O valor do dinheiro

Hoje iremos falar um pouco sobre a "coisa" mais cobiçada em nossos dias; o dinheiro. Você vai conhecer a diferença entre valor intrínseco e valor nominal (extrínseco), e entender porque a moeda que hoje circula no mundo vale praticamente "nada" sob o primeiro aspecto (valor intrínseco), dependendo exclusivamente da confiança que se tem em um governo que garanta seu valor nominal. A moeda que carregamos hoje chama-se fiduciária justamente por depender da "fiducia" (palavra que significa confiança) que devemos ter nos nossos governos e instituições.

O que é a moeda (dinheiro), como nasceu e a que serve ?

A moeda é um instrumento de intermediação de troca que estabelece o valor dos objetos trocados, representando a sua equivalência. É um meio intermediário de escâmbio (permuta), cuja função principalé facilitar a troca comercial. Sua função é (deveria ser), única e exclusivamente, aquela de representar o valor de um bem, deixando a quem a recebe pagamento, a decisão de fazê-lo em moeda ou mercadoria equivalente. 

Tratar a moeda como mercadoria tem sido um dos erros dos governantes a partir do século XX, mudando o entendimento do conceito de riqueza. Perdendo sua função principal, e sendo extremamente desejada, a moeda passou a ser vítima de constante especulação, fazendo com que por vezes lhe fosse atribuído valor maior ou menor do que realmente representa, gerando inflação, recessão e outros problemas derivados do seu mau emprego. 


DAS MOEDAS DE CONTAGEM ÀS PRIMEIRAS MOEDAS METÁLICAS

A moeda representa o rompimento do vínculo com o processo de trocas que a antecedeu. A primitiva forma de vida social se baseava num sistema simples de permutas, onde a mercadoria trocada deveria ser pesada a cada vez que se verificasse a intenção de uma negociação comercial. Porém, bastava que aumentassem as espécies de mercadorias trocadas para surgirem as dificuldades de gerir este processo. 

Com o tempo se fez extremamente necessária a introdução de um elemento capaz de representar todas as mercadorias, de tal forma que pudesse agilizar as trocas. Se uma determinada mercadoria fosse do interesse de alguém, bastaria pagar por ela, sem a necessidade de troca. Basta imaginar dois comerciantes, com duas mercadorias distintas A e B. O proprietário da mercadoria A deseja a mercadoria B, mas o proprietário desta não tem interesse na mercadoria A, e sim numa terceira mercadoria C, vendida em outra cidade. É fácil entender como a moeda facilita o processo. Basta que o dono da mercadoria A pague, com moeda, pela mercadoria B; este por sua vez, com a moeda recebida, satisfaz seu desejo em adquirir a mercadoria C, pagando por ela com a mesma moeda recebida. 

Assim, a dificuldade criada pela falta de interesse em um determinado gênero, deixava de ser um problema.

Antes da introdução da moeda, no momento em que seu proprietário necessitava efetuar a troca por víveres, por exemplo, se ninguém se interessasse por sua mercadoria, um problema sério se apresentava.
A criação de um elemento de interesse comum (a moeda), criou a possibilidade real de uma troca, bastando para tanto estar de posse desse elemento intermediário. O comerciante poderia, por exemplo, negociar seu produto em outra região, trocando-o pelo novo elemento introduzido, o que lhe daria a possibilidade de obter víveres quando e onde pretendesse.

A moeda, como hoje a conhecemos, é o resultado de uma longa evolução. Como vimos, no início das tratativas comerciais não existia, praticando-se o escâmbio ou escambo, a simples troca de mercadoria por mercadoria. 
Alguns gêneros de produtos, pela sua utilidade, passaram a ser mais procurados e aceitos do que outros, passando a assumir a função de moeda, circulando como elemento intermediário na troca por outros produtos e servindo para dar-lhes o devido o valor. Eram as chamadas moedas-mercadoria.
O gado e o sal eram bem aceitos como instrumento de troca e acabaram por deixar registros em nosso vocabulário. Até hoje, empregamos palavras como pecúnia (dinheiro) e pecúlio (dinheiro acumulado), derivadas da palavra latina pecus (gado).
Imagem ampliada: Áureo, Otaviano Augusto, casa da moeda incerta. Anv: CAESAR, busto laureado voltado à esquerda. Rev: AUGUSTUS, boi (pecus) caminhando, voltado à esquerda. 3 peças conhecidas.


