O Escudo Português, cores e traços nas moedas
A heráldica é uma ciência. É também a arte de descrever os brasões de armas ou escudos.
Um brasão (também designado por brasão de armas ou cota de armas), na tradição européia, é um desenho especificamente criado (usando peças, esmaltes e metais) com a finalidade de identificar indivíduos, famílias, clãs, cidades, regiões e nações.
Os brasões não eram fornecidos ao acaso para as pessoas. Tiveram as suas origens em atos de coragem e bravura efetuados por grandes cavaleiros. Era uma maneira de os homenagear e às suas famílias. Com o passar do tempo, por ser considerado um ícone de status, passou a ser conferido às famílias nobres no intuito de identificar o grau social delas. Dessa forma, somente os heróis ou a nobreza possuíam tal ícone e o poderiam transmitir a seus descendentes.
As origens da heráldica remontam aos tempos em que era imperativo distinguir os participantes das batalhas e dos torneios, assim como descrever os serviços por eles prestados e que eram pintados nos seus escudos. No entanto, é importante notar que um brasão de armas é definido não visualmente, mas antes pela sua descrição escrita, feita numa linguagem própria – a da heráldica.
Ao ato de desenhar um brasão dá-se o nome de brasonar que segue uma série de regras.
OS FORMATOS DOS ESCUDOS
Existem diversos deles, variando de reino para reino, de nação para nação. No nosso caso particular, nas representações que aparecem nas moedas brasileiras, interessam 3 tipos (amendoado, português primitivo e português clássico), com particular atenção ao terceiro deles, o português clássico.
METAIS E ESMALTES
As cores do brasão designam-se genericamente esmaltes e a sua representação obedece a determinadas regras e convenções. Dividem-se tradicionalmente em Metais (Ouro e Prata), Cores (Vermelho, Azul, Verde, Negro e Púrpura) e Peles (Arminhos e Veiros).
Alguns autores referem ainda um esmalte específico, a Carnação, cor natural da pele humana.
O ouro e a prata podem ser representados como metais, com os reflexos próprios, ou pelas cores amarela e branca, respectivamente.
Compete ao artista que ilumina o brasão decidir sobre o tom específico de cada esmalte e as sombras e outros efeitos a aplicar ao desenho, dentro das regras do desenho heráldico.
Como regra essencial, não se devem sobrepor metais a metais nem cores a cores (por exemplo, não é de boa heráldica um brasão com uma cruz de prata sobre campo de ouro, ou com uma cruz de vermelho sobre campo de azul). Justifica-se tradicionalmente esta regra com uma explicação técnica: quando se pintava um escudo, não se empregavam tintas sobre tintas, para não correr o risco de misturas ou esborratamentos. Outra explicação refere a necessidade de distinguir com rapidez os combatentes numa batalha ou torneio, o que impunha a utilização de cores fortes e contrastadas.
As peles podem ser sobrepostas tanto a metais como a cores.
OURO E PRATA
Ouro: Na figura ao lado, as 3 imagens acima. Representado por sua cor natural ou amarelo. Quando em armoriais, é representado pro um campo branco preenchido com um salpico de pontos.
Prata: As 3 imagens abaixo: Representada por sua cor natural, ou branco. Em armoriais, representa-se com o campo em branco.
OS ESMALTES
A identificação perfeita de um brasão só é possível através da utilização das cores. Este fato desde sempre colocou problemas delicados quando se pretende representar um brasão em lacre ou obreia, para selar documentos, ou em pedra, em túmulos ou fachadas de edifícios. Ainda hoje, muitos dos problemas de identificação de alguns brasões representados neste tipo de suportes deriva do desconhecimento dos seus esmaltes.
A seguir, alguns exemplos, com as respectivas representações nas figuras à esquerda.
VERMELHO: Também designado por sangue, sanguinho, GULES ou rubi, é representado por um campo vermelho pleno. Em armorial, vem representado por um campo de traços verticais
AZUL: Celeste, BLAU ou safira. Representado por um campo azul pleno. Em armoriais, representa-se por um campo de traços horizontais.
