CAUSO I - "EITA CAFEZINHO BÃO, SÔ!!!"
Situada a 80 kilômetros do centro do Rio de Janeiro, bem no alto da serra, entre as cidades de épocas imperiais, Petrópolis é ainda uma das poucas a manter seu garbo majestoso, sua veia azul, áurea fidalgal com cintilas de um tempo distante que nos fazem recordar um pedaço do nosso passado; época em que carruagens atravessavam a Koeler dividida em córrego, a conduzir cavalheiros em fraques e damas em seus suntuosos e longos vestidos, bordados com renda francesa; cândidas e dóceis moçoilas a baloiçar rendas ao chão; sombrinhas rodopiantes ao sol, com seus cabelos em coque, adornados por grandes chapéus "Belle Époque".
Caminhando nesse paradisíaco pedaço da "Europa monárquica", partindo da esquina da Koeler com a Tiradentes, descendo até a Avenida do Imperador, à esquerda vê-se a imponente Catedral, eterna morada de D. Pedro II e de seus parentes mais próximos.
Mais à frente, sempre à margem esquerda da avenida, o Museu Imperial - antiga e esplendorosa quinta veranista dos Orleans e Bragança - dá as boas-vindas aos turistas que desembarcam num frenesi de falas e agito, ao descerem dos ônibus vindos dos mais longínquos rincões do nosso país; não só do Brasil, mas de tantas outras paragens de aquém e de além-mar.
Em dias de inverno intenso, a densa neblina mal nos permite enxergar. Mesmo ofuscando a visão de quem tenta avistar mais adiante que uns poucos metros, esse "fog" quase londrino outrora permitia entrever D. Gastão, último princeps, cavaleiro de Cervantes, o digno herdeiro de sua estirpe dinástica, em seu passeio matutino...quase sempre a cavalo, pelas ruas da cidade.
Que imenso prazer provava em cumprimentá-lo!... Mais do que isso, ser correspondido...não só com um aceno, mas com um sonoro "bom dia, cavalheiro!... como tem passado?"
Em meio à espessa neblina, seu vulto se perdia, carregando em seus ombros, um passado de glórias, de histórias, de reis, de intrigas, conquistas e honrarias. Era impossível não parar e admirar.
Mas deixando de lado os "entretantos" e partindo para os "finalmentes" (afinal estamos aqui para contar um "causo" numismático), é nesse quadro, escaramuçado à "facchinettianas" e frenéticas pinceladas, que irei narrar os fatos do que a partir de agora passo a narrar. Melhor dizendo, é ali que tem início a nossa história que, mesmo parecendo fruto de fértil imaginação, lhes garanto, como diriam em boa e sonora mineirice "..ehhh cumpadi...é verdadi sim...credite, aconteceu sim...aconteceu sim sinhô...".
Pois bem ! Há mais ou menos uns 25 anos estava eu a perder-me em conversas madrugadeiras com meu saudoso e caro amigo - assim como eu, petropolitano de coração - Cézar Bulgareli.
Sendo carioca por nascimento, mas morador da cidade serrana por pura paixão, eu subia e descia, todos os dias a serra que me conduzia, pela manhã ao trabalho e à noite de volta à casa. Meu consolo diante de tanta fadiga se dava a partir das quintas-feiras, ocasião em que passava pela casa do meu grande amigo e insigne numismata. Ali nos entocávamos em seu magnífico "estúdio numismatográfico" a jogar conversa fora, na maioria das vezes por toda a madrugada. Confesso que era um deleite!...sequer me dava conta das horas que passavam como um raio.
Tendo sido alto funcionário do BANERJ por muitos anos, sua merecida pensão lhe permitia aproveitar a vida de aposentado (de outras eras, certamente), decidindo dedicar-se, agora em tempo integral, ao nobre hobby de colecionar "marcas de poder", moedas por assim dizer, paixão de uma vida; "-...minhas namoradas...", como dizia ao ser referir às moedas da sua vasta coleção.
"Olavo Bilac"...é esse o nome da rua. Passando pelo Quitandinha, uns poucos quilômetros adiante, uma curva à direita, uma pequena ponte, e lá estava eu.
Nossas conversas? Ora...como não poderiam deixar de ser...moedas, moedas e mais moedas. Afinal, deixando de lado a admiração que provávamos mutuamente, era essa a nossa paixão a nos unir na mais profunda e sincera amizade.
Nessa particular noite da narrativa que aqui vos apresento em pormenores, bem me recordo, a lua estava belíssima, céu estrelado, e temperatura como de costume na cidade serrana, muito agradável; aquele friozinho gostoso, convite ao um chocolate quente com torradas, no bar do Imperador, localizado na praça bem próxima ao museu.
— Caro amigo !!!...pensei que não viesse hoje!
— E como poderia deixar de vir!?...prontamente respondi.