A palavra capital (patrimônio) vem do latim capita (cabeça). A palavra salário (remuneração, normalmente em dinheiro, devida pelo empregador pelo serviço do empregado) tem como origem a utilização do sal, que na antiga Roma servia como pagamento de serviços prestados.



Figura: Reis da Macedônia. Filipe II (359-336 aC). Magnífico Stater de ouro (8,56 g), com belíssima pátina e excepcional estado de conservação. Casa da Moeda de Kolophon (Sicilia e Magna Grecia). Batida sob o reinado de Filipe III, por volta de 323-319 a.C. Anv/Busto laureado de Apollo, voltado à direita com as características de Alexandre, o Grande. Rev/Biga com condutor, em posição de combate, com lança na mão direita. Tripé, embaixo, à direita. Thompson, “Posthumous Philip II Staters of Asia Minor”. Acervo particular. Imagem ampliada.

Com o passar do tempo, tais mercadorias tornaram-se um inconveniente às transações comerciais, não só em virtude da oscilação de seu valor, mas principalmente pelo fato de não serem fracionáveis e também por serem facilmente perecíveis, não permitindo o acúmulo de riqueza.

Quando o homem descobriu o metal, logo passou a utilizá-lo para fabricar seus utensílios e armas, anteriormente feitos de pedra.

Por apresentar vantagens como a possibilidade de entesouramento, divisibilidade, raridade, facilidade de transporte e beleza, o metal impôs-se como principal padrão de valor, sendo trocado sob as mais diversas formas; a princípio, em seu estado natural, depois sob a forma de barras e, ainda, sob a forma de objetos, como anéis, braceletes, etc. Os utensílios de metal passaram a ser mercadorias muito apreciadas. Sua produção exigia, além do domínio das técnicas de fundição, o conhecimento dos locais onde poderia ser encontrado. Essa produção, naturalmente, não estava ao alcance de todos.

A valorização cada vez maior dos utensílios levou à sua utilização como moeda e ao aparecimento de réplicas de objetos metálicos, em pequenas dimensões, a circularem como dinheiro, como as moedas faca e chave, encontradas no Oriente, e do talento, moeda de cobre ou bronze, com o formato das vestes feitas de pele de animal, encontradas na Grécia e em Chipre. 

Foram os sumérios (habitantes da Mesopotâmia que em tempos remotos haviam inventado a escrita) que, através de seus sacerdotes, se encarregaram de escolher o metal como o meio mais conveniente a servir de intermediário nos processos de troca.

Os metais escolhidos foram o ouro (sagrado disco solar) e a prata (consagrada à lua). A relação entre os dois metais foi estabelecida na razão de 1 para 13⅓, correspondendo, ao que parece, à relação astronômica entre o ano solar e os meses lunares.

Sendo os pioneiros no desenvolvimento da série infinita dos números, os sumérios usaram como base de sua avaliação o número 12 (sistema duodecimal), possibilitando a subdivisão em 3 e 4, aparentemente menos cômodo que 10 (decimal), que corresponde aos dedos das mãos. 
Além disso, a escopo de materializar o conceito abstrato de número, foi adotada como base a libra de prata que, em seguida foi chamada com o nome latinizado de mina. O seu múltiplo foi o talento, equivalente a 60 libras de prata. A mina foi dividida em 60 ciclos onde cada um correspondia a 180 gramas de trigo.

Os metais preciosos, a exemplo do que hoje diz respeito aos bancos, ficavam sob custódia dos templos, onde os sacerdotes determinavam as importantes e delicadas operações que regulavam as trocas de mercadorias e aluguéis, recuperando inclusive a parte reservada às autoridades.

