JOEs - Moedas brasileiras contramarcadas no exterior

Nos EUA, durante o período pré-revolucionário, nos anos de pós-independência, e em algumas ilhas caribenhas sob domínio britânico, moedas de 12.800 réis de D. João V, e 6400 réis cunhadas no governo deste soberano e de seu sucessor D. José I, foram contramarcadas nesses territórios e usadas como dinheiro circulante.

Popularmente conhecidas como Joes, muitas dessas moedas eram cerceadas e danificadas a ponto de ter alterado, notavelmente, o seu peso original. Nesses territórios estrangeiros, a maior parte desse numerário recebia inserções de ouro, elevando seu peso aos standards nacionais. Em seguida eram contramarcadas pelo ourives certificante, uma espécie de oficial controlador com o poder de confirmar a quantidade (peso) de ouro contido nessas moedas.

Grande parte do meio circulante nessas colônias provinha do exterior. As de prata e ouro eram, em sua grande maioria, de origem portuguesa ou espanhola.
Entre as mais importantes se encontram os Johanneses, os Moidores portugueses (moeda d’ouro), o dólar espanhol e o Pistole. 


Os Johanneses eram moedas de ouro, de 8 escudos (12.800 réis); seu nome derivava do anverso da moeda, que trazia o busto de D. João V. Cunhadas em Portugal e no Brasil, eram comumente conhecidas nas colônias como “Joes”, sendo suas frações os 4 escudos e 2 escudos de mesma origem. O 4 escudos (6400 réis), ou “1/2 Joe”, era uma das moedas mais usadas naquele tardo período colonial. A Moidore era uma outra moeda portuguesa de ouro, de facial 4000 réis, todas usadas como meio de troca nas colônias.
Nota: Na figura à esquerda, peso de bronze de 10,5 gramas para conferir moedas de ouro de 4.000 réis cunhadas entre 1720 e 1730. Essas moedas circulavam na Europa ao valor de 27 shillings.

São exemplares muito apreciados entre os numismatas no exterior, principalmente nos EUA, Inglaterra, Canadá e Austrália. Sua cotação é alta e não raramente ultrapassam a cifra dos US$ 20.000,00, como se pode constatar na moeda ilustrada na página a seguir; um 1/2 Joe, 6.400 réis de D. João V, datado 1750, cunhada originariamente na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, letra monetária R, com carimbo LF de Lewis Furter, leiloada nos EUA (Heritage) por US$ 40.250,00.

Figura: Dobra de 8 escudos (12.800 réis) 1730M, de D. João V, com carimbo JR de Joseph Richardson (1 JOE), leiloada nos EUA por US$ 138.000,00. 

Raphael Solomon nota que tais moedas “tiveram um papel muito ativo no comércio internacional, entrando e saindo dos maiores portos em ambos os hemisférios, ocidental e oriental”. 
No tardo período colonial americano, nas possessões atlânticas, começaram a vender trigo e farinha para a Espanha e Portugal, “recebendo dinheiro metálico como pagamento” (Lydon, 1965; Virginia Gazette, 22 de janeiro de 1769; Brodhead, 1853, vol. 8, pág. 448). 


Nota: É necessário recordar que estas moedas foram monetizadas em outro país. Dessa forma, não fazem parte da coleção numismática brasileira.

A tabela acima, retirada do New York pocket almanack for the year 1771, mostra como a conversão de moedas estrangeiras era feita nesse período. Mostra, por exemplo, que se um 1/2 Joe era dado como pagamento na Pennsylvania, este seria o equivalente a £3 do estado. Em Nova york, era o equivalente a £3,4s. de dinheiro nova-yorkino. Em Connecticut, o equivalente seriam £2,8s.

Figura: Dobra de 4 escudos (6.400 réis) 1750R, de D. João V, com carimbo LF de Lewis Furter (1/2 JOE), leiloada nos EUA (Heritage) por US$ 40.250,00. Imagem ampliada.


Glossário:

Moidore - Nome dado pelos ingleses à moeda forte portuguesa de ouro de 4.000 réis, de peso aproximado de 10,50 gramas (10,75 gramas é o peso oficial), cunhada entre 1678 e 1727. No anverso apresentava o escudo português coroado e no reverso a Cruz da Ordem de Cristo. Valia 27 shillings como moeda corrente em grande parte da Europa ocidental e nas Américas. Era também a principal moeda usada na Irlanda no início do século XVIII. O nome Moidore deriva do português moeda de ouro ou moeda d’ouro ou moeda d’oiro.

Pistole - Nome usado para indicar algumas moedas de ouro, cunhadas pela primeira vez na Espanha, na primeira metade do século XVI. O termo se difundiu em toda a Europa como indicativo de outras moedas de ouro de valor aproximado àquele da moeda espanhola.