Era madrugada de quinta-feira, bem me lembro, lá pelos idos, bem idos de 1995, quase Dezembro, quando, em meio a uma calorosa conversa sobre duas cédulas de um conto de réis que um comerciante da cidade oferecia a quem pagasse mais, meu amigo me convidou a fazer uma viagem ao interior das Minas Gerais, mais precisamente numa pequena cidadela do interior, de nome Matias Barbosa.
— Matias Barbosa? Indaguei, com espanto.....Se bem me recordo, é famosa por um criador de curiós.....viagem de negócios, suponho!?
— Curiós?
— Isso! É uma ave canora de canto melodioso muito belo.
— Eu sei! Não sabia é que você se interessava por curiós.
— Tive um cantador de primeira, há muitos anos. Tava na moda por causa do Rivelino.....sabe como é!?... Mas afinal...é viagem de negócios ou tá me convidando a um passeio?
— Lá e cá! Mas como acredito que não vai dar em nada, pensei em te convidar a aproveitar o passeio numa esticada até Ouro Preto prá ver se "dá samba".
— Ok! Qual é o "babado"?
— Você sabe que tenho um "garimpeiro" por aquelas bandas, não sabe? Um sujeito a quem dou uma comissão sempre que me arruma um negócio vantajoso.
— Sim, sim...sei!!!
— Pois então! O homem me telefonou dizendo que um sitiante da região quer vender, segundo ele, umas moedas; mas não entrou em detalhes. Disse apenas que, como bom mineiro, o sujeito é muito desconfiado e que não quis entrar em pormenores da transação. Falou que o cara veio com uma conversa de que tem uma boa quantidade de moedas de prata, blá, blá , bla ... mas quer vender a um só.
— Hummm!!! Sei não! Você sabe como são essas coisas...chega lá e o homem te mostra uma meia dúzia de tranqueiras querendo trocar a quinquilharia por uma Ferrari. Isso sem contar que pode ser uma fria.
— Justamente! Por isso gostaria que você fosse comigo. Como provavelmente não vai dar em nada, dali damos um pulo em Ouro Preto, almoçamos por lá e fazemos um giro na cidade prá ver se farejamos algum negócio. Se for uma fria, o cara vai pensar duas vezes quando topar com dois, ao invés de um só.
— OK! Quando partimos?
— Sábado! Que tal lá pelas 6 da manhã? Assim pegamos a estrada tranquila.
— Combinado.
— Passo no banco amanhã - nesse ponto Cézar olha o relógio - ...Cacete, já são quase 5 da matina...mais tarde passo no banco e pego a grana. Acho que uns 1.500 dão pro gasto. O que vc acha? Não tá com pinta de que possa custar mais que isso...talvez nem tanto. Mas melhor prevenir.
— Certo! Vamos no meu carro ou no seu?
— No meu! Dirigir me distrai e parece que vai ser uma bela jornada durante todo fim de semana.
Capítulo II - A MARRETA DO ZÉ DA PALHA
Cinco da manhã de sábado: Como previsto, a aurora anunciava uma esplêndida jornada.
De pé, bem próximo da grande janela envidraçada, eu terminava de saborear o que restava, no fundo da xícara art nouveau, de um quente e meio amargo café, bem ao meu gosto.
Entre um gole e outro, à minha frente eu contemplava a bucólica paisagem, observando a imponente Catedral que aos poucos ía surgindo em meio à parca neblina que se dissipava. Por um segundo abaixei os olhos em direção à calçada, ainda humedecida pelo orvalho.
Voltei-me, guardando a parede às minhas costas; sobre o pedestal de carrara, o singelo Ansônia - testemunho da habilidade de exímios artesãos relojoeiros, personagens de uma época esquecida - me dizia que era hora de partir. Por alguns instantes permaneci ali, a fitá-lo. Aquele, por assim dizer, enigmático "Petit Bronze" da bela figura feminina, inclinada sobre o mostrador de porcelana, a escutar o tic-tac dos ponteiros, contrastava com o cenário surrealista de uma paisagem de Cláudio Dantas ao fundo. Enquanto vestia o paletó, passei os olhos pelo par de anjos de Chatillon, porcelana dura marcada 3 estrelas, propositadamente pousados ao lado do Ansônia. Eram quase 5:30...uma pequena parada em frente ao espelho no corredor antes de abrir a porta e sair para o meu compromisso.
Em meio à natural ansiedade gerada pelo que poderíamos encontrar em Matias Barbosa, não resisti à tentação que me consumia. Enquanto descia até a garagem, levei a mão ao bolso...uma meia parada no jardim para acender um cigarro. Era sempre assim! Por mais que prometesse a mim mesmo que seria o último, a ansiedade, somada ao café quente, aliava-se à minha agitação momentânea, numa espécie de conspiração contra o meu desejo de dar um basta àquele vício; mas não havia jeito.
