Intermezzo Numismático

Um período obscuro para a numismática brasileira. Até 1530 a intervenção de Portugal resumiu-se ao envio de algumas esquadras para verificação da costa. Entre confrontos ligeiros e escaramuças com embarcações de outros países que exploravam a costa brasileira, à exceção do Tratado de Tordesilhas, poucos e notáveis eventos são dignos de observação durante esse período. 
Desde o descobrimento, passando pelas expedições exploradoras, guarda-costas e colonizadoras enviadas por D. Manuel e D. João III, a verdadeira “história numismática do Brasil” tem início apenas com D. Sebastião I e sua Provisão de 3 de Março de 1568 que incluiu o Brasil como território para circulação de uma série de moedas de cobre como já vimos anteriormente.

Desde então, e até o governo de D. João IV, à exceção da criação da primeira Casa de Fundição em São Paulo, natural consequência do achado de alguns veios de ouro na Região, a numária brasileira não experimentou mudanças ou acontecimentos dignos de nota.


D. Henrique I, o Casto - 1578 a 1580

Filho de D. Manuel I e da Rainha D. Maria, nasceu este príncipe em Lisboa, em 31 de Janeiro de 1512. Destinado à vida eclesiástica, estabeleceu, em 1539, em Portugal, o Tribunal da Santa Inquisição, de que foi feito inquisidor-geral. Por diversas vezes regente do reino, recebeu a notícia, na sua abadia de Alcobaça, do desastre do norte da África, partindo imediatamente para Lisboa a fim de formar uma junta governativa, até que fosse confirmada a morte do sobrinho D. Sebastião. 
Já velho, supersticioso, sem amor pelas artes, austero e devoto a ponto de se tornar um fanático, foi aclamado rei em 28 de agosto de 1578. Seu curto reinado foi um período confuso e atroz para o país, agitado pelas intrigas dos pretendentes à sucessão.
Para se designar o herdeiro da Coroa, foram realizadas em 11 de janeiro de 1580 as cortes de Almeirim onde D. Henrique usou de toda sua influência para que a escolha recaísse sobre D. Filipe II de Espanha, não logrando seu intento pois o voto não foi aceito como era esperado. Em 30 de janeiro de 1580, já sem forças, após entregar seu reino aos governadores, veio a falecer, sendo seu corpo trasladado de Almeirim para a Igreja de Bélem, onde se encontra.


Governadores do Reino - 1580

Por morte do Cardeal-Rei Henrique I de Portugal, em 31 de Janeiro de 1580, estando ainda a funcionar as Cortes de Almeirim para debater o complicado problema da sucessão da coroa de Portugal, tomou posse um Conselho de Governadores do Reino, nomeado pelo Cardeal (o qual, sentindo a morte iminente, e vendo-se incapaz de escolher um novo rei entre os vários pretendentes, não queria deixar o reino na anarquia) a fim de exercer interinamente o governo do reino, até que se decidisse sobre quem tinha legitimidade para governar.

Os cinco governadores, eleitos nas cortes de Lisboa de 1579, foram confirmados no testamento de D. Henrique e assumiram o poder. Eram eles D. Jorge de Almeida arcebispo de Lisboa, D. Francisco de Sá e Meneses camareiro-mor do falecido monarca, D. João de Mascarenhas, João Teles de Meneses senhor de Aveiras e Diogo Lopes de Souza senhor de Miranda. O Conselho exerceu os normais atos de soberania enquanto no desempenho de suas funções – destacando-se, pela sua importância, a cunhagem de moeda própria.

Exercia a presidência do Conselho o arcebispo de Lisboa, hábil cortesão que se manteve firme, numa postura de expectativa. D. João Teles de Meneses, de notória probidade, inexperiente e de acanhada inteligência, dentre os membros do conselho o único contrário a Filipe II de Espanha, se prestou aos joguetes políticos dos colegas, reconhecidos parceiros de Castela. O grupo não contava com o apoio e confiança popular que cada vez mais engrossava o partido de D. Antônio, o único, entre os pretendentes ao trono, capaz de sacrificar-se pela independência portuguesa. 

Tendo as Cortes sido dissolvidas pouco depois, sem deliberarem a respeito da sucessão, acabaram os Governadores do Reino – comprados pelas dobras castelhanas oferecidas por Cristóvão de Moura – por decidir ser Filipe II de Espanha o legítimo herdeiro do trono de Portugal e Algarves e seus senhorios ultramarinos, nomeando-o, em 17 de julho de 1580,rei hereditário de Portugal.

Em virtude desta tomada de decisão, o povo de Santarém viria a rebelar-se e a aclamar como rei de Portugal o Prior do Crato, D. António, em 24 de Julho de 1580. Poucos dias mais tarde entrava em Lisboa triunfalmente, onde foi recebido com idêntico entusiasmo, o que levou os Governadores a fugirem com receio para Setúbal, e daí rumo a Ayamonte, de onde emitiram sentença condenatória contra D. Antônio, declarando sucessor legítimo da Coroa o rei de Espanha Filipe II, e dando-lhe assim um pretexto para invadir militarmente o reino, tendo em vista apossar-se daquilo que, agora, lhe pertencia de direito.


