discos da dimensão da moeda que se pretendia realizar. A operação era feita com tesourões, e o acabamento era realizado com o auxílio de uma lima para se obter uma forma mais ou menos regular. Obviamente todas as limagens e rebarbas eram recuperadas para serem posteriormente fundidas e reutilizadas. 

A cunhagem da moeda - Colocando um disco entre as duas superficies dos cunhos (a base apoiada em uma bigorna, e a “cabeça” em cima do disco) com um preciso golpe de martelo sobre os mesmos, a moeda recebia a sua estampa em ambos os lados. Se fosse necessário, ao final dessa operação, com a moeda já estampada, o disco poderia ser limado um pouco mais para eliminar imperfeições. 
Existe também a técnica da impressão, com o disco colocado em baixo de uma prensa a torque, ao qual é aplicado o cunho. Assim, por pressão, se realiza a moeda. É um pouco mais lenta, porém mais eficaz, e vem usada em tardo período.


Limar e pesar - A moeda poderia ser retocada com um banho de vinagre e sal, a fim de torná-la mais lúcida e vistosa, além de remover a eventual oxidaçâo. Era posteriormente pesada e controlada por um responsável da Casa da Moeda, que certificava a pureza e a contagem da produção. Esses processos foram melhorados com o tempo, graças à invenção de diversos tipos de máquinas e ferramentas. 



Um dos tipos mais notáveis foi o criado no século XVI, com a invenção do balancim (figura ao lado), também chamado de prensa de parafuso ou rosca. Eram dos mais variados tamanhos, para cunhar das menores moedas até os grandes patacões. Aos poucos esse “engenho” foi sendo adotado por todas as Casas da Moeda européias e do Novo Mundo. Com exceção das moedas batidas pelos holandeses no Recife, as primeiras moedas cunhadas em solo brasileiro, a partir da abertura da Casa da Moeda da Bahia, em Salvador, em 1694, foram feitas com este tipo de cunhagem conhecida como mecânica.
Em dezembro de 1855, houve um grande avanço tecnológico com a introdução de uma máquina de cunhar movida a vapor. Em 11 de fevereiro de 1860, foi inaugurada na Casa da Moeda, uma prensa a vapor totalmente construída no Brasil, posteriormente adaptada para trabalhar com energia elétrica.

Aos poucos esse “engenho” foi sendo adotado por todas as Casas da Moeda européias e do Novo Mundo. Com exceção das moedas batidas pelos holandeses no Recife, as primeiras moedas cunhadas em solo brasileiro, a partir da abertura da Casa da Moeda da Bahia, em Salvador, em 1694, foram feitas com este tipo de cunhagem conhecida como mecânica.
Em dezembro de 1855, houve um grande avanço tecnológico com a introdução de uma máquina de cunhar movida a vapor. Em 11 de fevereiro de 1860, foi inaugurada na Casa da Moeda, uma prensa a vapor totalmente construída no Brasil, posteriormente adaptada para trabalhar com energia elétrica.


OS METAIS NAS CUNHAGENS DAS MOEDAS

Não existe, até os tempos atuais, autoridade constituída que não tenha dedicado particular atenção à cunhagem de moedas de ouro. Dessa forma, é natural que em qualquer publicação numismática, uma posição privilegiada seja dada a estas moedas que, muito além do valor intrínseco, são extremamente valorizadas pela perfeição artística com que foram elaboradas e pelo seu grau de raridade. O seu emprego primordial deve ser atribuído ao “cuneo”, de valor cinquenta “siclos”, citado na Bíblia. A partir de então, praticamente não existiu um período histórico onde especial atenção não tenha sido dispensada a cunhagem de moedas nesse metal. Notáveis são os áureos romanos, enquanto durante o Império Bizantino, em todo mundo comercial conhecido daquela época, imperava absoluto o “sólido”. Os herdeiros dos sólidos bizantinos têm lugar na Itália, na expressão dos fiorini, zecchini e ducati. Em época moderna, temos escudos, marengos, libras, dólares e as moedas comemorativas cunhadas em diversos países, incluindo o Brasil.

No território nacional, a primeira moeda de ouro genuinamente brasileira foi fabricada pelos holandeses durante o período de ocupação. Conhecidas como obsidionais, estas moedas foram cunhadas nos valores de III; VI e XII Florins, nos anos de 1645 e 1646. Na primeira metade do século XVIII, a elevada produção de ouro possibilitou o funcionamento simultâneo de três casas da moeda e a cunhagem de grande quantidade de peças, cujos valores e beleza testemunham a opulência que caracterizou o período do reinado de D. João V (1706-1750). Inicialmente foram cunhadas, nas casas da moeda do Rio de Janeiro (1703) e da Bahia (1714), moedas idênticas às do Reino: moeda, meia moeda e quartinho, com valores faciais de 4.000, 2.000 e 1.000 réis . Embora com as mesmas denominações das moedas provinciais, essas peças possuíam maior peso e seu valor de circulação era 20% superior ao valor facial.