Já na garagem, com a porta do automóvel aberta, recordei que havíamos combinado de viajar no carro de Cézar, que a essa altura já deveria ter saído de casa. Enquanto terminava meu cigarro, instintivamente abri o porta-luvas pensando que talvez fosse uma boa idéia levar comigo a CZ. Naquela época, a violência no Rio de Janeiro crescia a olhos vistos...depois de sofrer alguns assaltos, achei por bem carregá-la comigo. No futuro, já mais maduro, me arrependeria dessa decisão, passando a deixá-la em casa.
— Deixe disso!... pensei. Trata-se somente de uma tranquila viagem de negócios.
Desisti da idéia e fechei o porta-luvas, procurando me convencer que seria uma tolice carregá-la comigo.
Quando cheguei ao portão do prédio encontrei Cézar, já meio agitado, acreditando que eu ainda dormisse. No dia anterior, nosso sempre agradável bate-papo se havia estendido até as 2 da madrugada. Depois de uma semana, descendo e subindo a serra, confesso que estava exausto. Um bom repouso, sem dúvida, era o que eu precisava naquele momento. Mas não poderia deixar um caro amigo na mão.
— Bom dia!
— Mamma mia, pensei que estivesse dormindo. (risos)
— Você pensa demais! Tudo pronto?
— Sim...tudo ok!
A essa altura, a neblina já quase não se fazia notar. Em meio à calçada ainda húmida, alguns passantes já caminhavam entre os antigos tocheiros que se apagavam, hoje não mais como outrora quando o fogo das lamparinas a óleo era sufocado por pontuais funcionários da prefeitura.
— Melhor se formos pelo Bingen. Dali pegamos a estrada do contorno.
— Pensei em pegar a estrada velha.
— Não acho prudente. O contorno, além de mais seguro, é a melhor estrada.
— Ok! Você me convenceu...vamos pelo contorno....Droga!!! ... esqueci meu porta-cds em casa.
— É seu dia de sorte! Trouxe alguma coisa comigo.
— O que é?
— Fica quieto e escuta !
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Enquanto Cézar dava partida no motor, a morena veio ter na porta da casa. Recostada no batente, pano de prato entre as mãos, ergueu marotamente seu pé, apoiando-o sobre o joelho direito e deixando suas coxas à mostra. Nossos olhares deixavam claro que meus planos se colocavam num tempo anterior àquela segunda feira. Mas essa é uma outra história que pode ter acontecido, devido àquela atmosfera de pura sensualidade...ou não, fruto da minha consciência que me conduzia aos braços de minha doce e amada mulher.
— Hummmm!!! Dá pro gasto! (risos)
— Como dá pro gasto? Se minha mulher te escuta, vc vai ouvir poucas e boas. (risos)
— Uma voz é da Caballe...o cara não me é estranho, mas não recordo o nome.
— É o Freddie Mercury, cacete! Você não tá tão velho assim, meu caro!
— Ahhh...sim! Já sei...é a música que cantaram naquele show em Barcelona.
— Cazzo! Finalmente!
Enquanto ouvíamos How can I go on, meus pensamentos divagavam, despreocupado com o acaso. Pelo menos a viagem prometia ser tranquila.
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Matias Barbosa é um pequeno município do estado de Minas Gerais. Com sua população estimada em pouco mais de 10.000 habitantes, carrega o nome do sertanista e rico comerciante português que em 1700 obteve a concessão de uma sesmaria, às margens do rio Paraibuna.
Com relevante traço na história do Brasil, situa-se bem próxima à divisa entre o Rio de Janeiro e as Minas Gerais, em meio ao Caminho Novo, de época colonial, que formava a antiga Estrada Real. O Registro de Matias Barbosa, antiga repartição fazendária da Coroa, que integrava o sistema de cobrança dos impostos devidos à Metrópole, localizava-se propriamente na divisa dos dois estados. Ao redor desse registro formou-se o povoado de Nossa Senhora da Conceição de Matias Barbosa, elevado a distrito de Juiz de Fora em 1885. Em 1911 passou a ser apenas Matias Barbosa, e com essa denominação foi elevado a município em 1923.
Pouco antes de atravessar a ponte sobre o Paraibuna, avistamos as primeiras casas, bem interioranas como a maioria nessa região...algumas ainda de pau-a-pique, ou sopapo, como costumam chamar os habitantes. Apesar da modernidade que insiste em tomar de assalto os pequenos municípios, Matias Barbosa ainda guarda sua áurea de vila imperial.
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— Ok ! Estamos em Matias Barbosa. Onde andamos ?
— O endereço tá escrito naquele cartão no console.
As coordenadas foram passadas por telefone. O tal "garimpeiro" que trabalhava por comissão, mesmo morando próximo, tinha dado uma desculpa que considerei meio esfarrapada, para não comparecer ao encontro. Tudo somado, algo me dizia que eu deveria estar atento aos acontecimentos. Não sei porque, mas naquela hora me arrependi de haver desistido de trazer a CZ.
