Carthago delenda est

Introdução

Quando Marco Porcio Catone decretou, com suas proverbiais palavras, o fim de Cartagine, o fez por saber que a potente civilização dos Barca era uma das poucas a rivalizar, comercial e militarmente, com o poderio de Roma. Movidos mais pelo pavor do que propriamente pelo nacionalismo romano, a maior potência da época aniquilou do mapa uma das mais brilhantes, desenvolvidas e prósperas nações da época. Do pouco que chegou até nós, estão as moedas cartaginesas, documentos da história de um grande povo, liderado por maus políticos que preferiram trair seu maior "condottiero", barganhando com os romanos. 

Mercantes e navegadores

A invasão romana da Península Ibérica  teve início no contexto da Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.), quando as legiões romanas, sob o comando do cônsul Cneio Cornélio Cipião, foram conduzidas taticamente ao local, a fim de atacar pela retaguarda os domínios de Cartago na região.

De fato, a influência cartaginesa na península Ibérica possibilitava à Cartago um expressivo reforço, tanto de suprimentos quanto de homens. A estratégia do Senado romano visava, desse modo, o enfraquecimento das forças cartaginesas, afastando os seus exércitos da Península Itálica.

O primeiro combate importante entre Cartagineses e Romanos ocorreu em Cissa (218 a.C.), provavelmente próximo a Tarraco (Tarragona), embora alguns historiadores tendam a identificá-la com Guissona, na atual província de Lérida. Os Cartagineses, sob o comando de Hannon, foram derrotados pelas forças romanas sob o comando do próprio Cneio Cipião. 

O líder dos Ilergetes, Indíbil, que combatia aliado aos Cartagineses, teria sido então capturado. Não obstante, quando a vitória de Cneio Cipião parecia concretizada, Asdrúbal Barca veio em socorro dos cartagineses, com reforços que dispersaram os romanos sem, no entanto, os derrotar.
Assim, as forças opostas regressaram às suas bases militares  (os Cartagineses à Cartago Nova, atual Cartagena, e os Romanos à Tarraco) e somente no ano seguinte a frota de Cneio Cornélio Cipião vence Asdrúbal Barca na foz do rio Ebro. Pouco depois chegaram reforços da Itália conduzidos por Públio Cipião, permitindo o avanço dos Romanos em direção a Sagunto.

Atribui-se a Cneio e Públio a fortificação de Tarraco (Tarragona) e o estabelecimento de um porto militar. A muralha da cidade foi provavelmente construída sobre a anterior ciclópica, já que nela se observam algumas marcas de trabalho da pedra tipicamente ibéricas.

Ainda no ano de 216 a.C. há registro de combates de Cneio e Públio contra os íberos (estes provavelmente oriundos de tribos ao Sul do Ebro), embora sem grandes consequências para Roma. 

Já no ano seguinte, os Cartagineses receberam reforços, liderados  por Himilcão, dando-se novo combate nas margens do Ebro, ao que tudo indica, próximo de Amposta ou Sant Carles, naquela que ficou conhecida como a batalha de Hibera, ou Ibera. Para prejuízo de Cartago, deste confronto saíram vencedores os Romanos.

A rebelião de Sifax (aliado de Roma) em 214 a.C. na Numídia (Argel e Orán) obrigou Asdrúbal a regressar à África com as suas melhores tropas, deixando o caminho livre para a progressão Romana. Asdrúbal Barca, já na África, conseguiu o apoio de Gala (outro rei númida) senhor da região de Constantina e, com a ajuda deste e de seu filho (Masinisa), subjugou Sifax.

Regressou, em 211 a.C. à península, fazendo-se acompanhar de Masinisa e dos seus guerreiros númidas.

Entre 214 e 211 a.C., Cneio e Públio regressaram ao Ebro. Sabe-se que em 211 a.C. os “Cipiões” incluíam no seu exército um forte contingente de milhares de mercenários celtiberos que atuavam, frequentemente, como soldados de fortuna.

As forças cartaginesas estruturaram-se em três exércitos, comandados pelos irmãos Barca (Asdrúbal e Magão) e ainda por outro Asdrúbal, filho do comandante cartaginês Aníbal Giscão, morto durante a Primeira Guerra Púnica. Do lado oposto, os romanos organizaram-se em três grupos, comandados por Cneio, Públio, e ainda por Tito Fonteio. Asdrúbal Giscão e Magão Barca, apoiados pelo númida Masinisa, conseguem derrotar Públio Cipião, matando-o no campo de batalha.
Em pleno combate, em 211 a.C., Cneio Cipião assiste à deserção dos mercenários celtiberos (a quem Asdrúbal Barca ofereceu uma soma maior daquela paga por Roma). Obrigado a retirar-se, morre durante o trajeto, deixando os Cartagineses aptos a atravessar o rio Ebro, e só puderam ser contidos graças à intervenção de Gaio Márcio Sétimo, eleito general pelas tropas. O cenário destes combates é, porém, incerto, embora se saiba que Indíbil combatia novamente do lado dos cartagineses.

No ano seguinte, 210 a.C., é enviada uma expedição dirigida por Cláudio Nerão com o objetivo de capturar Asdrúbal Barca; não obstante, Cláudio não manteve a sua palavra e fugiu desonrosamente. O Senado insistiu, e enviou novo exército ao rio Ebro, para conter o avanço das tropas cartaginesas em direção à Itália. O líder desta nova força foi o célebre Cipião Africano, filho do general de mesmo nome, morto em combate em 211 a.C.. Cipião fazia-se acompanhar do pró-consul Marco Silano (que deveria suceder a Cláudio Nerão) e do conselheiro Caio Lélio, chefe de esquadra. 

