Avaliações - Leis de mercado


Para que uma moeda seja considerada rara e, eventualmente, para que essa condição influencie sobremaneira no seu valor de mercado, não basta que sua cunhagem tenha sido baixa ou que existam poucos exemplares oferecidos aos colecionadores e investidores. O que conta realmente é o conjunto de variáveis em que um determinado exemplar se insere. Destarte, uma moeda considerada comum pode atingir valores notáveis, caso seu estado de conservação, por exemplo, seja único; como aconteceu recentemente com um exemplar do 2.000 réis de prata, estrelas soltas, uma moeda relativamente comum (foto a seguir), mas não PROOF, ao que tudo indica único exemplar conhecido. Essa moeda foi vendida em um leilão nos EUA por uma cifra que superou os US$ 9.000,00 (nove mil dólares). Moeda comum, em incomum estado de conservação, o que foi suficiente para que lhe fosse atribuído um valor de mercado alto. 

Por que ? Porque o estado de cunhagem em que se encontra (PROOF) faz com que esse exemplar seja ÚNICO.
Figura acima: República - 2.000 Réis 1913 A, em excepcional estado de conservação, provavelmente único, (PCGS, proof 67), leiloado nos EUA em 2011; valor final: US$ 9.200,00. A série completa, composta dos demais valores, 1.000 Réis e 500 Réis, foi negociada no mesmo leilão, alcançando a espetacular cifra (para uma moeda comum) de US$ 19.219,50 para as três peças, sendo US$ 5.462,00 para o 1000 Réis e US$ 4.557,50 para o 500 Réis. Imagem ampliada.

O grau de raridade - e, consequentemente, o valor atribuído a uma determinada moeda - depende de determinadas variáveis que devem ser observadas com atenção.

Devido às diversas vicissitudes históricas (dispersão, retirada de circulação, fusão, etc.), pode acontecer que determinadas moedas, cunhadas em número elevado, com o passar do tempo, venham a ser consideradas mais raras do que outras cunhadas em quantidades consideravelmente menores. Assim, o grau de raridade é função da dificuldade em se encontrar (por diversos motivos, e não apenas devido à quantidade reduzida de exemplares cunhados) uma determinada moeda.
Em nosso catálogo, já em segunda edição, graduamos a raridade em conformidade com o descrito acima, indo desde as moedas muito comuns (C.2), até a peça única, passando pela classificação R.5 (RRRRR) que corresponde ao exemplar da mais alta raridade.


Mas, quando podemos afirmar que um determinado exemplar é raro? 

A resposta espontânea deveria ser: "Quando não é facilmente encontrado". Todavia a questão não é assim tão simples; justamente porque o conceito de raridade envolve mais do que a mera interpretação do porque uma moeda se define rara.


Uma moeda é rara por que existem poucos exemplares ou por que não aparece regularmente no mercado?

O leitor poderia argumentar que o importante é que seja definida como rara e que isso seria o bastante para exaurir o assunto. Não se pode contestar tal acertiva, mas é importante esclarecer o motivo pelo qual algumas dessas raridades valem muito mais do que outras.

Suponhamos que uma moeda seja classificada como raríssima porque conhecemos 10 (dez) exemplares, onde 7 (sete) pertençam a acervos conhecidos. Os 3 exemplares restantes seriam propostos no mercado por longo período, talvez mesmo por anos, sem experimentar uma valorização. Podemos até arriscar que, dependendo da oferta e do número de vezes que sejam expostas à venda, arriscam até uma desvalorização.

Ao contrário, uma moeda Muito Rara, cunhada em tiragem de apenas 100 exemplares, mas com a vantagem do interesse de 200 potenciais compradores (por exemplo), seria facilmente negociada, gozando sempre de uma valorização cotidiana, justamente porque se coloca  numa relação de oferta e procura de 1 para 2 ou seja, uma moeda disputada por dois interessados em adquiri-la.