Meia hora caminhando cá e lá, e tivemos informação segura do local.
— "Moço! O único que mora lá praquelas banda é o Zé da Paia" (traduzindo: Zé da Palha).
— O senhor quer dizer, seu José Antônio ?
— "É essi aí mermo, moço! A gente conheci ele di Zé da Paia. O sinhô vai até a cancela nu fim dessa istrada di chão, guina prás isquerda, passa o poço do resistru e mais um poco o sinhô vai vê a casa do Zé da Paia."
— Ok !!! Muito obrigado !
Enquanto nos metíamos em marcha, a expressão do homem, um misto de desconfiança e preocupação, aumentava a tensão.
— Dá uma parada naquela birosca ali na frente prá gente tomar um café.
— Vai fumar de novo?
— Eu disse "tomar um café".
— Hummm, sei!
Após um revigorante café mineiro, lá estava eu novamente lutando contra o meu vício.
— Depois dessa, se tudo correr bem, eu paro com essa merda! ... pensei.
Seguindo as indicações que nos foram passadas, chegamos ao local indicado.
A casa branca de telha colonial se erguia numa pequena elevação a poucos metros da porteira enganchada. Nenhum movimento ou qualquer indicação de que havia alguém em casa. A janela aberta, um costume local, pouco dizia; é para manter a casa arejada, costuma dizer a gente da região.
Clap, clap, clap, clap, clap...bati palmas......nada!
Mais uma vez, e nada! ....... Somente um cão de pequena talha ergueu seu pescoço por trás de uma cadeira de vime posicionada diante da casa, numa pequena varanda. Meio preguiçoso, nem deu bola pro que estava acontecendo e voltou a dormir.
— E aí? O que vc acha?
— Sei lá! O cara disse por telefone que havia combinado o encontro para as 8:30. São 8 e qualquer coisa passada. Pode ser que tenha ido a algum lugar...melhor esperar.
— Vou bater de novo!
— Você já fez isso duas vezes, não acredito que ... Pera aí!!! Tão abrindo a porta.
De longe, a luz do sol que já era a pino ofuscava minha visão. Sem dar uma palavra, mais ou menos 1,90m, magro mas parecendo bastante robusto àquela distância, o homem veio em nossa direção.
— Dia!
— Ehhh...bom dia, bom dia! Seu José Antônio?
Enquanto abria a porteira como quem nos convidasse a entrar, o homem parecia resmungar em monossílabos.
— "So eu sim sinhô!!! Zé Antônio às suas ordi!"
Enquanto caminhávamos direção à casa, por precaução me coloquei na retaguarda. Isso me dava uma boa visão de campo e tempo para agir...pensei.
Com a atitude de um capataz quando estranhos entram em uma fazenda, um galo rajado carijó, grande como um peru, apareceu na porta de um pequeno barracão retirado do perímetro da casa. Fiquei realmente intrigado com a sua atitude. Agia como se estivesse nos observando, controlando o que fazíamos. Fitei-o como por brincadeira. Foi o suficiente para que sua curiosidade aumentasse, fazendo-o dar alguns passos na nossa direção. Estranha e instintivamente parou ... e assim permaneceu, estático, como se esperasse outra reação da minha parte. Confesso jamais ter visto em vida minha uma ave comportar-se daquela forma.
— "Faiz favô! É casa humirde, mas é dos amigu."
Cézar foi o primeiro a entrar.
— Faço questão, o senhor em primeiro lugar....eu disse com voz firme.
Confesso que pensei que o homem fosse insistir para que eu entrasse à sua frente, mas para meu espanto, novamente sem dar palavra, entrou sem cerimônia.
Mal me encontrava dentro da casa, com os olhos passei um pente fino por todo local.
Enquanto nos sentamos num apertado sofá, o homem se pôs sobre uma berger corroída pelo tempo. Era realmente grande o sujeito! Sentado bem na minha frente, observei que seus joelhos se dobravam acima da linha de cintura, ainda que mantivesse os pés no chão.
De repente um frio me correu a espinha. Por baixo da poltrona onde o Zé da Palha estava sentado, entrevi um cabo de madeira do que me pareceu ser uma "picapau", uma daquelas velhas espingardas de caça que os mateiros usam quando caminham em picadas.
Enquanto eu tentava certificar-me que se tratava realmente de uma arma, percebi que o homem me entreolhava sob o chapéu de palha.
— "Vô passá um café da hora prá nóis...casa vossa...teje à vontade."
Enquanto o "grandalhão" apoiava as mãos sobre os joelhos para se alçar, a sensação de arrependimento por não ter trazido a CZ, era cada vez maior. Tirou o chapéu, pousando-o sobre a mesinha à sua frente e com andar lânguido se pôs pelo corredor que parecia conduzir à cozinha.
— Grandão o sujeito, hein!?