À sua chegada, os exércitos cartagineses encontravam-se instalados da seguinte forma: aquele dirigido por Asdrúbal Barca encontrava-se próximo da nascente do rio Tejo; o exército de Asdrúbal Giscão na região da futura Lusitânia, próximo à atual cidade de Lisboa; o exército de Magão encontrava-se na zona do estreito de Gibraltar. 

Cipião, aparentemente desprezando a importância da região do Ebro, atacou diretamente Cartago Nova por terra e por mar. A capital púnica peninsular, cuja guarnição insuficiente era dirigida por outro Magão, foi obrigada a ceder, sendo ocupada pelos Romanos. Rapidamente, retorna Cipião a Tarraco antes que Asdrúbal atingisse as desguarnecidas linhas do Ebro. Essa operação marcou o início da submissão de grande parte da Hispania Ulterior. Cipião soube convencer vários líderes ibéricos, até então aliados de Cartago, como Edecão (em conflito com Cartago desde que a sua mulher e filhos foram tomados como reféns), Indíbil (pela mesma razão), e Mandônio (declarado inimigo por Asdrúbal Barca).

No Inverno de 209 a 208 a.C., Cipião avançou em direção ao Sul, chocando-se contra o exército de Asdrúbal Barca que por sua vez se deslocava para Norte, próximo a São Tomé (Jaén), na aldeia de Baecula, onde ocorreu a batalha de mesmo nome. Não obstante Cipião reclamasse para si a vitória, Asdrúbal Barca prosseguiu o avanço em direção ao Norte, com a maior parte das suas tropas, atingindo o sopé  dos Pirineus. Sabe-se que, desta forma, Asdrúbal cruzou os Pirineus passando pelo região basca, provavelmente na tentativa de conseguir uma aliança com estes; mesmo porque os bascos não dispunham de grandes meios de oposição à força cartaginesa. 

Asdrúbal acampou no Sul da Gália entrando na Itália em 209 a.C.. No ano seguinte, Magão transladou as suas tropas para as Baleares e Asdrúbal Giscão manteve-se na Lusitânia.Em 207 a.C., os cartagineses reorganizados e com novos reforços procedentes da África e dirigos por Hannon, conseguiram recuperar a maior parte do Sul da península. Após a submissão desta zona por Hannon, este uniu-se a Asdrúbal Giscão na região, e Magão regressou à península.

Pouco depois, as forças de Hannon e Magão foram derrotadas pelo exército romano a mando de Marco Silano, de onde resultou a captura de Hannon e a retirada de Giscão e Magão para as principais praças-fortes até receberem novos reforços vindos da África (206 a.C.). Entretanto recrutaram contingentes de indígenas e confrontaram-se com os Romanos na batalha de Ilipa (na zona da atual Alcalá del Río), na província de Sevilha. Nesta batalha vence Cipião sem sombra de dúvida, obrigando nova retirada de Magão e Asdrúbal para Gades (Cádiz). 

Cipião tornara-se assim dono de todo o sul peninsular, e pode cruzar a África onde se encontrou com o rei númida Sifax, que já o havia visitado na Hispania.

Aproveitando-se de uma convalescença de Cipião, algumas unidades do exército amotinaram-se exigindo os salários em atraso; por sua vez, a oportunidade foi aproveitada pelos Ilergetes (a mando de Indíbil) e pelos Ausetanos (a mando de Mandônio) que iniciariam uma rebelião dirigida sobretudo aos pró-cônsules L. Lentulo e L. Manlio. Cipião soube conter o motim, colocando um ponto final na revolta dos ibéricos. Mandônio foi preso e executado (205 a.C.), mas Indíbil conseguiu escapar.

Magão e Asdrúbal abandonaram Gades com todos os seus barcos e tropas para acudir a Aníbal, já na Itália. Roma tornava-se assim senhora de todo o Sul da Hispania, desde os Pirineus até o Algarve, no seguimento da costa e, para o interior, de Huesca em direção ao Sul até o rio Ebro, e para Leste em direção ao mar. A partir de então iniciou-se a administração Romana da península Ibérica, inicialmente com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração dos recursos naturais das regiões ocupadas, doravante integradas no território controlado pela República. Assim, a porção ocupada ficava desde já dividida em duas províncias: a Citerior, ao Norte, e Ulterior, ao Sul, com capital em Córdoba. A administração ficava incumbida a dois pretores e em biênios que nem sempre se cumpriam.


Moedas que testemunham a prosperidade de uma nação

A cunhagem de moedas em Cartago desenvolveu-se relativamente tarde, por volta do V século a.C., e aconteceu mais pela necessidade de pagar as milícias mercenárias baseadas na Sicília do que propriamente para uso no comércio local.

Inicialmente foram batidas moedas na Sicília, sob a autoridade de Cartago ou das cidades púnicas aliadas (moedas siculo-púnicas), imitando frequentemente a cunhagem grega da Sicília (não confundir com a Magna Grécia), em particular às cunhagens de Siracusa.