Porém, tal conceito de dinheiro tinha um caráter abstrato e aos talentos, às minas e aos ciclos não correspondiam as relativas moedas e portanto era lógica a sensação de “falta de recursos próprios” que experimentavam os negociantes e a população em geral por não possuírem, materialmente, o valor do seu produto.

Os Fenícios efetuavam trocas com os índios da África ocidental, recorrendo a um sistema mais tangível e imediato: Colocavam na areia da praia aquilo que pretendiam oferecer e retiravam-se para os seus navios. Os indígenas observavam aquilo que lhes era oferecido e colocavam junto à cada tipo de mercadoria, a quantidade de ouro em pó que acreditavam ser adequado à troca e se retiravam. 
Se os Fenícios estivessem de acordo, pegavam o ouro e a troca era concluída, caso contrário a operação vinha repetida até quando fosse atingido um resultado de comum acordo.

A primeira solução a essa natural aspiração encontrou sua aplicação na Babilônia onde se faz referimento a pesos fixos de prata, substituídos depois por pesos de cobre e em seguida de bronze. Mas é na Grécia que encontramos a primeira moeda, mesmo que esta ainda se concretizasse na estranha forma de “espetos de ferro” (denominados obelos), longos mais de um metro e que eram dados inicialmente aos juízes, como forma de compensação pelos seus serviços prestados. O mesmo compenso dizia respeito aos simples cidadãos quando estes “espetos” lhes eram concedidos por ocasiões de festas e cerimônias.

Foi com a finalidade de exercer a função de meio de troca comercial que, no século VII a.C. nasce, na Lídia, a moeda como a conhecemos hoje, em sua forma metálica. Entre 629 e 600 a.C. aparecem os primeiros discos metálicos de várias dimensões, sobre os quais o Rei havia ordenado que se colocasse o próprio sigilo.

Esses discos eram de electron (uma liga natural de ouro e prata) que em pouco tempo foram substituídos por discos de ouro puro, o metal nobre por excelência que desde a antiga Babilônia, era considerado como de um bem, dando-lhe valo pleno. Aconteceu no VI século a.C. sob o reinado de Creso (561 – 546 a.C.), famoso por sua imensa riqueza. Esse fenômeno foi, certamente, o resultado de um processo que durou séculos e, seguramente, não se tratou de uma invenção casual. 

Com o advento da moeda como instrumento intermediador da troca, foram criadas as primeiras bases da moderna sociedade industrial, permitindo ao homem liberar-se do milenar comércio da simples troca e construir a economia como a conhecemos hoje. Porém, o ouro e a prata sempre foram entendidos como a riqueza real, aquela tangível, e que hoje serve (ou pelo menos, deveria servir) de lastro ao dinheiro de papel em circulação.

A esta transformação dos processos de troca, correspondeu também a uma profunda transformação na vida social das civilizações. Após uma fase inicial praticamente agrícola, se sucedeu uma vida comercial sempre mais intensa, fazendo com que as pessoas se transferissem dos campos para os aglomerados populacionais que se constituiam nas bases das futuras cidades. 

Se a civilização dos tempos de Homero evidenciava a importância de um homem de acordo com sua propriedade agrícola e através do número de bois que possuia, num futuro próximo o rebanho iria ceder seu posto de supremacia àquele meio que permitia a obtenção de tudo aquilo que se desejasse, a moeda, que permitiu aos comerciantes a troca de bens em regiões distantes entre si onde, de uma forma cômoda, podiam transportar o instrumento que passou a substituir aqueles utilizados nos processos de simples troca.


O REAL VALOR DO DINHEIRO

Como vimos anteriormente, a moeda é um instrumento de intermediação de troca que estabelece o valor dos objetos trocados, representando a sua equivalência. É um meio intermediário de escâmbio (permuta), dessa forma facilitando a troca comercial, cm a função de representar o valor de um bem. 
Vimos também, que tratar a moeda como mercadoria tem sido um dos erros dos governantes a partir do século XX, mudando consideravelmente os conceitos de posse e riqueza. Perdendo sua função principal, e sendo extremamente desejada, a moeda tem sido vítima de constante especulação, sendo tratada como mercadoria, ao invés de um instrumento que facilite a troca, fazendo com que por vezes lhe seja atribuído valor maior ou menor do que realmente representa, gerando inflação, recessão e outros problemas derivados do seu mau emprego.