— Psiuuu! Fala baixo, caramba!
— Viu o trabuco que tá debaixo da poltrona? ... susurrei, indagando.
— Trabuco? Onde?
— Ali, bem debaixo da poltrona, cazzo!
Cézar, que se encontrava mais próximo, se recurvou para ver do que se tratava.
— É uma marreta, pô!
— Marreta?
- Ehhh...cacete (sussurros)...uma marreta daquelas de demolição.
Confesso que naquele momento suspirei de alívio.
— Psiuuu!!! O homem tá voltando.
Terceiro capítulo - PAISANO, O GALO CIUMENTO
O rumor que se sentia no corredor, nos dando a impressão de que o sujeito retornava, era alarme falso.
— Se o cara tocar em dinheiro, diz que não tem...que tem que ir ao banco prá retirar. (sussurros)
— Tá doido? Hoje é sábado ... banco não abre.
— Sei lá !!!...inventa uma história qualquer, mas de jeito algum diga que tá com a grana.
— Você tá muito tenso! Relaxa, cacete!!!
— Pera aí! Tô ouvindo conversa...o cara tá falando com alguém ... e tá sussurando...ô merda!!!
— Ehhh! Nisso parece que você tem razão. Se tem mais alguém na casa, por que será que ainda não deu as caras ?
Aquelas palavras soaram como um detonador prestes a desencadear em mim um processo de reação ao eventual sinistro. À essa altura a marreta sob a poltrona mostrava-se como alternativa à pistola esquecida no porta-luvas do meu carro. A tensão agora havia atingido seu climax...eu já estava pronto para agir....mais do que isso...deveria ser rápido, me aproveitando do pouco que me restava do elemento surpresa.
Passados um quarto de hora, que mais pareciam uma inteira manhã, os sussuros terminaram. Os passos no corredor se faziam ouvir mais uma vez. Nesse ponto já havíamos trocado de lugar, deixando o cabo da marreta bem ao meu alcance. Enquanto o arrastar de sandálias anunciavam a reaparição do sujeito, instintivamente eu me inclinava sobre a marreta. O que estava para acontecer, realmente me pegou desprevenido.
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O vulto se deixou entrever por trás da cortina de tiras plásticas coloridas. De mediana estatura, de corporação muito menos robusta, certamente não era o Zé da Palha. Instintivamente, enquanto me debruçava ainda mais sobre a marreta, controlei a janela aberta às minhas costas...se seria vítima de uma armadilha, que pelo menos não entrasse de gaiato como se nada tivesse percebido. Franzindo a testa como quem procura enxergar além da luz que me ofuscava, eu observava o vulto por trás daquela cortina.
Pois bem ! Eu já estava pronto para reagir...já tinha tudo sob controle...passaria a mão na marreta e partiria prá dentro do sujeito que nos espreitava, não lhe dando qualquer chance de reação.
Enquanto já empunhava o cabo, deslizando a marreta de seu esconderijo, o vulto fez entrada na sala num só golpe. Tarde demais...eu havia sido pego de surpresa...não esperava que tudo se desse tão rápido. Um nó na garganta me fez engolir em seco...não podia acreditar nos meus olhos.
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Sem nada dizer arriou a bandeja sobre a mesinha, afastando o chapéu do Zé da Palha ainda pousado à nossa frente. Ao se recurvar, a opulenta visão daqueles magníficos seios não me permitiam desviar o olhar que a essa altura se limitava ao perímetro do retângulo que, pouco a pouco, se contorcia procurando se ajeitar em curvas sinuosas.
Minha nossa!!! ... Mamma mia, como dizem os italianos!...pensei ...
Deveria estar na flor dos seus 20 e poucos anos. Morena clara, tom de canela, pouco mais de um metro e sessenta, cabelos desarrumados, cacheados, estendidos abaixo da linha do pescoço modiglianiano, grandes olhos castanho-escuros a me fixar.
O vestido barato, de fustão mole, deixava entrever sua exuberante e voluptuosa silhueta, enquanto o decote na linha dos botões mal pregados permitiam que seus seios roçassem o pano, apontando em minha direção com seus bicos entumecidos voltados de lado, um à esquerda e outro a direita, pontiagudos como agulhas prestes a furar o tecido.
Suspirei profunda e profusamente!
Enquanto a respiração me era ofegante, seu olhar maroto (um misto de recato e malícia) me transportou para fora da realidade. Não podia crer no que estava diante de mim...não poderia imaginar que daria de cara com tamanha volúpia, com tal expressiva sensualidade.
Enquanto meu amigo, cabeça baixa, procurava de todas as maneiras mexer seu café em nervosos movimentos, os lábios carnudos da morena eram um convite tentador. Antes de erguer seus ombros, percebi que procurava umedecê-los com um suave e discreto passar de ponta de língua ao redor da boca.