O estabelecimento de uma Casa da Moeda em Minas Gerais foi determinado em 1720, quando foi proibida a circulação do ouro em pó dentro da capitania. Além de moedas iguais às cunhadas no Reino, no Rio e na Bahia, a nova Casa da Moeda deveria fabricar outras com valores nominais de 20.000 e 10.000 réis, que circulariam com os valores de 24.000 e 12.000 réis, respectivamente. Instalada em Vila Rica, a Casa da Moeda de Minas funcionou no período de 1725 a 1734. Foi nessa época que foram cunhadas as moedas da série conhecida como “DOBRÕES”, sendo a de 20.000 réis - datas 1724 (a mais rara, imagem a seguir), 1725, 1726 e 1727 - a mais pesada (53,78 gramas) e uma das mais belas moedas brasileiras jamais cunhadas.

Em 1722, D. João V alterou a forma e o valor das moedas de ouro portuguesas, criando a série dos escudos, com os valores de 12.800 réis (dobra de 8 escudos), 6.400 réis (dobra de 4 escudos), 3.200 réis (dobra de 2 escudos), 1.600 réis (escudo) e 800 réis (1/2 escudo). Cunhadas no Brasil a partir de 1727, essas moedas trazem no anverso a efígie do rei. Dentro dessa série foi introduzido, em 1730, o valor 400 réis (cruzadinho).

Nos reinados de D. José I (1750-1777) e de D. Maria I (1777-1805), continuou a ser cunhada a série dos escudos, exceção feita à moeda de 12.800 réis, cuja cunhagem havia sido suspensa por D. João V, em 1733. Voltaram também a ser fabricadas as moedas provinciais de ouro, nos valores de 4.000, 2.000 e 1.000 réis, que não eram cunhadas desde 1702.

Figura: Colônia, D. João V - Casa da Moeda de Vila Rica (Minas Gerais); 20.000 réis 1724, letra monetária MMMM; ouro 916,6 ‰, 53,78 gramas, Ø: 38 mm.
Nas moedas de D. Maria I, as efígies representam duas fases distintas de seu reinado. Na primeira ela aparece ao lado do marido, D. Pedro III. Após a morte deste, em 1786, é retratada sozinha, primeiro com um véu de viúva e depois com um toucado ornado com jóias e fitas.
Porém, o metal de cunhagem, por definição é a prata, a qual assume valor de destaque no complexo problema da circulação de moeda. A cunhagem dos dracmas, seus múltiplos e sub-múltiplos, dos antigos gregos e a sua influência no mundo moderno é extremamente relevante no que diz respeito à prata. Papel semelhante assumem os denários e antoninianos romanos, continuando pelo mundo medieval, passando pelas piastras, época em que estavam sendo cunhadas as primeiras moedas de prata brasileiras. Deve-se aos holandeses a primeira moeda de prata genuinamente brasileira, na figura do raríssimo XII soldos de data 1654.

Nas moedas de D. Maria I, as efígies representam duas fases distintas de seu reinado. Na primeira ela aparece ao lado do marido, D. Pedro III. Após a morte deste, em 1786, é retratada sozinha, primeiro com um véu de viúva e depois com um toucado ornado com jóias e fitas.
Porém, o metal de cunhagem, por definição é a prata, a qual assume valor de destaque no complexo problema da circulação de moeda. A cunhagem dos dracmas, seus múltiplos e sub-múltiplos, dos antigos gregos e a sua influência no mundo moderno é extremamente relevante no que diz respeito à prata. 
Papel semelhante assumem os denários e antoninianos romanos, continuando pelo mundo medieval, passando pelas piastras, época em que estavam sendo cunhadas as primeiras moedas de prata brasileiras. Deve-se aos holandeses a primeira moeda de prata genuinamente brasileira, na figura do raríssimo XII soldos de data 1654.
Figura: Colônia, D. João V - Casa da Moeda da Bahia; dobra de 8 escudos (12.800 réis) 1729, letra monetária B; 28,68 gramas ou 8 oitavas de ouro título 916 ‰, Ø: 36 mm.
A reforma monetária executada por Carlos Magno no Sacro Império Romano e que durou nada mais, nada menos que dois séculos, baseou-se exclusivamente na prata, em contraposição ao império Bizantino e aquele muçulmano cujas cunhagens eram realizadas em ouro.
Moedas com esses mesmos valores foram cunhadas também pela Casa da Moeda da Bahia, que em 1729 realizou a primeira cunhagem de moedas de cobre em território brasileiro. Em 1730 foram enviadas para Minas moedas de cobre cunhadas em Lisboa em 1722, nos valores de 20 e 40 réis, com pesos bastante reduzidos, as quais deveriam circular apenas naquela capitania.
No reinado de D. José I, entraram em circulação moedas provinciais de cobre nos valores de 5, 10, 20 e 40 réis, cunhadas em Lisboa e no Brasil.