Essa é a lei, a da oferta e procura, que regula o mercado e determina o valor de um exemplar. Mesmo com variações, é a lei determinante.
A lei da oferta e da procura, certamente é um dos fatores que mais influenciam os preços das mercadorias em geral, principalmente quando estamos tratando com bens preciosos. Mas não só isso! Porém é fato que uma oferta grande tem relação inversa com o preço. Em outras palavras, quanto mais oferta, menos procura e, consequentemente, um ajuste de preço "para baixo" é necessário para que o mercado possa fluir.
Dessa forma, podemos concluir que a raridade de um exemplar é, SIM, importante a fim de que se possa estabelecer um valor; mas não determinante.

Figura: D. João Príncipe Regente - Casa da Moeda do Rio de Janeiro / 960 réis 1809R. Da mais alta raridade (5R); único exemplar conhecido. Acervo do Museu de Valores do Banco Central do Brasil. Imagem gentilmente cedida pelo MVBC.

Alguns clássicos exemplos do que acabamos de explicar, 3encontramos nas moedas de 960 réis e suas variantes. Tomemos como referência o 960 réis 1815R Legenda Alternada (figura a seguir). Trata-se de exemplar raro, que costuma aparecer no mercado a cada 10 anos, principalmente se em condição acima de MBC (muito bem conservada). Mesmo que quiséssemos atribuir a este exemplar o valor que merece como raridade, tal cotação estaria bem acima do seu real valor de mercado; a lei que rege a comercialização dessa variante não lhe é muito favorável. Inexplicavelmente, mesmo tratando-se de moeda muito rara e dificilmente encontrada no mercado numismático, o 960 réis 1815R, com a legenda de reverso alternada é uma moeda que continua com seu preço invariável há anos. Mesmo sendo peça importante para quem se dedica à coleção dos 960 réis, essa rara variante não consegue ultrapassar uma determinada faixa de preço (Target Price), inalterada com o passar do tempo. Com o recente interesse do mercado internacional pelas nossas moedas, esperamos que esse quadro mude, valorizando cada vez mais as moedas da coleção numismática brasileira.


As avaliações, sobretudo aquelas relativas às moedas em grau de conservação fdc, ou àquelas que não se vêem com frequência nas contratações comerciais (FDCe), são suscetíveis de variações impostas pelo mercado.

Os exemplares perfeitos, com pátina de medalheiro, e em estado de conservação excepcional, em geral atingirem preços particularmente elevados por seu estado de conservação e por sua beleza.

Para aquelas moedas raríssimas, é importante estar atento aos dados obtidos nas tratativas comerciais mais recentes, o que pode ser feito consultando listas de preços e, principalmente, os valores alcançados nos leilões nacionais e internacionais. No particular caso das hastas, convém recordar que as indicações dos preços fazem referência à melhor oferta, somados a esta os valores relativos aos direitos de comissão dos leiloeiros, impostos, etc. O somatório determina o valor final que o comprador concordou em pagar para adquirir um determinado lote, fixando assim o seu preço.

Contudo, é oportuno salientar que se há algum tempo, os leilões (principalmente no EUA) experimentaram um "boom" comercial jamais visto, a tendênci aatual é que o mercado se equlibre, determinando preços mais coerentes e menos inflacionados para as moedas brasileiras.


ESCLARECIMENTO IMPORTANTE

O colecionador irá notar que, no nosso catálogo, algumas vezes não constam as avaliações para determinados estados de conservação da moeda. Certamente existe uma lógica para adotarmos tal conduta.
Vamos usar como exemplo o 640 Réis 1832R, moeda do Império (D. Pedro II), cunhada em tiragem de apenas 118 exemplares. Na nossa avaliação, temos 5 colunas (BC, MBC, SOB, FDC e FDCe). Quem consultar nosso catálogo irá notar que para essa moeda, demos um valor de mercado apenas para o estado MBC, deixando os demais em branco.

Por que ? ... Simples ! Porque desconhecemos - até o presente momento - um exemplar dessa moeda em estado de conservação diferente do MBC. As únicas (e poucas, pois são raríssimas) que conhecemos, e que constam dos nossos arquivos, encontram-se todas neste estado de conservação (MBC). Assim, não haveria o menor sentido dar um valor para esse exemplar em estado FDC; justamente por NÃO termos conhecimento da existência dessa moeda nesse estado de conservação. Desconhecemos, por assim dizer, o valor que semelhante exemplar alcançaria em um leilão, justamente por ainda não existir um parâmetro para os preços dessa moeda nesse estado.