Nos dois últimos séculos antes de Cristo, as moedas de Cartago experimentaram um desenvolvimento notável, distinguindo-se das demais pelo seu estilo púnico, em geral com o tema recorrente de uma cabeça de mulher voltada à esquerda, ornada com uma coroa de ramos de trigo. Em verdade, essa efígie  que aparece no anverso das moedas representa Tanit, num misto alusivo à Demetrea e à sua filha Persefone,. A deusa púnica e fenícia, principal divindade de Cartago, foi associada por Tertuliano ao sacrifício de crianças, o que parece ter ocorrido realmente até o reinado de Tibério.

O reverso apresenta frequentemente um cavalo em diversas posições (parado, trotando ou saltando), sempre voltado à direita. A presença do cavalo nas moedas pode ser associada à legenda de Didone, a rainha fenícia de Tiro, fundadora de Cartago. Uma palma, geralmente colocada por trás do cavalo, era símbolo de fertilidade. No conjunto, a moeda se revelava como excelente mercadoria de troca, muito bem aceita pelas tropas mercenárias.

Em Cartago, a cunhagem em ouro tem início entre 390 e 360 a.C., com poucas moedas, seguindo o modelo púnico conhecido como Shekel, de peso 7,6 gramas. Durante pelo menos um século (35 a 270 a.C.), foiu grande a produção de “Shekels” de ouro e de electro, com belíssimas representações da deusa Tanit, com o cavalo sempre em posição “parado” no reverso.

CARTAGO (270-264 aC) - AV (ouro) - Tridracma ou 1 1/2 Shekel (23mm, 12.47 gr) em excepcional estado de conservação. A/Cabeça laureada de Tanit, voltada à esquerda, com brinco triplo, colar e coroa de ramos de trigo. R/Cavalo voltado à direita com cabeça virada à esquerda, sem palma. Negociada em leilão na Inglaterra; valor de arremate: US$ 22.500,00.

CARTAGO (290-280 aC) - Electrum - ½ stater. A/Cabeça laureada de Tanit, voltada à esquerda, com brinco. R/Cavalo voltado à direita com cabeça virada à esquerda, com palma. Negociada em leilão na Suiça; valor de arremate: CHF 1.100,00.
Interessante são, do mesmo período, uma variedade de tipos de tetradracmas siculo-púnicos de prata, alguns deles de extraordinária beleza.

Tetradracma siculo-punico da Casa da Moeda da ilha de Cefalônia.

Este estado de coisas continuou até o momento em que a influência cartaginesa no Mediterrâneo foi demasiadamente grande; tão significativa a ponto de incomodar os romanos que viam em Cartago mais uma inimiga em potencial do que propriamente uma aliada comercial. O conteúdo em ouro nas moedas passou a diminuir assim que tiveram início as dificuldades político-financeiras, pouco antes da primeira guerra púnica, contra os romanos (264 a 241 a.C.) e após a revolta líbica também conhecida como “guerra dos mercenários” (241 a 237 a.C.)

A primeira Guerra Púnica foi um conflito travado entre 264 e 241 a.C. entre Cartago e a República de Roma, as maiores potências da região do Mediterrâneo da época. Foi a primeira de três guerras entre os dois povos, todas vencidas pelos Romanos. As baixas e conseqüências econômicas do confronto foram muito altas para ambas as partes.

No meio do século III a.C., Roma já era uma força militar e dominava toda a península da Itália, seja por meio de guerras ou por alianças com outros grupos, entre estes as cidades gregas na península italiana, sendo Tarento a mais importante. Estas, após o fracasso da invasão de Pirro (comandante grego que tentou dominar a Itália e a Sicília entre 280 e 275 a.C.), se renderam à Roma.

Cartago era uma potência comercial e marítima no Mediterrâneo, com portos no norte da África, península Ibérica e na Sicília. Possuía uma inimizade histórica com Siracusa, cidade grega situada ao leste da Sicília, ambas com pretensões de dominar a ilha. Cartago e Roma eram aliados comerciais e tinham inclusive combatido juntas contra Pirro, pouco mais de uma década antes do início da Primeira Guerra Púnica.

Em 288 a.C., uma companhia de mercenários italianos que haviam lutado por Siracusa contra Cartago, os Mamertinos, atacou a cidade de Messina, até então em poder de Siracusa, matando todos os homens e fazendo das mulheres suas esposas.

Os Mamertinos dominaram o Estreito de Messina que separa o sul da Itália da Sicilia, atrapalhando rotas importantes da região. O sucesso da ocupação incentivou uma rebelião semelhante na cidade romana de Rhegium, do outro lado do Estreito de Messina, que só foi controlada dez anos depois em 270 a.C..

Assumindo o poder de Siracusa em 270 a.C., Hiero II decidiu reconquistar Messina e sitiou a cidade. Acuados, os Mamertinos pediram ajuda simultaneamente à Roma e à Cartago. Esta última viu no pedido de ajuda uma oportunidade de prejudicar Siracusa e aumentar seu poder na Sicília, e sendo assim respondeu enviando tropas.

Apesar dos Mamertinos serem italianos, os romanos ficaram relutantes em ajudá-los contra Siracusa, principalmente por terem sofrido em Rhegium um conflito semelhante contra mercenários, mas temiam um aumento do poder de Cartago em suas vizinhanças.
Quando Roma decidiu ajudar os Mamertinos, Cartago já comandava Messina, mas os mercenários preferiram entregar o poder para os romanos. Enfurecida, Cartago se aliou a Hiero contra a nova ameaça ao seu poder na Sicília: os romanos.
A guerra, antes envolvendo o controle de uma cidade nas mãos de mercenários, tornou-se um conflito entre as maiores forças da região do mediterrâneo.