A compra e venda de “dinheiro” faz com que a moeda assuma o posto de mercadoria. Estando sujeita às leis de mercado que regem a comercialização de produtos, a moeda perde o elo de ligação ao seu real sustento ou seja, o ouro estocado nas reservas do país que a emite.

O emprego do ouro e da prata, e das moedas confeccionadas com esses metais, consentiu e determinou, durante séculos, as tratativas comerciais, agindo como reguladores e intermediários nas trocas já que, sendo metais preciosos, eram aceitos em todo mundo. A base de medida, de avaliação do poder de compra desses metais nobres era dado por uma determinada medida de trigo, mercadoria ainda hoje mantida sob severo controle do estado.

Com o passar do tempo, devido à ampliação dos mercados e o consequente aumento nas tratativas comerciais, o ouro e a prata não eram mais suficientes a satisfazer a exigência de cunhagem de moeda destinada à circulação. Dessa forma, gradativamente se passou ao uso de metais e materiais menos nobres, tais como o cobre, o bronze, o níquel e até o alumínio, chegando finalmente à moeda de papel, a cédula

O processo de passagem da moeda tangível (ouro e prata), prova consistente e direta da posse e da riqueza, àquela meramente representativa de um valor estabelecido pelo Estado, se deu gradativamente e sob a tutela deste último que mantém a verdadeira riqueza nos subsolos dos bancos e instituições financeiras. 

A bem da verdade, o dinheiro em circulação deve valer o correspondente àquilo que o Estado mantém lastreado em ouro, prata e, eventualmente, à sua produção anual de trigo, sendo o ouro o seu principal lastro.

O ouro ainda é a garantia real de que o Estado pode dispor a fim de conquistar ou manter sua credibilidade no mundo financeiro. Quando, por exemplo, uma nação contrai um empréstimo com outra, a garantia do pagamento é feita em ouro. Assim, enquanto o débito não é saldado, uma determinada quantidade de barras de ouro depositadas nos cofres do banco central do país devedor, recebem a etiqueta referente ao país credor.

O ouro é, ainda hoje, a garantia, o crédito que determina a confiança em uma instituição ou em uma nação. Por mais que alguns governos insistam em lastrear sua moeda em outros bens, o único aceito em todo mundo é aquele que corresponde à sua reserva em ouro. Quando uma determinada moeda, de um determinado país, experimenta uma queda muito grande, ou quando os investidores perdem a confiança nessa moeda, entre outros fatores isso se deve ao entendimento de que aquele governo está emitindo uma quantidade de papel-moeda que não corresponde à sua real riqueza, ao seu lastro, ou seja, às suas reservas de ouro. Perdendo a confiança em um governo, naturalmente se perde a confiança em sua moeda, pois essa é fiduciária. Independe das reservas e sim da confiança que as pessoas tem em seus governantes.

São estas reservas auríferas que tem garantido até hoje a força da moeda americana, por exemplo. Os EUA possuem uma das maiores reservas de ouro do planeta o que dá pleno sustento e confiança à sua moeda, o dollar. Uma crise semelhante a atual, experimentada pelos EUA, seria muito mais grave em um país que não possuísse uma tal reserva de ouro, suficiente para garantir a estabilidade e confiança em sua moeda. É como o oxigêneo a mais, a água no deserto que outros não podem dispor.

Com o tempo, o valor da moeda deixou de estar diretamente associado ao metal com o qual era confecccionada (valor intrínseco), passando a valer por aquele nominal (extrínseco), ou seja o valor convencionado e estampado pelo estado sobre a moeda (agora confeccionada com materiais diversos e de pouco valor) ou cédula. Todavia, até poucas décadas atrás, era possível dirigir-se a um banco e receber, em ouro, o equivalente ao valor estampado em uma determinada cédula

No caso das cédulas brasileiras, tal garantia vinha estampada sobre a própria cédula onde se lia “no Tesouro Nacional, se pagará ao portador desta, a quantia de (valor)” (ver figura a seguir), uma variação do que antes era garantido nos textos escritos nos recibos de depósito do ouro em pó ...”pague-se ao portador deste recibo o equivalente em tantos gramas de ouro”.