VERDE: SINOPLE ou esmeralda. Representado por um campo de traços oblíquos inclinados à esquerda.
NEGRO: Preto ou SABLE. Representado por um campo de negro pleno. Quando em Armoriais, representa-se por um campo quadriculado
PÚRPURA: JACINTO ou ametista. Representado por um campo de lilás pleno. Quando em Armorial, representa-se por um campo de linhas oblíquas à direita.
Com o passar dos séculos foram incluídos outros esmaltes, tais como o Orange, o Vinho, o Escarlate e o Marron.
Diante do que foi dito, ao leitor é fácil compreender as relações entre traços e as cores na heráldica. Na figura acima temos o escudo português em sua forma clássica e naquela armorial com os traços representando as cores. Nota-se assim, o vermelho substituído por traços verticais e o azul dos escudetes com traços horizontais. Não sendo possível "imprimir" nas moedas, as cores das armas eram substituídas pela sua versão armorial, com traços, como bem se pode observar na figura de anverso de um 960 réis, abaixo.
A DIVISÃO DO ESCUDO
O escudo é tradicionalmente dividido em nove partes ou zonas, com vista à descrição da localização das peças no seu campo.
Importante: A direita e a esquerda do escudo são definidas em relação ao cavaleiro que se encontra por trás do escudo.
A zona superior, principal e mais nobre do escudo é o chefe.
Por extensão, todo o terço superior do escudo é, por vezes, designado por chefe, embora em rigor o chefe seja apenas a zona central do topo do escudo.
As zonas laterais do escudo são os flancos.
O centro do escudo é o coração ou abismo. Em rigor, ao descrever uma peça colocada no centro do escudo, deve referir-se que está colocada no coração se a peça for do mesmo tamanho que as restantes, e brasonar-se que a peça está em abismo se for mais pequena que as outras.
A zona inferior do escudo, oposta ao chefe, é a ponta ou contrachefe.
Da mesma forma que sucede com o chefe, designa-se por vezes por ponta todo o terço inferior do escudo.
Finalmente, existem dois pontos especiais que merecem uma designação própria: o ponto de honra, entre o chefe e o coração, raramente usado, e o umbigo do escudo, entre o coração e a ponta, de uso ainda mais raro.
PEÇAS INTERNAS - HONRARIAS
As regras (convenções) de sinais das peças internas confundem-se, com frequência, com a convenção das partições do escudo, mesmoporque algumas formas das peças são geometricamente iguais às de algumas partições.
A diferença básica entre elas é que na convenção das partições as formas geométricas são usadas apenas para identificar e localizar (ao interior do escudo) as cores, o sdetalhes, as diversas figuras, etc, quando que na convenção das peças internas, as formas geométricas são usadas para simbolizar uma honraria obtida pelo detentor do escudo.
Na figura acima, na fileira de baixo, o segundo escudo (em Cruz), da esquerda para a direita, simboliza a espada do cavaleiro, muito usado por nobres e cavaleiros nas campanhas das Cruzadas.
Foi justamente essa configuração a escolhida por D. Afonso I, o primeiro rei de Portugal, em meados do século XII, ao tomar por escudo um campo de prata, centrado por uma Cruz azul (figura a seguir).
Seu filho, o rei Sancho I, por ocasião da explosão da moda ditada pela heráldica, alterou a representação da Cruz, adotando a forma com escudetes "cravejados" de besantes de prata que serviam a reforçar a superfície do escudo, fixando tecidos , peles, couro e metais. A mudança, na época, foi considerada muito oportuna e de acordo com o gosto heráldico naquele momento.
O filho de Sancho I, o rei D. Afonso II, por suas vez, simplificou a forma considerada difícil de se representar os escudetes repletos de besantes. Foi o próprio monarca a sugerir a redução dos besantes a um total de cinco, por escudete.