ATENÇÃO, o preço não é função de uma progressão geométrica

Alguns tentariam argumentar que poderíamos prever os preços, atribuindo um fator multiplicativo para os outros estados; por exemplo, dobrando o valor da cotação MBC, a fim de preencher a avaliação SOB, e assim sucessivamente. O problema é que, também sob esse aspecto, tal procedimento não faz sentido. Não podemos simplesmente pegar o valor MBC, dobrá-lo (por exemplo) a fim de se obter uma cotação para o estado SOBERBO. A coisa não funciona assim!

Mas por que não faz sentido? ... Imagine que existam 500 exemplares de uma moeda no estado MBC e que sejam conhecidos 100 exemplares no estado SOB, e outros 20 no estado FDC, perfazendo um total de 620 moedas conhecidas. Certamente iremos atribuir preços para esses estados de conservação, pois sabemos da existência desses exemplares. Admita que o valor para MBC seja 500, para SOB seja 1000 e para FDC seja 2000 (hipóteses). Está claro que os valores foram dobrados.

Agora admita uma moeda da qual conhecemos 615 exemplares no estado MBC, apenas 5 no estado SOB e NENHUM no estado FDC, totalizando os mesmos 620 exemplares do primeiro exemplo. Digamos que o valor atribuído aos exemplares MBC, seja 500.
Simplesmente dobrar esse preço, para atribuir um valor ao estado SOB, e repetir a operação para o estado FDC, não faz o menor sentido, justamente porque, nesse caso, é o estado de conservação o fator determinante da raridade.

D. João Príncipe Regente - Casa da Moeda de Vila Rica (Minas Gerais) / 960 réis 1810M, reverso invertido. Exemplar da mais alta raridade (5R).

A moeda é rara não só pelo tipo e pela data, mas também pelo seu estado de conservação raro, raríssimo ou mesmo único. Imagine, por exemplo, o que aconteceria num leilão se aparecesse um exemplar de uma moeda relativamente comum, porém no estado FDCE, algo jamais visto até hoje.

O leitor deve procurar entender que toda moeda é única. Um exemplar não é determinado apenas pelo tipo e pela data. Entram em sua classificação, também, o estado de conservação (muito importante). Dessa forma, dar um valor ao 640 Réis 1832R FDC, não faz sentido, justamente porque essa moeda, pelo menos até o momento, NÃO EXISTE, ou se existe, até hoje não apareceu no mercado. É praticamente impossível atribuir-lhe um valor. Lógico que com o passar dos anos, e a cada ano, nas alterações de preços do nosso catálogo, caso surja um 640 Réis 1832R FDC, no mercado, estaremos em condições de atribuir o devido valor a tal exemplar, preenchendo o espaço que anteriormente estava vazio. Justamente por possuirmos parâmetros que nos ajudem a estabelecer a cotação; tais como, um leilão, por exemplo.


ESTADOS DE CONSERVAÇÃO

Influenciam notavelmente nas cotações. Via de regra, o colecionador deve procurar, sempre que for possível, dar preferência à moeda no melhor estado de conservação possível. A compra de moedas em estado de conservação precário deve ser sempre justificada levando em consideração o grau de raridade da peça e não por ser mais econômico adquirir um exemplar em estado de conservação inferior.
A aquisição de uma moeda em estado de conservação inferior ao MBC se justifica quando o colecionador se encontra diante de um exemplar muito raro. Diversamente estará desvalorizando sua coleção e, porventura, seu investimento, já que estamos falando de um dos hobbies que mais cresce e se valoriza na Europa e nos EUA.

Figura: FLOR DE CUNHO EXCEPCIONAL - Considerada a moeda perfeita; sem qualquer defeito de cunho, sem marcas de contato, com todo seu brilho original. Na graduação usada pelo método americano, corresponde ao estado de conservação igual ou superior ao MS67. A moeda da figura, uma dobra da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, foi leiloada nos EUA. Ex-coleção Eliasberg.