Ao dar de costas e retornar ao corredor, para em seguida desaparecer como a fugidia musa de Canova, seu vestido de talha curta, mais justo na cintura, me fez tremer dos pés à cabeça.
Seu corpo dançava por baixo, bamboleando encolunado sobre seus marmóreos e singelos pés. Sua cintura fina enaltecia a exuberância de seus flancos...seu soberbo traseiro me salutava em movimentos pélvicos acima e abaixo deixando transparecer, à causa de um finíssimo fio de oportuna luz que entrava pela janela, o translúcido de sua esplêndida silhueta, mostrando claramente que nada (ou muito pouco) usava como peça íntima.
A essa altura, seu cheiro de pura e morena mineirice, de suada e perfumada sensualidade, volúpia e imenso desejo, haviam tomado conta de todo ambiente. Antes de ultrapassar a cortina, uma meia parada como quem diz: " - Olha o que eu tenho prá você!". Nesse momento, com seu corpo já quase passado da linha que separava a sala do corredor, percebi a exuberância de suas esplêndidas nádegas que insistiam em se mostrar,
Não tinha a menor dúvida! Naquele momento eu havia, nitidamente, sido tomado de assalto por um descontrolado e louco desejo, tesão improviso a me torturar as entranhas.
A visão daquela estupenda mulher me havia feito, inclusive, esquecer a minha condição de marido feliz e realizado no matrimônio. Minha boca estava cheia d'água ... chegava a ponto de imaginá-la estendida, lânguida sobre seu leito naquela manhã, cheiro de café novo passado de pouco, o sol entrando pela janela.....Nada para fazer a não ser deitar-me sobre seu ventre nu, pousando minha cabeça na sua linha de cintura, um pouco abaixo de seu umbigo, aspirando o doce mel que fluia de seu ventre...de passar minha boca, sedenta de desejo e frenética paixão, entre suas coxas, num vai-vém descendo até seus pés, metendo seus dedos, um a um, em minha boca a sorvê-los intensamente.
Eu estava literalmente possuído por um desejo incontrolável.
— Tá maluco??? ... Cézar me despertou de meu transe.
— Que???
— Tá maluco, porra??? Tá flertando com a mulher do homem???
— Ô merda!!! Você tem razão...nem me toquei, cacete!!!...mas você viu???...viu aquelas tetas???...cabem justinhas dentro de uma taça de champanhe, durinhas, com aqueles bicos pontudos, um para um lado e outro para o outro.
— Eu sei, merda!!! Eu também vi, cacete...mas vê se te controla, senão vai dar merda!!!
— Ok...ok!!! Mas vai me dizer que não ficou hipnotizado com aquela bunda!? (risos) ... Cazzo!!!...fazia tempo que não via uma bundinha tão redondinha, empinadinha, pouco quadril...perfeita. E aquela carinha de anjo...hummmm... Quem diria, hein!? Dá de 10 a zero nessa mulherada que vive se exibindo nas revistas.
Enquanto sussurrávamos sobre os dotes daquela escultura renascentista, Zé da Palha se fez em cena.
Com uma grande xícara entre os dedos, ainda sorvia seu café com estridentes goles enquanto passava os olhos na paisagem que se mostrava fora da janela. Por um momento me pareceu ter voltado um olhar de reprovação em nossa direção. Teria percebido a minha mancada?
Enquanto o Zé da Palha procurava se ajeitar entre a poltrona e a mesinha da ceia improvisada, meus pensamentos ainda se voltavam para aquela doce e exuberante fêmea. A essa altura nem a marreta, trabuco ou o que fosse, seriam capazes de desviar minha atenção. Teria eu sido vítima da minha imprudência? Teria caído como um pato na armadilha do Zé da Palha?...por um instante, pensei assim.
— Intão, moço!? Tá cum dinheru prá nóis fazê o negóciu ?
Aquelas palavras me despertaram do meu transe erótico, soando como um bongo ao pé do ouvido. Eu havia advertido Cézar a respeito. Voltei meu olhar de reprovação em sua direção, mas não teve jeito.
— Depende!!!
— Dipendi du que, moçu?
— Ora!!! Depende do que o senhor tem e de quanto quer pela coisa.
— Hummm, tá bão...vamu ao qui interessa!!! Eu tenhu mais di 60 kilu (traduzindo: 60 quilos) di prata prá vendê e já tô sabendu quantu vale. Nun sô homi di rodiar com cunverssa moli...queru 10 mil pur tudu.
— 10 mil???
— Issu mermu!!! Ninhum centavu prá mais e nem prá menus.
— Me desculpe, mas não tenho todo esse dinheiro aqui. Se o senhor quiser, podemos concluir o negócio na segunda-feira, pela manhã.
Olhei prá cara de Cézar com alívio...primeiro por não dizer quanto carregava e segundo com espanto...como quem indagasse: "- E o que faremos aqui até segunda feira ? "
Confesso que naquele instante a visão daquela bunda e tetas me tornaram em mente como um raio. Mesmo que eu não admitisse, meu subcosciente insistia que tudo estava conspirando a meu favor e que a possibilidade de possuir aquele monumento de mulher se tornava cada vez mais real.