Por fim, o rei D. Afonso III, incluiu os castelos herdados de seu avô, D. Afonso VIII de Castilla, em torno a 1250. Para tanto, alterou forma primitiva para aquela clássica, usada ainda hoje. Durante a ocupação de Ceuta, o escudo português terminou por dar origem àquele da cidade autônoma, hoje pertencente ao território espanhol.
CEUTA
"Ceuta, cidade no estreito Hercúleo, em frente de Gibraltar,
foi uma das principais cidades no tempo dos Mouros, tanto
em edifícios como em riqueza de mercadorias, que daqui
partiam para toda a terra do Sertão.
E estava em tanta prosperidade que quantos navios
passassem pelo dito estreito, quer do Levante quer do
Poente, tinham que amainar as velas, porque toda a nau
que isto não fizesse, as galés dos Mouros as seguiam e
as tomavam." (Valentim Fernandes, 1507)
Atualmente é uma cidade autônoma espanhola, situada no norte da África, circundada pelo marrocos, localizada sobre a costa do mar mediterrâneo, vizinho ao estreito de Gibraltar, contando com uma superfície de 18,5 km2. Da época da idade clássica, Ceuta era conhecida como uma das colunas de Hércules (a outra era Gibraltar). Superado o estreito braço de mar que separa as duas cidades que marcavam o fim do mediterrâneo, tudo era desconhecido.
No decorrer dos séculos, Ceuta esteve sucessivamente subjugada ao domínio estrangeiro, a saber, aquele cartaginês, seguido da dominação romana, visigoda e árabe até que, em 1º de agosto de 1415, foi conquistada pelos portugueses. Em 1668, Portugal cedeu o território, definitivamente, à Espanha.
Ceuta possui un status entre província, cidade e comunidade autônoma. Antes do Estatuto de Autonomia, Ceuta fazia parte da administração da província de Cadiz.
A posição estratégica de Ceuta, na ponta setentrional do Marrocos (sobre o estreito de Gibraltar), fez com que a cidade se tornasse um local de passagem de muitas culturas, comerciantes e empresas militares, desde os tempos dos cartagineses no século V a.C. A partir de 2 d.C., quando os romanos passaram a controlar a região, que esta cidade portuária (na época chamada Septem Fratres), passou a fazer parte de um importante cenário militar e comercialmente estratégico. Após 400 anos de dominação romana, os visigodos assumiram seu controle que terminou passando aos muçulmanos em 710 d.C.. A região foi então usada como cabeça de ponte pelo chefe bérbere Tariq ibn Ziyad, em incursões à Espanha dominada pelos visigodos.
Séculos mais tarde, em 1415, durante o reinado de D. João I de Portugal, Ceuta foi conquistada pelos portugueses guiados pelo príncipe Henrique, O Navegador. O objetivo primário de tal conquista era aquele de acabar com a influência muçulmana na região e promover o cristianismo. Em 1º de janeiro de 1668, em Lisboa, foi assinado um tratado de paz entre Afonso VI de Portugal e Carlos II da Espanha, tendo como mediador o soberano inglês Charles II. Através desse acordo, Portugal cedia o território de Ceuta, definitivamente, aos espanhóis.
A diferença do escudo de Ceuta para aquele português, é estabelecida em dois elementos do escudo:
1. Enquanto o escudo de Ceuta carrega uma coroa de marquês, o escudo português ostentava uma coroa real, própria das marcas.
2. A posição dos castelos da bordadura. Nas armas de Portugal, os castelos estão dispostos de forma que a ponta do escudo esteja vazia, não contendo castelos. Já no escudo da cidade autônoma de Ceuta, o scastelos estão dispostos em ponta e flancos, deixando o chefe vazio. Tal diferença foi estabelecida na confecção do escudo, não sendo acidental como defendem alguns autores.
A evolução do Escudo Português
De 1093 ao atual formato, criado em 1910.