Com a finalidade de dar uma referência simples, porém precisa – e também para não confundir o leitor (colecionador) – em nosso catálogo adotamos apenas cinco, entre os vários gaus de conservação, a saber: Bem Conservada (BC), Muito Bem Conservada (MBC), Soberba (SOB), Flor de Cunho (FDC) e Flor de Cunho Excepcional (FDCe).
Nossas estimativas são baseadas em estudos e pesquisas dos preços praticados no comércio e nos leilões ocorridos nos últimos anos, não só no Brasil, como também na Europa e nos EUA.
É importante ressaltar que em casos de excepcionais exemplares, o preço depende sobretudo de tratativa entre as partes, já que os valores aqui expostos são puramente indicativos, não devendo, obrigatoriamente, constituir-se em um vínculo entre comprador e vendedor.

Especial atenção deve ser dada a este aspecto relevante do colecionismo de moedas (conservação), bastando para tanto, conhecimento do assunto, uma boa lente, prudência e, principalmente, paciência; afinal, quase sempre nos deparamos com exemplares melhores do que aquele que nos foi apresentado num determinado momento.

Na impossibilidade de se adquirir material de alta precisão como lupas estereoscópicas (mais indicado para colecionadores avançados e estudiosos), basta uma lente de aumento eficaz, auxiliada por boa iluminação, o que poderá dar ao leitor uma razoável idéia do estado geral da moeda que pretende examinar ou adquirir.
Importante ressaltar que ao analisar o grau de conservação de uma moeda, o seu LUSTER e a sua pátina devem ser levados em consideração já que se constituem em aspectos fundamentais da análise. Atenção às pátinas obtidas artificalmente! Com alguma experiência é fácil distingui-las das naturais pátinas adquiridas através do tempo em que ficaram armazenadas com cura; a chamada pátina de medalheiro.


ESTADOS DE CONSERVAÇÃO INTERMEDIÁRIOS

Com a internacionalização do mercado de moedas, as cotações sofreram um ajustamento das colunas de classificação para os diversos países que as comercializam.
Se antes classificávamos um exemplar em MBC ou SOB, hoje existe a possibilidade de classificá-lo num estágio intermediário ou seja MBC/S. Em outras palavras, a moeda apresenta detalhes que a colocam além do estado MBC, mas que não são suficientes para classificá-la como um exemplar soberbo. Nas graduações do sistema norte-americano, isso fica bem evidente nas numerações atribuídas a cada estado (AU58, MS60, etc). Nestes casos particulares, a título de preço, seria aconselhável um valor intermediário entre o estado inferior e o superior, caso estejam bem próximos; ou um acréscimo de até 50% (máximo), no estado inferior, o que nos parece mais justo, já que em alguns exemplares muito raros, a simples passagem de um estado para outro imediatamente superior, significa um notável aumento de preço. Tudo depende do estado geral da moeda e da tratativa entre vendedor e comprador. Nosso trabalho, pelo menos por enquanto, limita-se a estabelecer valores para as colunas clássicas, além da nova que inserimos (FDCe).

Ao colecionador iniciante: Em caso de dúvida com relação às informações relevantes sobre um determinado exemplar, procure se aconselhar com colecionadores mais avançados e experientes, principalmente se estiver em jogo a aquisição de moedas raras e de alto valor.


Figura: Império - D. Pedro I - 80 Réis de cobre recunhado sobre "ONE LARGE CENT". Apesar da aparência de moeda falsa, a verdade é que NÃO é contrafeita. O cunho é verdadeiro e corresponde nos mínimos detalhes ao original. Existem apenas dois exemplares dessa "raridade". Especula-se que, provavelmente, o funcionário da Casa da Moeda que trabalhava na cunhagem, tinha duas destas moedas americanas (base) no bolso. Num dado momento de pausa, sem ter o que fazer, resolveu bater o cunho, que já estava em posição, sobre essas duas "moedinhas".


CLASSES DE CUNHO
Subdivisão das moedas por classes de cunho para catalogação avançada.

Algumas moedas, mesmo que jamais tenham entrado em circulação, apresentam aspectos que para muitos podem parecer sinais de desgaste, quando na verdade se devem propriamente ao processo de cunhagem. Isso induz alguns colecionadores a afirmar jamais terem visto um exemplar FDC de uma determinada moeda, mesmo quando existe um valor pré-fixado em algum catálogo, para esse estado de conservação.