— O que foi?
— Nada! Tudo bem! Se for para ficar até segunda, te faço companhia. Posso adiar meus compromissos para quarta-feira.
Minhas intenções, a esse ponto, eram mais que evidentes.
Nesse instante, percebi que o Zé da Palha estendia a mão em sinal de concordância.
— Prá mim basta a sua palavra, moço. Vosmicê parece um sujeitu homi.
E apertaram as mãos, fechando o negócio.
Nisso, o Zé da Palha se agachou e passou a mão na danada marreta que eu, a essa altura, já havia esquecido. Meu pesadelo havia retornado com força total. Seria o cara um desses maníacos que preferem fazer a coisa na base da marretada ?
Para o meu alívio, o homem passou por nós, caminhando em direção à porta. A forma com que segurava a marreta, pela ponta do cabo, na mão direita, era um claro sinal de que o sujeito sabia lidar com a ferramenta.
Com um gesto nos convidou a sair, sem dizer uma palavra, mas com a inequivocada atitude que nos induzia a acompanhá-lo.....Caminhamos na direção do barracão onde uma hora antes eu havia avistado aquele galo esquisito.
Enquanto caminhávamos, nossos passos induziram a ave - provavelmente despertando de seu sono - a se mostrar novamente à porta do barraco de pau-a-pique.
Imponente, seguro e desafiador, o galo se colocou bem entre nós e a entrada do barracão.
— Sai Paisanu...sai bicho danado !!!
"Paisano ???"...pensei enquanto o fitava como quem olha um rottweiler.
Já dentro do barraco, a voz do Zé da Palha se fez ouvir.
— Entra moçu !!! Num si avexe naum...podi passá !!! O Paisanu é tranquilu...só num podi é bulir com a subrinha da minha muié, a Verinha...aquela que serviu o café procês. O Paisanu tem ciúmes dela (risos).
Foi a primeira vez que o homem esboçou uma reação que me tranquilizou, o que me fez entender que, apesar de matuto, era suficientemente civilizado.
Blim blom !!! Sobrinha ??? Cacete !!! Os sinos anunciavam que aquele fim de semana seria inesquecível.
Nesse instante, Cézar e eu nos entreolhamos; ele com o seu natural olhar de reprovação e eu, a essa altura, com um cínico sorriso no canto da boca. Sabia que meu amigo estava preocupado com a minha condição de casado. Além do mais há anos conhecia minha mulher, por quem nutria respeito e admiração. Isso fazia dele uma espécie de "cão de guarda da fidelidade", e nem mesmo poderia censurá-lo por sua atitude. O problema é que a tentação em sair com aquela mulher me dizia que iria me arrepender pro resto da vida se não "pulasse a cerca", principalmente por entender que aquele mulherão estava dando vazão ao meu desejo.
Num gesto de força e determinação, Zé da Palha empunhou a marreta, enquanto pedia prá gente se afastar.
POW !!! ... A primeira pancada ecoou seca.
A segunda e a terceira fizeram uma inteira porção da parede de barro ruir como emboço de casarão antigo.
Aos poucos foram surgindo os saquinhos, todos meticulosamente dispostos em estreitas prateleiras de madeira postas horizontalmente ao interno das paredes de todo barraco.
Enquanto eu permanecia á boca aberta, percebi que os olhos de Cézar brilhavam ao constatar que os sacos de cor castanho escuro, de linho antigo, estavam ainda lacrados com o selo do Império. Isso significava que depois de saírem de suas respectivas Casas onde foram cunhadas, aquelas moedas de prata que tilintavam à medida que o Zé da Palha pegava os saquinhos, jamais tinham visto a luz do sol novamente.
— Por favor...por favor...cuidado com essa marreta !!! Cézar balbuciava como um garoto, enquanto seus olhos continuavam a faiscar, deslumbrados.
Sim !!! Era um verdadeiro tesouro. Exageros à parte, guardadas as devidas proporções, naquele instante tive uma vaga idéia do que possa haver experimentado Howard Carter ao derrubar a primeira parede que o separava da maravilhosa descoberta da tumba de Tutancâmon.
Um a um, os pousamos cuidadosamente sobre a terra...148 no total...148 saquinhos com moedas FDC do império, contendo no mínimo 25 moedas cada um, no caso dos 2.000 réis.
Mesmo portando os selos do Império, o Zé da Palha insistiu em abri-los para que nos certificássemos que tudo estava em ordem. Apesar da nossa negação, o homem nos persuadiu em concordar.
— Queru fazê tudu bem direitinhu, moçu ! Aqui nóis num ingana ninguém.