Segunda guerra púnica - Ocorreu entre 218 a.C. e 204 a.C. como oposição da República de Roma à Cartago. Durante o decurso da guerra, o general cartaginês Aníbal e seu exército atravessaram os Alpes com elefantes de guerra e invadiram Itália. Venceram os romanos em várias batalhas, mas não marcharam sobre Roma. Os Romanos se voltaram à conquista da Espanha, destruindo a base logística dos cartagineses e, com o desembarque na África, levaram a guerra ao solo cartaginês. Aníbal, obrigado a retornar à Cartago, foi derrotado por Cipião Africano, em 202 a.C., na batalha de Zama. A pena imposta à Cartago foi severa, tendo que pagar pesados impostos e também ficando proibida de fazer guerra a outros povos sem autorização do Senado Romano.

A Guerra começou em decorrência indireta da Primeira Guerra Púnica. Organizando-se rapidamente após a derrota, os cartagineses expandiram seus territórios na África e invadiram a península Ibérica, dominando todo o Sul e o Leste da região, sob o comando do General Amílcar Barca. Para capital da nova colônia, foi fundada a cidade de Nova Cartago, num dos melhores ancoradouros naturais do mundo.

A Península Ibérica era um dos territórios potencialmente mais ricos do Mediterrâneo, pois além de ótimas terras para a agricultura, possuía minas de prata e uma grande reserva de guerreiros Celtiberos, ideais para servirem nas fileiras do desfalcado exército cartaginês.

Todavia, morre o comandante Amílcar Barca, assasinado em batalha contra uma tribo local. Com isso, o comando das tropas passou a seu filho, Asdrúbal.

Preocupada com a impressionante recuperação da antiga inimiga, Roma pressionou por um tratado, conseguindo que os cartagineses concordassem em conter sua expansão na região, na linha do rio Ebro. Todavia, pouco depois é assassinado o próprio Asdrúbal e, com sua morte, assume o comando do exército outro filho de Amilcar, Aníbal Barca.

Quando empreendeu sua cruzada contra Roma, Aníbal sabia dos percalços, das dificuldades e de toda oposição que iria enfrentar em Cartago, principalmente por parte dos políticos que temiam enfrentar sua rival comercial.

Mesmo assim, o intrépido general cartaginês não se deixou abater, talvez por dar ouvidos ao seu coração guerreiro, ou às promessas feitas ao seu pai, assassinado....não sabemos ao certo. O que sabemos é que as famílias que dominavam o cenário das duas grandes potências se odiavam à morte, e Aníbal pertencia a uma delas, os Barca. Não foi muito difícil conseguir o apoio que necessitava da classe política para combater seu pior inimigo, o Império da temida Roma.

Depois de vencer algumas batalhas e escaramuças contra alguns protegidos ddos romanos, pilhando-os, para espanto de todos, partiu para sua cruzada, atravessando toda Península Ibérica, a Europa e entrando na Itália pelos Alpes, o que ninguém ousaria fazer ou imaginar. Escolheu o gélido inverno justamente porque sabia que os romanos jamais poderiam crer que um “louco” (assim pensavam) pudesse empreender uma ação bélica de tamanha magnitude.

Pois Aníbal fez justamente isso! Atravessou os Alpes, em pleno inverno, sob um frio intenso, enfrentando temperaturas de até 35 graus negativos. Mais do que isso, o fez com seus elefantes e à frente de um exército de mercenários, guerreiros de diversas e distintas culturas, que pensavam diferente e que estavam acostumados a receber ordens de líderes diferentes. Nesse e em outros particulares, Aníbal era superior a Alexandre que comandava um exército disciplinado e de gente que conhecia.

Aníbal, não! Era um general comandando mercenários.  Durante sua travessia dos Alpes foi atacado por diversas tribos bárbaras, perdeu diversos soldados por hipotermia e seu exército foi reduzido à metade. Mesmo assim, continuou a frente do seu exército, dormindo apenas duas horas por noite, comendo menos que todos e vivendo em condições inferiores para se fazer valer pelo exemplo.

Ao término de sua travessia, com um exército enfraquecido e bem inferior em número, subjgou os romanos na batalha de Trasimeno, colocando o Império a seus pés.

Espanha Púnica (237-209 aC). Shekel de prata. A/Cabeça nua, voltada à esquerda, provavelmente representando Cipião Africano. R/Cavalo em pé, voltado à direita, tendo palmeira como fundo. 

Tão logo assumiu o controle do exército, Aníbal sitiou barbaramente a cidade de Sagunto, que ficava bem ao sul do Rio Ebro mas era aliada de Roma. Considerando o ataque um ultraje, Roma pediu que Aníbal Barca fosse preso e entregue para julgamento. O Senado cartaginês recusou-se e teve início a Segunda Guerra Púnica.

Logo de início, Aníbal atacou diretamente a península Itálica, mas usando uma rota absolutamente inesperada. Ao invés de ir por mar, seguiu com seu exército pelo sul da Gália, tentando invadir o território romano pelo Norte. Fez seu exército atravessar o rio Ródano em balsas e chegou ao sopé dos Alpes, velha rota usada pelos invasores celtas do Norte da Itália. 