A confusão, por assim dizer, se dá justamente devido ao processo de cunhagem. Muitas moedas que jamais circularam, por vezes não apresentam o aspecto desejado de uma moeda em grau de conservação FDC. Destarte, podemos encontrar moedas FDC mal cunhadas, com ranhuras, mal centradas, com relevos e detalhes pouco visíveis, etc. Tal se deve propriamente ao cunho cansado, muito usado, ou mesmo ao processo pelo qual foi cunhada a moeda, fazendo com que a dúvida interfira e persista, principalmente nos momentos de negociação.
Por isso, além da usual forma de classificar moedas quanto à sua conservação, achamos por bem inserir em nosso catálogo mais um parâmetro para que o colecionador possa melhor compreender o difícil processo de catalogação de uma moeda. Dito isso, é oportuno recordar que, mesmo se tratando de uma moeda FDC, seu preço de catálogo pode ser diminuído ou aumentado, e que tal pode se dar devido ao processo pelo qual foi cunhada.

Observação: Em nosso catálogo, as indicações de classe são colocadas abaixo de cada moeda e descritas por extenso. Os defeitos encontrados são indicados mediante abreviações, seguidamente à indicação da classe a que pertence a moeda.

A divisão por classes de cunho:

1ª Classe - A moeda frequentemente se apresenta sem defeito de cunho (defeitos de cunhagem dificilmente são encontrados). Nesse caso, nossa avaliação se refere justamente à moeda sem tais defeitos de cunhagem. A presença de defeitos de cunho (excluindo os que se consagraram como clássicos) diminui a cotação do exemplar.

2ª Classe - A moeda costuma apresentar defeitos de cunho; defeitos, tais como cunho descentralizado e/ou fraco, são facilmente encontrados nos exemplares examinados. A avaliação do catálogo se refere à moeda com os defeitos de cunho descritos. A ausência de tais defeitos pode aumentar seu valor.

3ª Classe - A moeda apresenta defeitos de cunho frequentes (aqui, os defeitos de cunho são a regra).      A avaliação do catálogo se refere à moeda que apresenta os defeitos de cunho descritos.  A ausência destes defeitos pode aumentar, significativamente, seu valor de catálogo. As avaliações indicadas no catálogo levam em conta os defeitos que em geral são encontrados nas moedas. A presença de um ou mais defeitos de cunho em moedas cuja norma é não apresentar tais defeitos, faz com que o valor atribuído sofra um considerável decréscimo. Por outro lado, a ausência de tais defeitos em moedas que frequentemente costumam apresentá-los, pode aumentar consideravelmente o seu valor de catálogo.


Figura: D. Pedro II - Série dos Cruzados - Casa da Moeda do Rio de Janeiro, sem letra monetária, datado 1844 (3 conhecidas). O exemplar acima pertenceu à coleção do Dr. Silveira, de Curitiba. Foi vendido em leilão da SNP (Sociedade Numismática Paranaense) que se encarregou da venda de toda coleção do numismata. O último leilão dessa moeda ocorreu nos EUA em 2011. Valor final US$ 83.375,00, já com a comissão do leiloeiro.


CRITÉRIOS NA HORA DA ESCOLHA

É fato que, em primeiro lugar, entre os critérios adotados, está o amor pelo nosso hobby. Porém, é importante esclarecer que o aspecto investimento é bastante relevante e que, certamente, tem peso considerável ao se adquirir um novo exemplar. Ninguém gosta de jogar dinheiro fora! A sensação de que, anos mais tarde, aquilo que possuímos vale menos do que pagamos, não é de certo estimulante. Adquirir moedas para nossa coleção é assunto sério e, de forma alguma, deve ser feito improvisamente e sem critério.
Muitas vezes nos perguntam qual a melhor forma de escolher um exemplar que deverá assumir posição de destaque em uma coleção. Os critérios são muitos, começando por adquirir moedas que façam parte de um tema, período ou metal. Antes de iniciar uma coleção, devemos pensá-la, planejá-la, de forma tal a estabelecer uma lógica dentro daquilo a que nos propomos. Podemos colecionar moedas por tamanho, por soberano, por tipo.