Quem diria ??? Um homem simples, da terra, pouca ou nenhuma instrução. Certamente faria mais pelo seu país do que os que hoje se encontram em Brasília..pensei.
Aos poucos, retornando à realidade, sentia que o êxtase, o nervosismo anterior, a ansiedade, aquele tesouro e aquela mulher me haviam transportando numa aventura como poucas...coisa digna de ficção.
Enquanto abríamos um ou dois saquinhos escolhidos aleatoriamente, percebi que o brilho que saía de dentro deles se destacava na penumbra ao interior do barraco. O tilintar das moedas que se ajeitavam entre nossos dedos, cortavam o natural silêncio de uma calma manhã interiorana das Minas Gerais.
— Vou deixar um adiantamento, um sinal, com o senhor e na segunda-feira pela manhã passo no banco e pego o restante do dinheiro. Não levo nada agora, fique tranquilo...pego tudo quando pagar a diferença.
— Tranquilu moçu. Saum todinhas suas...num pricisa di sinal naum uai...num pricisa naum sinhô...si vê que vosmicê é homi di palavra.
Daí a poucos minutos nos despedíamos do Zé da Palha, com o compromisso de retornar na segunda pela manhã.
- x - x - x -
Enquanto Cézar dava partida no motor, a morena veio ter na porta da casa. Recostada no batente, pano de prato entre as mãos, ergueu marotamente seu pé, apoiando-o sobre o joelho direito e deixando suas coxas à mostra. Nossos olhares deixavam claro que meus planos se colocavam num tempo anterior àquela segunda feira. Mas essa é uma outra história que pode ter acontecido, devido àquela atmosfera de pura sensualidade...ou não, fruto da minha consciência que me conduzia aos braços de minha doce e amada mulher.
Epílogo:
Eram todas realmente FDC, excepcionais. Entre elas, muitas datas raras, a exemplo do 2.000 réis cabeça data 1886...um saquinho com 25 delas, todas MS65, dessas preciosidades cunhadas num total de apenas 1190 peças (ver figura ao final).
Um exemplar do que havia dentro dos saquinhos nos foi ofertado pelo Zé da Palha. Comodamente sentados num bar da cidade nos preparávamos para celebrar nosso sucesso.
BOC !!! Doce e suave cerveja preta da região. Gelada, encorpada e tremendamente saborosa, descia redonda pelas nossas gargantas.
Enquanto pensava na voluptuosa morena uma parte de mim viajava perdendo-se num Brasil esquecido. Com o copo em uma das mãos e aquela moeda entre os dedos da outra, admirava a inigualável capacidade de expressão artística dos habilidosos artesãos que deixaram impressos, em indelével estampa em metal, não só a sua arte, mas também o orgulho de serem protagonistas da história de um país e de um Reino que por tantos anos dominou os mares, na condição de nação rica, culta e soberana entre as cortes da Europa medieval e pós-medieval.
Naquele instante eu ía ao encontro de um Brasil distante e de um Portugal magnânimo, com seus conquistadores de além-mar. Me deixava levar em busca das nossas raízes; de um passado repleto de glórias, de tantos feitos e de grandes personagens; heróis, conquistadores, aventureiros, bárbaros, mercenários; de guerras, revoluções e batalhas; enfim, a terra de tantos homens; de patriotas, reis e imperadores que, a exemplo de D. Pedro II, tanto amaram esse país. Um desejo ardente tomou conta de mim ... a natural esperança de que num futuro não muito distante, essa terra retorne aos seus tempos imemoriais.
FIM
A seguir, a foto da moeda que mantinha entre os dedos, naquela manhã fresca e ensolarada, no bar daquela cidade do interior das Minas Gerais. Faz parte do nosso acervo a ali deverá permanecer, lembrança de um final de semana inesquecível.
Nota: CAUSO é um regionalismo. uma expressão popular, muito usada no interior do Brasil, principalmente na região das Minas Gerais, referindo-se às histórias populares, geralmente aquelas que por serem recheadas de situações "rocambolescas", chegam a cair em descrédito de alguns. Logicamente existem "causos" de situações inventadas, mas é fato que muitos são verídicos.
Pois bem ! Resolvi dar este nome às histórias numismáticas que conhecemos, algumas delas vivenciadas por nós em nossas andanças pelos rincões do Brasil, atrás de pistas que nos pudessem levar a algum achado. Situações como a que certa vez nos deparamos com um ourives do interior do Mato grosso que havia derretido 5 barras de ouro da Colônia e ainda veio nos mostrar, com orgulho, o lingote resultado da fusão...ou a história verídica dos caçadores de tatu que ao meterem a mão na toca do bicho, encontraram sacos de pano da época do Império, cheios de moedas de 960 réis (mais de 1000), quase todas sem circulação.
Pois então! Hoje começamos com o nosso primeiro causo numismático, dividido em 3 capítulos. Uma história que mesmo sabendo que alguns irão duvidar, garanto que é a mais pura verdade.