Sem contar com o apoio destas tribos que dominavam as passagens da cordilheira, teve de lutar metro a metro para conquistar as escarpas das montanhas que dominavam os vales por onde guiava seus homens.
Finalmente, conseguiram atravessar as montanhas e chegar ao vale do Pó, apenas para verem morrer os elefantes que traziam desde a Ibéria. Mas a competência militar de Aníbal e do seu exército compensava o seu cansaço e logo os africanos alcançaram uma impressionante série de vitórias no vale do Pó. Principalmente na batalha do Lago Trasimeno, onde Aníbal fez o seu exército fingir uma debandada para atrair os romanos para uma armadilha, quando o exército cartaginês saiu dos vales e montanhas em volta para cercar os romanos, arrasá-los e destruí-los completamente.

Mas Aníbal não dispunha de máquinas de assédio para tomar Roma, ou talvez não acreditasse que suas tropas pudessem realizar um ataque direto à capital inimiga. De qualquer forma, tentou uma campanha política para granjear o apoio das cidades italianas submetidas à Roma, não obtendo grande sucesso devido à grande necessidade de Aníbal em saquear algumas cidades italianas para suprir seu exército, o que gerou um descontentamento geral na região. Entrementes, irritava ao povo Romano a política desenvolvida pelo ditador Quinto Fábio Máximo de enfraquecer  aos poucos e periodicamente as tropas cartaginesas. 

Por isso, foram eleitos dois cônsules comprometidos politicamente com a idéia de um ataque puro e simples ao exército cartaginês. Para isso, Roma pôs em campo o maior exército de que até então dispusera, e dirigiu-se à Apúlia, no salto da bota italiana, para confrontar o exército de Aníbal, num local cujo nome designaria a batalha para toda a eternidade: Cannae.

Mas o general cartaginês estudara os métodos romanos e os conhecia muito bem. Sabendo que o ataque seria direto e contra o centro de suas forças, Aníbal as dispôs com a infantaria mais fraca no meio de um pequeno vale, secundada por alas de lanceiros à direita e à esquerda, posicionadas nos declives das colinas. 

Além disso, colocou a sua excelente cavalaria Númida nos flancos mais extremos da formação. Quando os romanos atacaram, pareciam uma onda irressistível varrendo o exército cartaginês. Na verdade, estavam caindo numa excepcional armadilha. O centro cartaginês, sob pressão romana, recuou progressivamente, enquanto os lanceiros fechavam o exército romano pelos flancos e a cavalaria lhes atacava a retaguarda. O resultado foi um massacre. Dizia-se que os romanos ficaram tão imprensados uns contra os outros que sequer podiam sacar as espadas. Essa tática, conhecida como duplo envolvimento, e que tem sido estudada até hoje, resultou na morte de cerca de 85 mil soldados romanos e na completa destruição de suas melhores tropas.

Mundo Grego. Itália Grega. Bruttium (?), Casa da Moeda incerta. Hanibal Barca. Meio shekel, 215-205 a.C. Anv/ Cabeça de Tanit-Persephone voltada à esquerda. Rev/ Cavalo parado voltado à direita, tendo acima, disco solar, 3.66gr., diam: 18.00mm.
Por alguma razão desconhecida, Aníbal recusou-se a marchar diretamente sobre Roma, descontentando seu comandante de cavalaria, Maharbal, que o censurou dizendo: “Sabes vencer Aníbal, o que não sabes é aproveitar a vitória”. Aníbal insistia na política de dissensão das cidades italianas, conseguindo o apoio de Cápua, a mais importante da Campânia, mas em geral falhando em seu objetivo político.

Nesse meio tempo, como decorrência da monumental derrota, os romanos se voltaram à estratégia de Quinto Fábio Máximo, desgastando o exército cartaginês com vários pequenos combates, enquanto reconstruíam suas tropas no norte da Península.

O irmão de Aníbal, Asdrúbal Barca, tentou enviar tropas de reforço através da rota ao sul da Gália, mas ao chegar à Itália seu exército foi inteiramente derrotado e ele próprio morto.

Diz-se que sua cabeça foi atirada de uma trincheira romana para posições cartaginesas e que ao vê-la Aníbal teria dito que acabara a última esperança de uma vitória na guerra. 

Entretanto, os romanos já estavam fortes, e sob o comando de Cipião Africano reforçaram suas posições na própria Península Ibérica, tomando Nova Cartago.

Depois, ainda sob o comando de Cipião, invadiram o Norte da África, e Aníbal foi chamado a defender sua terra natal. Lá, ao invés de lhe dar combate direto, Cipião conseguiu atraí-lo para batalha em zona distante e onde os cartagineses não tinham água nem posições que os sustentassem em caso de derrota. Ali, finalmente, Cipião obteve sua vitória final, em Zama, onde o exército cartaginês foi totalmente derrotado.
Com as províncias ocupadas, seu próprio território sob ocupação inimiga e seu exército arrasado, o Senado Cartaginês, que anos antes se recusara a enviar reforços a Aníbal na Itália, foi obrigado a pedir a rendição.

Terminava assim a Segunda Guerra Púnica.