Exemplificando, quem se dedica ao colecionismo clássico de moedas da antiguidade, o faz escolhendo um determinado período, por exemplo, da antiga Roma. Podem ser, por exemplo, áureos e denários dos primeiros imperadores (os chamados 12 Césares), ou as moedas cunhadas com a efígie de Hércules com manto de leão, obedecendo às diversas casas monetárias, durante o período em que viveu Alexandre Magno, ou mesmo adotando as efígies de animais de cada cidade estado na Grécia (Siracusa/golfinho, Atenas/coruja). Mesmo não sendo este o tema abordado em nosso catálogo, são conselhos que servem a orientar o colecionador na hora da escolha de um novo exemplar.

São várias as perguntas a serem respondidas. Isso deve ser feito com sinceridade e honestidade. Vejamos as principais:
  1. Devo escolher uma moeda pelo preço estabelecido em um catálogo ou por aquele praticado pela pessoa que a está vendendo?
  2. Se encontro uma moeda que falta em minha coleção, mesmo estando em estado de conservação que não me agrada, devo comprá-la?
  3. Existe grande diferença entre uma moeda soberba e uma flor de cunho?
  4. Quando devo adquirir uma moeda em estado de conservação precário?
  5. Quais são os critérios para avaliar o grau de conservação de uma moeda?
Antes de tudo, devemos sempre adquirir moedas que se encontrem no melhor estado de conservação possível. Assim, se existe a possibilidade de adquirir uma moeda flor de cunho, esta deve ser a escolhida. As moedas em excelente estado de conservação são sempre as mais negociadas e procuradas; além do que, valorizam a coleção.
Basta dizer que em leilões internacionais, a preferência por moedas em excelente estado de conservação é notável, e influenciam sobremaneira o preço final do exemplar. Podemos citar como exemplo uma piastra de 120 Grana de Ferdinando IV di Borbone de 16º tipo em data 1805 com a efígie do soberano com cabelos fluentes. Num mesmo leilão, alcançou preços de 700 euros (conservação soberba) e 3000 euros em estado FDC excepcional.

Em outras palavras devemos, sempre que possível, adquirir moedas em excelente estado de conservação e somente nos casos em que é certamente muito difícil encontrá-la em grau de conservação FDC, é que devemos optar por graduação inferior.
Sabemos que a ansiedade, quase sempre, é má conselheira e temos a noção exata do que pode provocar em um colecionador quando se depara com uma moeda que procura há anos. Mesmo assim, somos de opinião que se deva agir com prudência e cautela, pois nada é mais desestimulante do que adquirir uma moeda, pagando muito por ela, para em seguida encontrá-la em estado de conservação muito melhor e por um preço que, mesmo sendo consideravelmente maior, nos daria a satisfação de haver adquirido um novo exemplar que certamente seria capaz de proporcionar momentos de prazer e satisfação.

Mesmo um pequeno desgaste no estado de uma moeda pode determinar uma grande diferença no preço. As moedas que entram em circulação, naturalmente sofrem desgastes devido ao seu manuseio, tendo cotação inferior às moedas que não entraram em circulação, mais procuradas e valorizadas.

Figura: Interessante e raríssimo exemplar de 3.200 Réis da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, demonstrando que o cunho foi usado em três datas diferentes (data emendada). A primeira, 1754, onde se pode notar os traços do “4”. Em seguida, a data foi emendada para 1755, com os detalhes do “5” pouco visíveis. A última data, 1756, é a da moeda da foto acima. Essa moeda foi leiloada nos EUA, em janeiro de 2011 (estado de conservação MS 65 - FDCE). A raridade do exemplar se deve não somente à própria moeda (são muito raras, no mercado, as moedas de 3.200 Réis), mas também ao seu excepcional estado de conservação e a particularidade das datas emendadas. A descrição do catálogo americano a define como “Gem Uncirculated”. Sem dúvida, um dos mais belos e raros exemplares de moeda brasileira que tem aparecido nos mercados nacional e internacional, nos últimos anos. Uma verdadeira jóia da nossa numismática. Foto e detalhes ampliados. Valor final : US$ 43,125.00

Fatores que contribuem para valorizar um exemplar:
  • Campo com brilho original.
  • Pátina bela e uniforme.
  • Belo aspecto geral.
  • Belos estilo e design.
  • Cunho bem centralizado.
  • Detalhes de relevo bem visíveis.
  • Dimensões notáveis.
Fatores que desvalorizam a moeda:
  • Vestígios de adulteração, solda, etc.
  • Marcas profundas no bordo ou campo.
  • Cerceio.
  • Arranhões.
  • Vestígios de limpeza e polimento.
  • Defeitos de cunho; ou cunhagem rasa.
  • Pátina artificial (fabricada).
  • Detalhes de relevo pouco visíveis.