D. Antônio I, o Prior do Crato - 1580 a 1583

Nasceu este príncipe em Lisboa, no ano de 1531, filho do infante D. Luis e de Violante Gomes, e neto de D. Manuel I. Diz-se que sua vida aventureira foi tão repleta de fatos extraordinários que chegou a chamar a atenção de toda a Europa.
Designado Prior do Crato, deixou o reino por desavenças com seu tio, o cardeal D. Henrique. Retornou a Portugal e partiu para Tânger na condição de governador nomeado por D. Sebastião, sendo demitido do cargo pouco tempo depois.
Na batalha de Alcácer-Kibir foi feito prisioneiro, sendo libertado mediante o pagamento de um resgate efetuado por um amigo judeu. De regresso à pátria, sua reivindicação aos direitos sobre o trono terminou por gerar novos conflitos com o Cardeal que o desterrou da corte. Para desagrado dos agentes de Madrid, D. Antônio acusava publicamente os governadores do reino de estarem ligados ao monarca espanhol, Filipe II que mantinha suas tropas em Badajoz prontas para invadir Portugal. Em 18 de junho de 1580, a população de Setúbal aclama D. Antônio como rei de Portugal, seguida por Santarém e Lisboa. No dia 28 do mesmo mês e ano, as tropas espanhola invadem o país.
D. Antônio, após anos de luta, ostentando sempre a altivez, sofrendo com resignação e coragem as maiores privações, sucumbiu ao poder do ouro e das traições, vindo a falecer em Rueil, perto de Paris, a 26 de agosto de 1595, com 64 anos de idade.

Bateu moeda em Portugal, mandada destruir em 4 de fevereiro de 1581 por ordem do soberano espanhol, incluindo as contramarcadas com a figura do açor. Já no exílio, cunhou numerário na Holanda, na Casa da moeda de Gorichem.


D. Filipe I, o Prudente - 1580 a 1598

Filho de Carlos I e de Isabel de Portugal, Filipe I nasceu em Valladolid, em 21 de março de 1527. É recordado pela história pelos seus crimes bárbaros, pelo seu fanatismo, hipocrisia e o orgulho que carregava com relação às atrocidades que cometia e considerava como missão sagrada e real. 
Julgava-se uma espécie de inquisidor, praticando crimes que justificava como ações em nome da igreja. De caráter sombrio e vingativo, fazendo uso da intriga e corrupção, impôs-se ao trono português como legítimo sucessor da coroa, em 17 de julho de 1580. Teve seu orgulho profundamente ferido quando, desafiando a Inglaterra, perdeu sua poderosa Armada Invencível colhida por um temporal que a destroçou. Aproveitando-se da situação, o almirante inglês Drake colocou a pique o pouco que restou da frota espanhola. Esse episódio marcou início a decadência da coroa espanhola na Europa. Filipe I csasou quatro veses, tendo falecido em 14 de setembro de 1598 no Escorial.
Sob o ponto de vista numismático, as cunhagens desse soberano só interessam a Portugal.


D. Filipe II, o Pio - 1598 a 1621

Filipe II nasceu em Madrid a 14/4/1578. Durante o seu reinado, esse rei considerado apático, de saúde debilitada, parca inteligência e indolente, não possuía a energia necessária a administrar o reino deixado por seu pai, agravando ainda mais a situação de Portugal. 
As possessões portuguesas, atacadas por holandeses e ingleses, entregues aos seus escassos recursos, perderam toda sua importância comercial.
Durante o seu reinado, o governo ficou entregue aos ambiciosos e favorecidos, a maioria conspirando para fazer do inteiro país uma província espanhola.
Filipe II visitou Portugal entre 10 de maio e 24 de outubro de 1619, obrigando o já sacrificado povo a pagar por todas as despesas e excessos cometidos nessa viagem, numa derrama de mais de 500 mil cruzados, sem que desta visita os portugueses tivessem usufruido de qulquer benefício. Chegou-se mesmo a cogitar que a capital da Espanha fosse transferida a Lisboa, a chamada “Felicitas Philippi”, projeto que não foi avante devido ao falecimento de Filipe II, em 31 de março de 1621.


D. Filipe III, o Grande - 1621 a 1640

D. Filipe III nasceu em Valladoli a 8/4/1605, subindo ao trono em 31 de março de 1621. De escassa capacidade administrativa, deixou seu governo entregue ao conde de Olivares, figura controversa que agravou ainda mais a situação do país, criando uma carga de novos impostos.
Em fins de 1634, foi nomeada vice-rainha de Portugal, a duquesa de Mântua e Miguel Vasconcelos foi promovido a secretário de Estado, em Lisboa, um homem sem escrúpulos e de péssimo instinto, odiado pela população. A miséria chegou a tal ponto que tiveram início os tumultos como o de Évora que, em 1637, chegou a uma quase revolução.

Desde fins de 1639 alguns nobres portugueses projetaram uma sublevação, tentando aliciar o duque de Bragança que não se pronunciava a respeito. O momento era propício já que a Espanha se encontrava em dificuldades; a sua esquadra havia sido derrotada pelos holandeses no canal da Inglaterra; em Flandres e na Itália os seus generais foram obrigdos a render-se aos inimigos; na Catalunha vivia-se uma revolta desde junho de 1640.

Em reunião a 25 de novembro de 1640 foi marcado o dia da sublevção (primeiro de dezembro), dia em que decidiram pelo assassinato de Miguel de Vasconcelos. A revolução triunfava na capital, e ao cair da tarde diversos emissários corriam a comunicar a boa nova ao duque, que se encontrava em Vila Viçosa. Terminava assim o jugo espanhol que havia durado por 60 anos.