Lusitanos

A derrota dos cartagineses, entretanto, não garantiu a ocupação pacífica da península. A partir de 194 a.C., registraram-se choques com tribos de nativos, denominados genericamente como Lusitanos, conflitos que se estenderam até 138 a.C., denominados por alguns autores como guerra lusitana. A disputa foi mais acesa pelos territórios mais prósperos, notadamente na região da atual Andaluzia.

Nesse contexto, destaca-se um grupo de Lusitanos liderados por Viriato, eleito por aclamação. Esse grupo inflingiu várias derrotas às tropas romanas na região da periferia andaluz, vindo a historiografia clássica a torná-lo um mito da resistência peninsular.

Ao se iniciar a fase imperial romana, a pacificação de Augusto também se fez sentir na península Ibérica: a partir de 19 a.C. as suas legiões ocuparam a região norte peninsular, mais inóspita, ocupada por povos cântabros e astures. Com essa ocupação, asseguravam-se as fronteiras naturais e pacificava-se essa região mais atrasada, de modo a que não constituísse ameaça para as populações do vale do rio Ebro e da chamada Meseta, já em plena fase de Romanização.


A Influência romana

Na península Ibérica, a Romanização ocorreu concomitantemente com a conquista, tendo progredido desde a costa mediterrânica, passando pelo interior, até a costa do Oceano Atlântico. 
Para esse processo de aculturação foram determinantes a expansão do latim e a fundação de inúmeras cidades, tendo como agentes, a princípio, os legionários e os comerciantes.

Os primeiros, ao se miscigenarem com as populações nativas, constituíam famílias, fixando os seus usos e costumes, ao passo que os segundos iam condicionando a vida econômica, em termos de produção e consumo. Embora não se tenha constituído uma sociedade homogênea na península, durante os seis séculos de romanização registraram-se momentos de desenvolvimento mais ou menos acentuado, atenuando, sem dúvida, as diferenças étnicas do primitivo povoamento.

A língua latina acabou por se impôr como língua oficial, funcionando como fator de ligação e de comunicação entre os vários povos. As povoações, que então predominavam nas montanhas, passaram a surgir nos vales ou planícies, habitando casas de tijolo cobertas com telha. Como exemplo de cidades que surgiram com os Romanos, temos Braga (Bracara Augusta), Beja (Pax Iulia), Conímbriga e Chaves (Aquae Flaviae).

Ocupação Romana na Península Ibérica. Denário Serratus*(3,91 g), Roma 79 a.C. Anv.: SC, busto de Diana com o diadema, coberto com um arco e uma aljava sobre o ombro esquerdo Rev.: TI TI CLAVD F / N AP (todos na seção, em parte, ligadura), Vitória com grinalda e ramo de palma em Biga.
A indústria desenvolveu-se, sobretudo a olaria, as minas, a tecelagem, as pedreiras, o que ajudou a desenvolver também o comércio, surgindo feiras e mercados, com a circulação da moeda e apoiado numa extensa rede viária (as famosas “calçadas romanas”, de que ainda há muitos vestígios no presente) que ligava os principais centros de todo o Império.

A influência romana fez-se sentir também na religião e nas manifestações artísticas. Tratou-se de uma influência profunda, sobretudo ao sul, zona primeiramente conquistada. 
Os principais agentes foram os mercenários que vieram para a Península, os grandes contingentes militares romanos acampados na região, a ação de alguns chefes militares, a imigração de romanos para a Península, e a concessão da cidadania romana.

Finalizado o processo de conquista, a província foi integrada ao Império, dividida administrativamente em três partes:
  • Tarraconense, a Norte e Nordeste, até os Pirineus; 
  • Bética, a Sul; e 
  • Lusitânia, com capital em Emerita Augusta (atual Mérida), que estendia-se entre os rios D’ouro e Guadiana. 
Registra-se neste período uma etapa de paz e prosperidade econômica, marcada pela construção de cidades e de uma rede de vias, elemento marcante da administração romana. A maioria das cidades na península adquiriu progressivamente a sua autonomia, vindo posteriormente a se constituir em sede de municípios. A autoridade que emitia podia ser uma cidade como Corinto ou Antióquia ou mesmo uma região como o Egito ou a Mésia.

Lucio Roscio Fabato [*1] - 59 a.C. Denário Serratus [*2] (19mm, 3,97 g, 7h). Casa da Moeda de Roma. Anv.: Cabeça de Juno voltada à direita, vestindo touca de pele de cabra, para trás, amarrados com faixa e cornucópia. Rev.: De pé, voltada à direita, alimentando serpente, atrás do leme.
AD 136 -138 - AV Aureus (19mm, 7,36 g, 6h). Casa da Moeda de Roma.  Cunhado sob o governo de Adriano, AD 137. Anv.: L • AELIVS CAESAR, busto nu voltado à direita.Rev.: TRIB POT COS II, Pietas de pé voltada à direita, prendendo acerra e erguendo a mão sobre o altar iluminado e enfeitado. 

* 1 - Lucio Roscio Fabato: Serviu como questor de Júlio César durante a conquista da Gália, a partir de 54 a.C. 
* 2 - Serratus: Forma tardia de denário republicano. Seu nome deriva da borda denteada (latim: apertar serragem), presente no processo de cunhagem, a fim de evitar o cerceio.

Aspectos culturais e econômicos

Assim como em diversas outras regiões do Império, também foram erguidas na península, pontes, teatros, termas, templos, aquedutos e todo o tipo de edifícios públicos e privados, civis e militares.
No campo da religião, registra-se a sobrevivência de divindades primitivas ao lado de divindades romanas, por vezes, também na forma de sincretismo.

