D. Maria II, uma brasileira no trono de Portugal

Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança nasceu no Rio de Janeiro, em 4 de abril de 1819. Rainha, de fato e de direito, de Portugal de 1834 a 1853, era filha de D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal) e da arquiduquesa Dona Leopoldina de Áustria; dessa forma irmã de D. Pedro II. Foi cognominada "A Educadora" ou A Boa Mãe, em virtude da aprimorada educação que dispensou ao seus muitos filhos. Foi a 31ª soberana de Portugal e dos Algarves, de 1834 a 1853. 

Deixou o Rio de Janeiro em 5 de julho de 1828, aos nove anos de idade, sob o título de duquesa do Porto, tendo reconhecidos, da parte de algumas potências européias, os seus direitos à coroa de Portugal. O marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant, foi o escolhido por D. Pedro IV para acompanhá-la em sua viagem além-mar. 

Dom Miguel de Bragança, seu tio, desembarcou em Lisboa no dia 22 de fevereiro de 1828, recebendo das mãos de D. Isabel Maria de Bragança a regência, e ratificando aos 26 do mês o juramento que prestou à Carta Constitucional perante as cortes que a infanta havia convocado. 

Não tardou a mudar de opinião! Em 13 de março dissolveu as cortes, posteriormente convocando o conselho dos três Estados para decidir a quem pertencia a coroa. O conselho reuniu-se, proclamando D. Miguel rei absoluto, em precipitada resolução, em vista do ato de reconhecimento do herdeiro da coroa prestado pela regência e real câmara dos pares, instituída pela Carta Constitucional, acerca da sucessão da Casa de Bragança nas duas coroas de Portugal e Brasil, e particularmente na de Portugal, já indicada nas conferências realizadas em Londres em agosto de 1823.

Consta do tratado de 25 de agosto de 1823, que reconheceu a Independência do Brasil, o artigo a seguir: «Como por causa da aceitação da renúncia pessoal do imperador do Brasil, D. Pedro, à Coroa de Portugal, as Cortes de Portugal devem determinar qual dos filhos do imperador será chamado à sucessão daquela coroa por morte do presente rei: entende-se que as ditas Cortes podem chamar à sucessão o filho mais velho do dito imperador do Brasil, ou a filha mais velha, na falta de descendência masculina.»

O infante D. Miguel residia em Viena, para onde havia sido enviado, por carta régia de 12 de maio de 1824, depois da revolta de 30 de abril ou Abrilada. Os brasileiros não aceitaram que o imperador cingisse a coroa portuguesa, o que resultaria na unidade da antiga monarquia, da qual haviam se libertado.

D. Pedro, depois de proclamado Rei de Portugal, resolveu abdicar da coroa portuguesa em favor de sua filha D. Maria da Glória, em 3 de maio, tendo em 29 de abril outorgado aos portugueses uma constituição livre, a Carta Constitucional. A abdicação era condicional: A princesa se casaria com seu tio Dom Miguel, e enquanto não fosse celebrado o consórcio - e o novo regime não dominasse em Portugal - continuaria a regência sob Dona Isabel Maria em nome de D. Pedro IV.

A 31 de julho de 1826 foi jurada a Constituição em Portugal. Dom Miguel, em Viena, também a jurou em 4 de outubro, aparentemente pronto a obedecer às vontades do irmão D. Pedro, e efetuou, por procuração, seus esponsais com a sobrinha perante a corte de Viena, a 29 de outubro. Foi dispensado o impedimento de consanguinidade por breve do papa Leão XII, estando a "rainha" representada no ato, em virtude do alvará que para tal fim fora conferido em 28 de abril de 1826, pelo barão de Vila Seca, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Império do Brasil junto à corte do imperador Francisco I, como participado às cortes pela infanta regente.