Hoje esta conversão foi abandonada; o último país, a contragosto e em função da sua Carta Magna, a abandonar a garantia lastreada pelo ouro de uma cédula, foram os EUA em 1971, já que em todo restante do mundo financeiro a associação do valor extrínseco (aquele estampado na cédula) ao ouro, havia sido extinta.

De uma forma geral, os governos não temem que o dinheiro posto em circulação deixe o país. O problema grave surgiria pela possibilidade de evasão do seu metal precioso, o ouro. Foi o que aconteceu, por exemplo, nos EUA, no dia 4 de março de 1933, quando o presidente “Franklin Delano Roosevelt” proibiu o uso do ouro (sob forma de moeda ou certificado) em pagamentos, na tentativa de por fim a grave hemorragia de metal amarelo que arriscava comprometer a credibilidade do sistema bancário americano. Numa única semana, entre o fim de fevereiro e início de março de 1933, companhias e privados tinham retirado dos bancos, para estocá-los ou transferi-los ao exterior, mais de 200 milhões de dólares em ouro, perfazendo um total - na cotação atual do ouro - correspondente a uma cifra que supera os 6 bilhões de dólares. Isso porque era dada ao cidadão a possibilidade de converter seu “papel-moeda” em ouro, o que deixou de existir há algumas décadas. Hoje não existe mais a possibilidade de dirigir-se ao Tesouro Nacional e reivindicar o que antes era um direito constitucional; aquele de trocar por ouro, o equivalente ao valor impresso em “papel-moeda”. 

O presidente Roosevelt anunciou a sua decisão (em vigor a partir do dia sucessivo) domingo, 5 de março, decretando ao mesmo tempo o fechamento de todos os bancos por quatro dias, enquanto o Secretário do Tesouro William H. Woodin telegrafava às Casas da Moeda de Denver, Filadelfia e San Francisco, ordenando que fossem suspensos quaisquer pagamentos em ouro. 
O Congresso, convocado urgentemente no dia 9 de março, aprovava no mesmo dia a decisão do presidente. A diretiva de Roosevelt proibia também o acúmulo de ouro amoedado por parte dos privados e, mesmo que não especificasse qual fosse o limite quantitativo que fizesse com que um acúmulo chegasse a ser considerado um crime, sancionava a posse não autorizada de ouro em moedas ou certificados, com uma multa de até 10.000 dólares e uma pena de detenção de até 10 anos.

A provisão não impunha explicitamente aos cidadãos americanos de restituir o ouro amoedado que estivesse em sua posse, ao Federal Reserve Bank, mas que este fosse o seu principal objetivo, não restava qualquer dúvida; tanto que o público, respondendo ao apelo do presidente, do Congresso e das autoridades monetárias, em uma única semana, fez afluir aos bancos mais de 300 mihões de dólares em ouro. Porém, a adesão inicial bem cedo perdeu parte do seu vigor e no dia 5 de abril, um mês depois da divulgação da provisão, o ouro “restituído” ao Tesouro chegava a um total de apenas 633 milhões de dólares. Segundo a estimativa do governo, ao apelo presidencial faltavam, pelo menos, mais um outro bilhão de dólares.


Figura: O raríssimo US Saint Gaudens Double Eagle de 1933, a última moeda americana de ouro que deveria ser posta em circulação, mas que sequer chegou às ruas, impedida que foi por ato do presidente Roosevelt. O exemplar da foto foi vendido no leilão de Stack's e Sotheby's em 30/07/2002. O martelo do leiloeiro da venda sob ofertas organizada pela Stack’s e Sotheby’s em Nova York no dia 30 de julho de 2002 para vender uma única moeda – aparentemente a mais rara, e com certeza a mais disputada – parou no valor recorde de 6,6 milhões de dólares, uma soma nunca alcançada precedentemente, e que sobe a 7,59 milhões, se levarmos em conta também a comissão do leiloeiro.