Durante a Romanização da península, a economia de subsistência das primitivas tribos foi paulatinamente substituída por grandes unidades de exploração agrícola em regime intensivo (as villae), produzindo azeite, cereais e vinho, ao mesmo tempo em que o primitivo artesanato deu lugar a indústrias especializadas como as da cerâmica e da mineração. A atividade agro-pecuária localizava-se, particularmente, ao Sul do rio Tejo. 
Também houve desenvolvimento na atividade pesqueira, que por sua vez demandava o desenvolvimento da extração de sal e das atividades de construção naval.

No tocante à exploração mineral, na qual a península era particularmente rica, todas as minas passaram a pertencer ao Senado de Roma, sendo exploradas por escravos. Entre elas destacava-se a região que se estende de Grândola a Alcoutim, de onde era extraído o cobre e a prata.

Para esse desenvolvimento, muito contribuiu a circulação das moedas romana. A moedagem provincial romana trata das moedas emitidas pelas colônias de Roma e por seus aliados.

Trata-se, principalmente, de moedas subsidiadas ou de moedas emitidas pelos romanos, utilizando tipos que fossem melhor compreendidos pela populações locais. 

As moedas provinciais foram emitidas em áreas conquistadas por Roma que, após a dominação, continuou usando, pelo menos em parte, um sistema monetário diferente daquele do Império Romano. Essas moedas representavam uma continuação do sistema monetário original que existia nas regiões antes da chegada dos romanos. As moedas provinciais foram prevalentemente usadas no Oriente e nas regiões adjacentes.

Inicialmente eram simplesmente a continuação das moedas originais de uma determinada área que naquele momento estivesse sob dominação romana. É o caso da Cilicia, por exemplo (mas não só essa), onde foram concedidas pelo imperador autorização para a manutenção do padrão monetário (Assarion), com a sua efígie.

Desta forma, nestas provincias circulavam moedas com padrão monetário romano (denários, sestércios, etc), porém usando legenda em uma língua franca, geralmente o grego, e moedas que conservavam o padrão monetário do povo sob dominação romana. A maior parte destas moedas eram cunhadas em bronze ou latão (mistura de cobre e zinco), e somente uma mínima parte em prata (jamais em ouro). As cunhagens em prata eram controladas diretamente por Roma e o monopólio do denário (moeda de prata) era utilizado para controlar a economia dessas áreas do Império.

Devido à longa distância do Império, as cunhagens dessas regiões eram confiadas ao governador da província. Dessa forma as cunhagens eram realizadas por autoridades cívicas que prestavam contas ao Império Romano.

Mésia (Moesia, em latim) era uma região geográfica limitada ao sul pelos Bálcãs e pelo monte Šar, ao oeste pelo rio Drina, ao norte pelo Danúbio e a leste pelo mar Euxino (atualmente conhecido como Mar Negro). A área era habitada principalmente por trácios e o seu nome origina-se de uma tribo trácia, os mesos ou mésios (moesi, em latim). Atualmente o território corresponde à Sérvia e à Bulgária.

Em 75 a.C., um exército romano, chefiado por Scribonius Curio, procônsul da Macedônia, atingiu o Danúbio, derrotando os habitantes da região, os quais foram subjugados definitivamente por Marco Licínio Crasso, bisneto do triúnviro do mesmo nome e mais tarde também procônsul da Macedônia (c. 29 a.C.). A área foi organizada como província romana apenas no final do reinado de Augusto.

Inicialmente uma única província, sob um legado consular imperial (que provavelmente também controlava a Aquéia e a Macedônia), a Mésia foi posteriormente dividida por Domiciano em Mésia Superior (Moesia Superior, porção ocidental) e Mésia Inferior (Moesia Inferior), com o rio Cebrus como fronteira. Cada uma delas era governada por um legado consular imperial e um procurador.

Sendo uma província de fronteira, a Mésia era protegida por postos e fortalezas erigidas ao longo da margem meridional do Danúbio; uma muralha foi construída de Axiópolis até Tomi (hoje a cidade de Constanţa, na Romênia) como proteção contra os citas e os sármatas.

Após a evacuação da Dácia, ordenada por Aureliano, seus cidadãos foram realocados na parte central da Mésia, que passou a se chamar Dácia Aureliana (Dacia Aureliani, em latim), por sua vez dividida em Dácia Ripense (Dacia Ripensis) e Dácia Interior.

Após constantes incursões dos godos e de outros bárbaros, os primeiros obtiveram a permissão do Imperador Valente para atravessar o Danúbio e instalar-se na província. Em seguida, Fritigerno, o chefe dos godos, derrotou Valente na Batalha de Adrianópolis (378 d.C.). No século VII, os búlgaros e os sérvios colonizaram a região e fundaram a Bulgária e a Sérvia.

As principais cidades da Mésia Superior eram Singidunum (hoje Belgrado), Viminacium (Kostolac), Bononia (Widdin, Vidin) e Ratiaria (Arčar). As da Mésia Inferior eram Oescus (ou colonia Ulpia, hoje Gigen), Novae (próximo a Sistova), Nicopolis ad Istrum (hoje Nikup), Odessus (Varna) e Tomi (Constanta).