ATENÇÃO AO MERCADO

Com relação aos dobrões de D. João V, por exemplo, até há algum tempo estas moedas não apareciam com frequência no mercado numismático. O comprador que pretendesse adquiri-las, deveria consultar várias casas numismáticas e aguardar por um bom tempo até que um único exemplar lhe fosse apresentado. Todavia nos últimos anos, essa situação mudou consideravelmente, com centenas de exemplares sendo oferecidos em leilões internacionais, fazendo com que a cotação dos dobrões (20.000 réis de D. João V) experimentasse uma notável queda em relação aos preços praticados em anos anteriores. 
Até mesmo o exemplar de data 1724 (foto a seguir), antes considerado raríssimo, em apenas um ano, se fez presente em 5 leilões distintos, entre os EUA, Suiça e Portugal, tendo sido oferecidos mais de 8 exemplares dessa moeda que, se antes era considerada da mais alta raridade, hoje faz fadiga em conseguir um R3, sendo melhor classificada em R2, no contexto de uma avaliação que vai de CC (muito comum) a R5 (da mais alta raridade).



O leitor deve estar atento a esta lógica de mercado que não é diferente daquela praticada comercialmente com qualquer produto, principalmente quando diz respeito aos bens preciosos. Certamente, os exemplares FDC terão sempre seu posto assegurado, com um valor distanciado de suas “irmãs” em grau de conservação inferior. Mesmo assim, convém salientar que, se há alguns anos, um exemplar do dobrão de 1724 qFDC (quase flor de cunho) poderia tranquilamente atingir a cifra dos US$ 45.000,000 ou mesmo US$ 50.000,00, em um leilão de prestígio internacional, hoje mal consegue atingir a cifra dos US$ 25.000,000, fazendo algum esforço para ultrapassar essa barreira. Notável também o fato de que, no passado, o dólar estava muito mais bem cotado, portando o preço do exemplar à paridade com sua cotação em euros.

Um outro claro exemplo diz respeito ao 960 réis 1832 R, FDC que vem experimentando uma queda vertiginosa em sua avaliação, justamente devido à grande quantidade dessas moedas que tem aparecido ultimamente no mercado. A descoberta de um lote de mais de 32 destas moedas e a consequente frequência com que tem aparecido no mercado, oferecida por comerciantes e em leilões internacionais, contribuiu para que o preço dessa moeda caísse dos 10.000 dólares praticados inicialmente para 4.500 dólares (pouco mais de 3.000 euros), mesmo com a baixa cotação da moeda americana.

Figura: 960 réis 1832 R, em estado de conservação FDCE (flor de cunho excepcional). 


CONCLUINDO:

O preço de uma moeda depende sobretudo da sua raridade. Mas depende muito mais do seu estado de conservação, o que faz com que seu preço aumente ou diminua consideravelmente.

É aconselhável sempre adquirir exemplares de pessoas que tenham conhecimento da matéria e que estejam em condições de distinguir: Autenticidade; Estado de conservação; Raridade; Preço real de mercado; Catalogação correta; A dinâmica do mercado.

Aspectos relevantes a serem observados no momento da aquisição de um exemplar:

1) Procurar fazê-lo de pessoa idônea. 2) Entre os comerciantes, preferir os estabelecidos comercialmente ou os de sua confiança 3) Desconfie sempre quando diante de ofertas fantásticas. 4) Atenção às falsas (exemplo: Florins, Soldos e, principalmente, os carimbos), o número de exemplares falsos está aumentando consideravelmente. 5) Atenção à conservação, pois incide consideravelmente no preço. 6) Atenção aos furos tapados com solda, datas e letras adulteradas (desvalorizam sobremaneira a moeda).