NOTA: Moedagem Carolíngia ou Carlovíngia - Sob o governo de Carlos Magno, entre 781 e 795, foi realizada uma vasta reforma monetária, transformando uma libra de prata em exatamente 240 denários de ótima liga de prata. A reforma, que havia sido iniciada popr Pepino o Breve, pai de Carlos Magno, previa uma única moeda legal num sistema de monometalismo argênteo. Isso significa que vinha criado o denário, moeda que não possuía nem múltiplos nem sub-múltiplos. O denário era de prata, não prevendo qualquer outro tipo de metal.
Esse sistema monetário prevaleceu na Europa por muitos séculos até que, durante a Revolução Francesa e os acontecimentos a ela ligados, modificaram o sistema que passou a ser decimal, fenômeno que não atingiu a Inglaterra até 1971.
O fato que não possuísse nem múltiplos e nem sub-múltiplos era bem aceito em uma economia ainda não convenientemente desenvolvida, onde as trocas comerciais ainda se davam pelo «escambo» ou onde o denário era apenas utilizado para complementar as trocas. Não sendo prevista cunhagem de algum múltiplo do denário, do seu uso quotidiano nasceu uma solução espontânea. Como de uma libra (peso) eram batidos, na Casa da Moeda, 240 denários, passaram à equivalência 240 denários = 1 «lira» (unidade de contagem).
O denário foi a moeda mais importante do Medievo. A libra, como unidade de peso (na época equivalente a 409 gramas), se transformou assim, também, em unidade de contagem. Como o «soldo» (do valor de 12 denários ou seja, 1/20 de lira), por muito tempo a lira não foi cunhada, permanecendo como mera unidade de contagem.
Por outros 100 anos o denário permaneceu inalterado em peso e liga. Os primeiros «deslizes» dessa regra disciplinar de cunhagem tiveram início no X século. As primeiras ligas de cobre e zinco (961-973 e 973-983) colocaram ordem no sistema consagrando, por assim, dizer, a mudança na liga do denário em termos de peso e pureza: uma «lira» (ou seja, 240 denários) passou de 410 a 330 gramas de liga argêntea mais baixa onde de 390 gramas de prata utilizadas anteriormente, passou-se a 275 gramas.

A denominação nas diversas línguas são: 

Italiano: 240 denários = 20 soldos = 1 libra (peso)
Francês: 240 denier = 20 sol (plural sous) = 1 livre
Catalão: 240 diners = 20 sous = 1 liura
Latino: 240 denarii = 20 solidi = 1 libra
Alemão: 240 Pfennig = 20 Schilling = 1 Pfund
Inglês: 240 penny (pence) = 20 shilling = 1 pound

Na Grã-Bretanha esse sistema monetário foi mantido até a decimalização em 1971. Das iniciais do nome latino (Libra, Solidus, Denarius) foi criada a sigla «LSD-System». Da libra entendida como unidade monetária, deriva o nome da lira, a moeda em circulação na Itália, antes do advento do Euro.

Moedagem Carolingia - Denário, prata, Ø: 21mm, W: 1,19 gramas, Casa da Moeda de Toulouse (793-812).

Em numismática se entende por moeda fundida, as emissões em bronze do IV e III séculos a.C., realizadas pelas diversas populações da Itália central, em substituição ao antigo Aes Rude, e que traziam como uma das características a associação de peso ao seu valor intrínseco, indicado através de um sinal distintivo (Aes Signatum). O standard de peso inicial era a libra paleoromana (osco-latina) de peso 272,87 gramas. Os valores vão do Asse à onça (uncia, em latim). O peso dos Asses e dos seus submúltiplos, experimentaram uma gradual redução, mantendo todavia o seu valor mercantil.