Durante o principado de Trajano, Antióquia foi a principal Casa da Moeda para a emissão de dracmas e tetradracmas que foram cunhados inclusive em bilhão (Liga metálica de baixo teor de prata, empregada na Idade Antiga e na Idade Média para cunhar moedas. A palavra tem origem no latim medieval billia, “tronco de madeira”, através do francês bille, “lingote”, “peça de moeda”).


Nomenclatura e unidades

1 Talento = 60 Minas; 1 Mina = 100 Dracmas; 1 Stater = 2 Dracmas; 1 Dracma = 6 Óbulos

Talento: Antiga unidade de medida de massa. Os babilônicos e os Sumérios possuíam um sistema onde 60 shekel formavam uma mina e 60 minas formavam um talento. O talento romano era formado por 100 libras que tinham massa inferior à mina. Quando era usado como medida monetária, se entendia como “um talento de ouro”.  
Durante a Guerra do Peloponeso na Grécia antiga o talento era a quantidade de prata necessária para pagar a tripulação de uma trireme (nave de guerra que usava a vela e remadores como sistema de propulsão) por um inteiro mês. Um talento ático corrispondia a 26,2 kg de prata.

Mina: Do grego mna, latim mina, é uma antiga moeda grega. Era inicialmente uma unidade de medida oriental. Existiam a mina babilônica e a mina hebraica. Uma mina hebraica era constituída por 50 shekels. 
O talento era formado por 60 minas. O peso se situava entre 500 e 800 gramas. Com Ezequiel a mina passa a valer 60 shekels, igual àquela babilônica.

Shekel: Era uma antiga unidade de peso em uso no Oriente Médio e na Mesopotâmia. Na verdade era uma antiga unidade de peso hebraica. A palavra derivava do termo pesar. O valor variou muito no tempo e de acordo com os locais onde era adotado como medida.
Com o mesmo nome se indicavam moedas seja em prata que em ouro de peso 1 shekel. Na Mesopotâmia era avaliado em 1/16 de darico (7,5 óbulos áticos), isto è ½ grama de ouro.
O uso de unidades de peso como unidade monetária era comum no mundo antigo até a Idade Média, com traços inclusive nos nossos dias. Em inglês, a palavra pound indica tanto a libra peso quanto a esterlina, enquanto no italiano a palavra Lira e Libra derivam do latim libra no sentido de balança. 
O peso do shekel hebraico podia variar entre 10 e 13 gramas.   Um shekel valia 20 gueras e 20 shekels formavam uma mina. Um talento era o equivalente a 3000 shekels (entre 30 e 40 kg – Êxodo 38,25-26)
Acredita-se que as “30 moedas de prata” de Judas fossem shekels de Tiro.
Um shekel de prata era, naquela época, o salário diário de um trabalhador. A atual unidade monetária de Israel é o sheckel.

Dracma: Era o nome de uma moeda da antiga Grécia. Foi retomada depois de 1832 para indicar o Dracma Grego que valeu no país até a entrada do Euro. 
O nome dracma deriva do verbo δράττω (aferrar). Inicialmente um dracma era um punhado de 6 óbulos, espeto de metal utilizado como moeda até 1100 a.C.. 
Na Antiga Grécia, o termo dracma indicava também uma unidade de peso. Era usada por todo o mundo grego e emitida pela maior parte das cidades. 
As primeiras emissões mostram imagens de animais, na maior parte das vezes, animais falantes e provém do VI século a.C..

Devido a técnica de cunhagem usada (martelo), os dracmas são, em sua maior parte, “achatados” no reverso e particularmente artísticas no anverso. Com o passar do tempo, a cunhagem atingiu um valor artístico elevado e extremamente refinado. Como consequência, a partir da Renascença, as moedas passaram, cada vez mais, a ter cunhagens de valor estético mais apurado.
Depois da conquista de Alexandre o Grande, o nome “dracma” passou a ser usado em muitos dos reinos helenísticos no Oriente Médio, entre os quais o Reino Ptolomaico do Egito. O dracma foi também a primeira moeda de prata batida pela Antiga Roma no III século a.C.
A unidade monetária árabe conhecida como dirham e que remonta ao período pré-islâmico, deriva, através da Pérsia Sassanida, do antigo dracma e, como a moeda persa, também era de prata.
É difícil atribuir um valor a essa moeda que se possa comparar com os valores conhecidos atualmente, devido as profundas diferenças entre as diversas economias. Os históricos clássicos afirmam regularmente que próximo ao fim da República Romana e ao início do Império Romano, o salário de um operário era de 1 dracma.
O sistema monetário grego antigo era baseado no precedente sistema asiático que possuía como unidade de medida principal o talento, cujo peso era de 30,25 kg de prata, que era dividido em 60 minas. 
Tais “valutas” jamais foram “batidas”, mas serviam de sistema de referência para a economia do estado. Bem cedo, graças a expansão econômica de Atenas, o mundo Helênico adotou como sistema de referência para trocas aquele Ático, em prata.
Além destas moedas, foi de grande importância o Estater (2 dracmas) com um peso de 8,7 gramas.

Estater: É o nome de diversos tipos de moedas da antiguidade. A moeda foi batida por várias cidades gregas nos diversos standards monetários, em prata, ouro e eletro.
O estater de prata era a moeda mais difusa na antiguidade grega. Era o mais alto valor nominal normalmente batido e valia, em geral, o dobro de um dracma. Podia valer tambem 4 dracmas, dependendo de onde fosse cunhada.