O reinado foi interrompido pelo levantamento absolutista liderado por D. Miguel I seu tio, noivo e atual regente, que se proclamou rei de Portugal a 23 de Junho de 1828. Começaram então as Guerras Liberais que se prolongaram até 1834, ano em que D. Maria retornou ao trono, sendo D.Miguel exilado para a Alemanha.
Figura: Portugal - D. Maria II (1834-1853) - 30.000 réis. Originariamente cunhada em 1725, na Casa da Moeda de Vila Rica (Minas Gerais), letra monetária MMMM, durante o reinado de D. João V (1706-1750), posteriormente monetizada durante o reinado de D. Maria II - brasileira de nascimento (1819, no Rio de Janeiro), irmã de D. Pedro II - com a respectiva contramarca das armas de Portugal, de acordo com o Decreto de 21 de julho de 1847, elevando seu valor de circulação para 30.000 réis. Essa moeda não faz parte do acervo da coleção numismática brasileira. Pertence ao ecervo das moedas de Portugal. Apesar de ter sido cunhada durante o governo de D. João V, época em que circulou no Brasil colonial, ao receber a contramarca de D. Maria II, foi monetizada pela soberana, passando ao conjunto de suas cunhagens. 

O marquês de Barbacena, chegando a Gibraltar com a princesa, em 3 de setembro de 1828, teve conhecimento por um emissário do que se passava em Portugal. Teve a perspicácia de compreender, com rapidez, que D. Miguel, resolvido a pôr-se à frente do movimento absolutista, constituía-se em grave perigo para a jovem rainha viajar à Viena. Sob sua responsabilidade, mudou a direção da viagem, rumando para Londres, onde chegou a 7 de outubro.

D. Miguel e sua família, no exílio.

A política inglesa nada favorecia seus intuitos. O gabinete de lorde Wellington patrocinava abertamente D. Miguel, de sorte que o asilo que o Marquês procurara não er, de foram alguma, seguro. D. Maria II foi recebida na corte com as honras devidas à sua elevada hierarquia, mas os ingleses impediam seus súditos ali emigrados de irem reforçar a guarnição da ilha Terceira.

O golpe de Estado de D. Miguel não passou sem protestos. A 16 de maio de 1828 revoltou-se a guarnição do Porto, aos 25 dias do mesmo mês, em Lagos, um batalhão de infantaria, mas as revoltas foram sufocadas. 

A situação de D. Maria II na corte inglesa tornava-se embaraçosa e humilhante. A rainha saiu de Londres para encontrar com sua futura madrasta, D. Amélia de Leuchtenberg. Partiram juntas em 30 de agosto de 1829 para o Rio de Janeiro, desembarcando no dia 16 de outubro.

Julgava-se perdida a causa constitucional. Os emigrados dispersos (França, Inglaterra e Brasil) dividiam-se em facções rivais. Só a ilha Terceira reconhecia os princípios constitucionais, e mesmo ali apareciam guerrilhas miguelistas. A França estava já disposta a reconhecer o governo de D. Miguel quando em 1830 rebentou em Paris a revolução de Julho, o que fez animar os liberais portugueses.


A abdicação de D. Pedro I, imperador do Brasil

Em 1831, D. Pedro I abdicou da coroa do Brasil em nome do seu filho D. Pedro II, irmão de D. Maria II. Viajou para a Europa com a filha e a segunda mulher, a fim de sustentar os direitos da primeira à coroa de Portugal. Tomou o título de Duque de Bragança, e de Regente em seu nome.

Quase ao mesmo tempo, a regência da ilha Terceira, nomeada por D. Pedro e composta do Marquês de Palmela, do Conde de Vila Flor e de José António Guerreiro, pode preparar uma expedição que em pouco tempo se apossou dos Açores. Enquanto se ampliava assim o território constitucional, D. Pedro desembarcava em França, sendo acolhido com simpatia pelo novo governo e por Luís Filipe I. 

D. Pedro deixou a filha em Paris para concluir a sua educação, entregue à madrasta, com bons mestres, e partiu para os Açores à frente duma expedição organizada na ilha de Belle-Isle, reunindo seus partidários. Chegando aos Açores a 3 de Março de 1832, formou novo ministério, juntou pequeno exército, cujo comando entregou ao Conde de Vila Flor, meteu-o a bordo duma esquadra que entregou ao oficial inglês Sartorius, e partiu para Portugal continental, desembarcando a 8 de Julho na Praia da Memória, em Matosinhos. Seguiu-se o cerco do Porto e uma série de combates, até que a 24 de Julho de 1833 o Duque da Terceira entrou vitorioso em Lisboa, depois de ter sido vitorioso, na véspera, na batalha da Cova da Piedade. Porto e Lisboa, as principais cidades, estavam no poder dos liberais. D. Pedro veio para Lisboa, e mandou vir sua filha de Paris.