Nas primeiras emissões (primeira série), um Asse pesava 272,87 gramas, tanto quanto uma libra latina, sendo o peso dos seus submúltiplos diretamente proporcional a esse valor em gramas; um semisse (semiasse) que valia 1/2 Asse, pesava 136 gramas, e assim por diante até a onça de valor 1/12 do Asse (22,74 gramas). Nessa série de Asses de libra, todas as moedas eram fabricadas por fusão. Durante o IV século a.C., nos conta Lívio que, por volta de 356 a.C., os romanos passaram a adotar a libra de 327,45 gramas, partindo do peso do Talento de 32,745 gramas, época em que o Asse sofre a sua primeira redução em função do momento da economia romana e como consequência da quase total destruição imposta pelos gauleses por volta de 390 a.C.

Nessa primeira redução surgem a semi-onça e o quarto  de onça de pesos, respectivamente, 6,82 gramas e 3,41 gramas. As quatro primeiras (asse, semisse, triente e quadrante) continuaram sendo fabricadas pelo método da fusão, enquanto as quatro últimas (sestante, onça, semi-onça e quarto de onça) eram já cunhadas.



Os romanos entenderam que o Asse de peso teórico 163,72 gramas não era suficiente para afrontar as transações comerciais de grande volume. A mentalidade sobre o valor intrínseco da moeda, como forma de medir o valor das mercadorias, tinha dificuldade em adaptar o sistema monetário a uma redução de quantidade de metal, consequência disso, adotaram um numerário que fosse mais consistente, tendo à disposição apenas o bronze, na falta do ouro ou a prata. Assim recorreram a emissão de múltiplos do Asse, criando o Decusse, o Tresse e o Dupondio, valendo respectivamente, 10, 3, e 2 Asses. Sucessivas reduções no sistema monetário dos romanos (sete, no total), terminaram por levar o Asse ao peso de 13,64 gramas, decretado segundo a Lei Plautia-Papiria de 89 a.C.

A seguir, as imagens de algumas das primeiras moedas (fundidas e cunhadas) pelos romanos, nos primórdios de sua civilização. De cima para baixo, da esquerda para a direita AES SIGNATUM, AES GRAVE JÂNIO BIFRONTE,  SEMISSE (semiasse), TRIENTE, QUADRANTE, SESTANTE, ONÇA, ASSE LIBRALE (primeira redução), LITRA (230 a.C., 3,34 gramas), DIDRACMA (quadriga, 225 a.C., 6,27 gramas).

Aes Signatum, República Romana depois de 450 a.C.; bronze; 185 × 90 mm; 1.616,62 gr.

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Nota: A palavra latina AES (aeris no genitivo) significa bronze e dela derivam outras palavras como erário. O emprego, seja do Aes rude quanto do Aes signatum, era valorado em base ao peso, o que era incômodo, já que a cada transação comercial as moedas deviam ser pesadas. Por iniciativa dos próprios mercadores, passou-se a usar getões de bronze, de forma circular ou retangular, sobre as quais vinha inciso, no campo, um valor (aes signatum), símbolos e marcas que identificavam a autoridade do emissor, garantindo a autenticidade. O Aes signatum é considerado o primeiro estágio na evolução da moeda como a conhecemos hoje, não sendo considerado uma moeda, por definição, somente porque o seu valor era determinado pelo peso que variava notavelmente. A primeira moeda estandardizada pelo Estado foi o Aes grave, introduzida com a intensificação do comércio marítimo em torno a 335 a.C..


MOEDAGEM DE ESTILO GREGO

Os gregos foram os primeiros a cunhar moeda, aproximadamente 700 anos antes de Cristo. Atingiram uma perfeição tamanha na sua gravura que os artistas modernos ainda se empenham em igualar. Esta arte passou depois por diversas vicissitudes entre os povos antigos, da idade média e tempos modernos. As primeiras moedas batidas em Roma foram alguns didracmas de prata e algumas moedas fracionárias em prata ou bronze. Estas moedas são comumente indicadas com o nome de “romano-campânia”, por terem sido, muito provavelmente, cunhadas no mesmo estilo das moedas gregas, na Campânia do século III a.C., a escopo de facilitar o comércio com as colônias gregas do sul da Itália.

Mesmo sendo o estilo claramente romano, os tipos eram característicos da civilização itálica: Marte, Minerva, a loba com os gêmeos Rômulo e Remo, Jano. A moeda mais famosa desse período é conhecida como quadriga, com a cabeça de janiforme no anverso e Júpiter e a Vitória em uma quadriga. Os primeiros didracmas pesavam em torno a 7,0 gramas (6,8 a 7,3), com as últimas cunhagens pesando em torno a 6,5 gramas.

FIM DA PRIMEIRA PARTE

...continua, em breve...