Para acelerar o retorno do metal aos cofres do Federal Reserve, no dia 5 de abril Roosevelt emanou uma nova diretiva que depois de ter fixado o teto cumulativo em 100 dólares, impôs explicitamente aos privados a obrigação de restituir ao Tesouro Americano o ouro de que mantinham posse; uma exceção era consentida somente para as moedas de ouro “raras e incomuns” procuradas pelos colecionadores. 
As pressões pelo retorno do ouro aos cofres do Federal Reserve continuaram até que o Gold Reserve Act, aprovado pelo Congresso e assinado por Roosevelt no dia 30 de janeiro de 1934 estabelecesse definitivamente que todo o ouro amoedado (revalutado de 20,67 a 35 dólares a onça) pertencia ao governo dos EUA, que o transformaria em lingotes de peso e título estabelecidos pelo Secretário do Tesouro (refundindo portanto as moedas em circulação) destinando o produto final a ser estocado no novo depósito em construcão em Fort Knox.


MAS AFINAL DE CONTAS, QUANTO (OU O QUE) VALE HOJE O DINHEIRO ?

Assim, com o passar do tempo, o ouro deixou de sustentar o valor da moeda. Hoje, o que garante (sustenta) o seu valor é o Estado.

Em outras palavras: De um bem tangível, dado em garantia daquilo que se estampava sobre o papel (a exemplo dos antigos certificados o depósito de ouro em pó), passou-se à garantia intangível, ou seja, àquela dada pelo Estado, derivada da credibilidade e responsabilidade no que diz respeito ao valor estampado na cédula, e se este corresponde à sua reserva em ouro. 

Em termos mais simples, se pode dizer que uma cédula de 10 reais vale 10 reais porque qualquer pessoa que a aceite em pagamento deverá se sentir segura, deverá ter a certeza de que outras pessoas irão reconhecer, por vontade própria e, principalmente, por serem obrigadas por lei, que aquela determinada cédula vale 10 reais. Porém, é essencial que essa relação financeira, em nenhum momento, seja desacreditada ou que seja motivo de desconfiança de que o Estado não seja capaz de garantir o poder de compra do dinheiro que coloca em circulação

É importante que o valor da moeda seja preservado a fim de impedir um colapso do mercado mundial, o que traria gravíssimas consequências para a economia. Assim, é o Estado o regulador da emissão de dinheiro, controlando quanto deve ser posto em circulação e que, principalmente, tal emissão seja compatível com suas reservas em ouro.

O dinheiro, hoje, vale o estabelecido pelos governos o que, por sua vez, se dá pelo conhecimento que cada um destes governos tem da quantidade de ouro estocado nos “tesouros nacionais” dos outros. 

Se antes o indivíduo possuía em mãos a própria riqueza, hoje possui apenas a representação dela e esta depende da responsabilidade com que seus governos administram a nação, sendo passível de oscilações e quedas, já que são abstratas. Se antes a moeda era a própria riqueza, hoje apenas representa um momento, podendo mudar, ou mesmo perder seu valor, de acordo com os procedimentos e posturas adotadas por um governo. 

A seguir, vê-se o aspecto de duas moedas brasileiras. A primeira, quando de sua fase mais rica, a do ciclo do ouro, época em que foi cunhada, em nosso país, a mais pesada moeda circulante de ouro de todo mundo. Nenhuma outra nação cunhou moeda mais fascinante, estupenda e tão pesada, símbolo da riqueza do nosso país. Estima-se que 65% de todo ouro hoje estocado nos diversos cofres espalhados por todo o planeta, tenham saído das minas brasileiras. 
Mais abaixo, o leitor pode observar a última moeda circulante, de ouro, cunhada no Brasil. Em 1922 foram fabricadas as últimas. Foi a partir desta data que, no Brasil, o dinheiro deixou de valer o quanto pesa passando a um símbolo abstrato garantido pelo Estado.



O vídeo a seguir é um documentário sobre a reserva de ouro italiana, uma das maiores do planeta: